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'Teatro humano'

7 de maio de 2009

O diretor – único a participar com duas peças do festival Theatertreffen – se concentra exclusivamente no ator e seu corpo. Entre situações extremas e cenas de cortar o coração.

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Cena de 'A gaivota', com o Deutsches TheaterFoto: Matthias Horn

De 1º a 18 de maio de 2009 transcorre em Berlim o festival Theatertreffen, com uma seleção do que produzem os grandes teatros dos países de língua alemã. O diretor premiado este ano foi Jürgen Gosch, nascido em 1943 em Cottbus. Único a ter sido convidado com duas produções para o 46º Theatertreffen, ele é elogiado por astros dos palcos alemães, como Ulrich Mattes e Corinna Harfouch.

Sem meios de apoio

O espaço é quase vazio, todos os atores estão permanentemente presentes em cena. Quando não estão representando, observam seus colegas. Típico de uma montagem de Jürgen Gosch.

Die Möwe Der Abdruck ist honorarpflichtig. Nur für Vorankündigungen/ Programmhinweise ist der Abdruck honorarfrei.
Corinna Harfouch (c) e Alexander Khuon em 'A gaivota'Foto: Matthias Horn

Ele não utiliza os meios de apoio tão apreciados por tantos diretores, nada de vídeo, nem mesmo música de cena. O que lhe interessa é a atuação pura, o estudo dos abismos da alma apenas através dos recursos corporais dos intérpretes.

Gosch sempre leva seu elenco a extremos. Por vezes, como no Macbeth de Düsseldorf, o resultado são imagens crassas. Todos os papéis eram representados por homens, quase sempre nus.

As feiticeiras acocoradas, por exemplo, derramavam atrás de si baldes de creme de chocolate e "ejaculavam" jorros de água mineral. Embora tudo ocorresse abertamente e as garrafas d'água estivessem à vista, o efeito da cena era violento. Porque os atores provocavam a ilusão, com seu modo de atuar sem concessões.

Cenas de cortar o coração

Entretanto a meta de Jürgen Gosch não é, jamais, o efeito superficial, mas sim o núcleo de uma peça ou cena. Suas montagens são criadas inteiramente durante os ensaios. O diretor não vem preparado com nenhuma interpretação da obra, nenhuma concepção elaborada. Ele afirma não ter ideias. Pelo menos espera não tê-las. Seu interesse é pela vida como ela é, em toda sua complexidade e contradição.

Com isso, cria repetidamente cenas de cortar o coração. Por exemplo, em A gaivota de Anton Tchekhov, com o Deutsches Theater de Berlim, convidada para o Theatertreffen.

Aqui Corinna Harfouch, na pele da exacerbada atriz Irina Arkadina, luta com todos os meios pelo amante que quer deixá-la. Ela grita, sussurra, ameaça, seduz, cai de joelhos. Até haver conseguido o quer dele. O espectador relaxa, pensando haver passado o clímax da cena.

Mas aí seu amante, Trigorin, representado por Alexander Khuon, reconhece quão manipulável é. Nesse momento fica-lhe claro como é lamentável sua existência. E que ele não passa de um ser humano miserável.

A nudez e o câncer

Nas mãos de Jürgen Gosch, os atores têm coragem de dar tudo, atuar sem mecanismos de segurança, ficar nus, tanto no sentido físico como psíquico. Ao lado de William Shakespeare e de Tchekhov, o diretor encena com frequência peças de Roland Schimmelpfennig.

Nos textos poéticos desse dramaturgo contemporâneo, calcados na realidade, mas ao mesmo tempo estilizados, Gosch encontra alimento ideal para seu teatro humano – explosivo, mas ao mesmo tempo, terno.

Jürgen Gosch
Jürgen GoschFoto: Iko Freese

Jürgen Gosch jamais falou publicamente de seu câncer, ao contrário de Christoph Schlingensief o qual, livremente baseado em Joseph Beuys, mostra suas chagas, para que elas sarem.

Esse não é o jeito do taciturno, reservado Gosch. Ele não se acha tão importante assim. Porém em algumas montagens ocultam muita coisa pessoal. Poucas vezes isso vem tanto à luz quanto no Idomeneus de Schimmelpefennig, no fim da qual o ator Khuon diz: "Sou apegado à vida". Ele repete a frase com lágrimas nos olhos. E todos sabem que, através do dramaturgo e do diretor, quem fala é Jürgen Gosch.

Autor: Stefan Keim
Revisão: Simone Lopes