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Stuttgart 21, um fiasco dos transportes alemães

13 de dezembro de 2017

Assim como aeroporto de Berlim, nova estação ferroviária de Stuttgart vira piada nacional. Com atrasos e má gestão, obra se arrasta há mais de duas décadas e viu estimativa de custos explodirem nesse período.

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Canteiro de obras do Stuttgart 21 não fechará antes de 2024
Canteiro de obras do Stuttgart 21 não fechará antes de 2024Foto: picture-alliance/dpa/M. Murat

Ao ouvir falar de um grande núcleo de transportes na Alemanha cuja construção custa demasiado e nunca acaba, muitos logo pensarão no aeroporto Berlim-Brandemburgo (BER). Após diversas revelações de mau planejamento e má gestão, sua inauguração não deverá acontecer antes do segundo semestre de 2019, e o projeto tornou-se um escoadouro de verbas públicas e alvo de piadas nacional.

Só que os berlinenses não estão sozinhos: desde 1994 a abastada cidade de Stuttgart, no sul do país, está ás voltas com a reforma de seu sistema ferroviário, com o megaprojeto intitulado Stuttgart 21 (em referência ao século atual). Quando a construção começou de fato, em 2010, os custos eram calculados em 4,1 bilhões de euros. Dois anos depois, a estimativa chegou a 6,3 bilhões de euros.

No início de dezembro, porém, essa cifra foi igualmente jogada para fora do vagão: uma avaliação financeira da consultora PwC, vazada para a agência de notícias alemã DPA, orçou as obras em 7,6 bilhões de euros, além de adiar em um ano a data de conclusão, para 2024.

Ambição desmedida?

As razões para o aumento dos custos incluem atrasos de planejamento, acréscimo inesperado dos custos de construção e regulamentações ambientais visando proteger a biodiversidade da região. Nesta quarta-feira (13/12), a atual estimativa não publicada foi tema de uma reunião da diretoria da Deutsche Bahn (DB), a operadora das ferrovias alemãs.

Uma olhada no canteiro de obras na estação central da capital do estado de Baden-Württemberg e na concepção total do projeto deixa claro o grau de ambição do Stuttgart 21.

 

Seu cerne é a transformação do terminal ferroviário numa estação subterrânea que permitirá a passagem dos trens. Isso envolve, entre outras medidas, o posicionamento de um edifício de sete andares, pesando 15 mil toneladas, sobre alicerces totalmente novos, feitos com 40 pilares de vários metros de altura – só para se cavar um túnel.

Além disso, é necessária a construção tanto de três estações menores como de uma nova linha ferroviária, ligando a estação central ao aeroporto de Stuttgart e à cidade de Ulm, situada cerca de 75 quilômetros a sudoeste. O projeto exige, ainda, a criação de 60 quilômetros de túneis através das montanhas da região circundante.

Repercussões políticas

De certa maneira, os atrasos e o orçamento inflacionado não são surpresa. Afinal, nunca se tentou antes na Alemanha reformar toda uma estação de trens e enterrá-la sob uma cidade em pleno funcionamento.

Mesmo assim, os problemas atuais e por vir ainda poderão ter consequências políticas. É bem provável que o presidente da Deutsche Bahn (e ex-chefe do gabinete da chanceler federal Angela Merkel), Ronald Pofalla, venha a demitir o diretor de projeto do Stuttgart 21, Manfred Leger, há quatro anos responsável pelas obras.

Para alguns analistas, contudo, o problema são os próprios políticos. Alexander Eisenkopf, professor de economia e política de transportes da Universidade Zeppelin, em Friedrichshafen, criticou o Stuttgart 21 como "projeto político", em primeira linha. "Na diretoria da Deutsche Bahn, você tem Ronald Pofalla, um ex-político, e no conselho fiscal, tem ministros de Estado. É um arranjo controverso."

Se a DB fosse uma companhia privada, há muito já teria suspendido o Stuttgart 21, argumenta Eisenkopf. No entanto, a construção continua, pois no fim o contribuinte é que acabará pagando a conta. "O Stuttgart 21 é o exemplo perfeito dos riscos e erros de um megaprojeto influenciado pela política", acusa.

Falta de transparência de um "poço sem fundo"

Outros críticos têm levantado objeções de outros tipos. O grupo de campanha VCD, sediado em Berlim e especializado em transportes sustentáveis, exige que tanto o governo alemão como a DB investiguem os atrasos, a fim de assegurar que o acréscimo dos custos não signifique cortes na manutenção de infraestrutura vital em outras partes da Alemanha.

"Desde o início, o Stuttgart 21 era um projeto absolutamente questionável", aponta no site do grupo Philipp Kosok, especialista ferroviário da VCD. "Caro demais e sem utilidade substancial. Agora as novas obras se revelaram um poço sem fundo."

Por sua vez, o político verde e ex-alto funcionário da Secretaria de Transportes do estado de Baden-Württemberg, Hartmut Bäumer, condenou recentemente a falta de transparência do governo em relação ao Stuttgart 21, tachando-a de "tática de silêncio e minimização dos fatos e dos riscos".

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