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Sottsass: design é dar vida às formas

Neusa Soliz15 de janeiro de 2003

Paralelamente à feira internacional de móveis IMM Cologne, o Museu de Arte Aplicada da cidade exibe, pela primeira vez na Alemanha, uma mostra inteiramente dedicada às obras do arquiteto e designer Ettore Sottsass.

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Casa projetada por Sottsass em Maui, no HavaíFoto: Grey Crawford

"As coisas que eu criei na minha vida são apenas uma forma de falar comigo mesmo ou com os outros, a fim de se comunicar e assim saber que se existe". A arte como comunicação e afirmação da existência. A frase do artista que marcou o design italiano no século 20 está pintada logo na porta de vidro do Museum für Angewandte Kunst, situado bem no centro de Colônia, ao lado de um dos prédios da emissora de rádio e tevê WDR.

Uma equipe da WDR filma a parte dedicada aos esboços e projetos de arquitetura, no andar de baixo, enquanto uma classe inteira de um ginásio invade o museu com seu vozerio alegre, o que bem combina com os móveis coloridos e até divertidos, de tão originais, expostos na primeira sala da exposição.

Lâmpadas e móveis iluminados

Logo à entrada, uma cama sui generis de fibra de vidro cinza, com uma colcha de pele sintética e cabeceira iluminada arranca os primeiros sinais de admiração do visitante. A mobília do quarto é complementada por um espelho de corpo inteiro em formas onduladas, com molduras igualmente iluminadas.

Nem sempre a iluminação é parte integrante do móvel, como neste caso. Muitas vezes, tubos de néon ou lâmpadas não passam de detalhes curiosos de uma peça, completamente deslocados de sua função habitual. Na Vitrinetta Di Famiglia, um móvel alto de cozinha, pergunta-se o que estão fazendo três lâmpadas coloridas de néon. As duas laterais estão ali como braços inúteis, o que confere ao armário a aparência de um robô dos anos 50.

O móvel de fórmica, porém, é de 1979, três anos, portanto, após a fundação do Estúdio Alchimia, em Milão, juntamente com Alessandro Mendini, Andrea Banzi, Michele De Lucchi e outros designers. A cama a que nos referimos é anterior e foi fabricada pela Poltranova, uma pequena firma de móveis na Toscana, que só se tornou mundialmente conhecida pela ousadia de produzir os "móveis cinzentos" de Ettore Sottsass. Foi nos revolucionários anos 60 que ela usou fibra de vidro pela primeira vez, se bem que a cama Elledue não chegasse a ser produzida em série, como foi o caso do espelho.

Na vanguarda da arquitetura

Os esboços de objetos do genial designer nascido em Innsbruck (Áustria) em 1917, incluem de tudo um pouco: desde xícaras de espresso e garrafas térmicas a lâmpadas e tapetes. Numa sala à parte, encontram-se plantas, desenhos, maquetes e fotografias dos projetos arquitetônicos.

Se nos móveis o elemento lúdico das formas e do colorido está quase sempre presente, principalmente nos trabalhos dos anos 80, realizados pelo novo Estúdio Memphis de Sottsass, isso nem sempre transparece na arquitetura, onde muitas construções são de uma beleza clássica, se é possível usar o adjetivo para designar obras contemporâneas de vanguarda.

Outra não é a impressão ao se ver as fotos da Central Court de Kuala Lumpur, na Malásia, um "centro multifuncional" construído em 1992. Em cores claras - bege e rosa - a inspiração asiática passou notoriamente pelo filtro da modernidade do arquiteto que estudou em Turim e trabalhou em muitos projetos de reconstrução de cidades na Itália do pós-guerra.

Bauhaus versus inspiração mediterrânea

No entanto, muitas casas que construiu se parecem a casas de brinquedo, com seus telhados triangulares vermelhos e cores fortes como verde e ocre na fachada. Linhas claras e muita fantasia não são antagônicas e sua obra o demonstra. Se bem as formas geométricas não neguem a influência do Bauhaus, nada tem em comum com o seu credo de form follows function: sua leveza contrasta com o purismo cúbico do Bauhaus. O que não significa que as casas deixem de ser funcionais.

Sua inspiração é a paisagem do Mediterrâneo, onde as casas têm a ver com "o corpo, o clima", confessa o designer italiano no portrait-documentário de Heinz Bütler, que os visitantes podem assistir numa sala especial. "Design tem que ver com a vida e não com forma, perfeição", professa, explicando com um lápis na mão como surgem as formas em torno de eixos e a partir do "desejo de preencher o tempo com vida".

Sottsass Associati é o escritório de design que fundou em 1981 em Milão. Reconhecido e premiado em todo o mundo em mais de 50 anos de atividades, Ettore Sottsass sempre se destacou por pesquisar, com sua equipe, as mais diversas culturas, por uma sensibilidade especial para experimentar com materiais. Uma pequena mostra dessa internacionalidade observa-se nos projetos arquitetônicos da mostra, que incluem lugares como Havaí, Colorado (EUA), Cingapura, Lanaken (Bélgica), Fukuoka (Japão) ou até Moscou, onde o escritório projetou uma fábrica nos anos 90.

A Olivetti vermelha

Algumas peças de sua autoria fazem parte do patrimônio do museu de Colônia. Elas estão expostas na seção dedicada ao design, onde se encontram desde jóias, computadores e objetos de uso doméstico, até um Karmann Ghia dos mais conservados. A estante de mais de dez cores e prateleiras oblíquas, que exigiria uma certa arte para colocar livros, por exemplo, é um dos objetos do designer italiano.

Um outro marcou época e correu mundo, badalado principalmente por escritores, jornalistas e intelectuais: a célebre Valentine, uma máquina de escrever portátil e vermelha, que desenhou para a Olivetti, no tempo em que chefiava a equipe de design industrial do fabricante italiano.