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Sob pressão, Dilma enfrenta novos protestos

Fernando Caulyt11 de março de 2016

Organizadores acreditam que ações recentes da Justiça, implicando Lula diretamente em escândalos de corrupção, têm potencial para alavancar manifestações contra o governo, que perderam força ao longo do ano passado.

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Foto: picture-alliance/dpa/A. Lacerda

As recentes ações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que incluem um pedido de prisão preventiva por parte do Ministério Público de São Paulo e a condução coercitiva seguida de interrogatório na Operação Lava Jato, acirraram o clima de tensão política no país e podem ter reflexos sobre os protestos contra o governo da presidente Dilma Rousseff, marcados para este domingo (13/03).

Tanto o Movimento Brasil Livre (MBL) como o Vem pra Rua, os dois principais organizadores das manifestações contra Dilma, disseram esperar, para este domingo, o maior protestos de todos até agora.

Analistas políticos ouvidos pela DW Brasil não são, porém, unânimes sobre o efeito das recentes ações envolvendo Lula sobre os protestos. Alguns dizem que essas ações vão estimular mais pessoas a ir para as ruas. Outros afirmam que uma sensação de que a Justiça está funcionando pode, ao contrário, diminuir o ímpeto de pessoas insatisfeitas com o governo.

As mobilizações populares a favor do impeachment de Dilma perderam força ao longo do ano passado. No primeiro grande ato nas ruas, em 15 de março do ano passado, o Instituto Datafolha contabilizou 210 mil pessoas presentes na região da Avenida Paulista, em São Paulo. Já na seguinte, em 12 de abril, o número caiu para 100 mil e, em 16 de agosto, subiu para cerca de 135 mil.

No último protesto, em 13 de dezembro, alguns dias depois de o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, autorizar o pedido de abertura do processo de impeachment de Dilma e da prisão inédita do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), a Polícia Militar estimou a participação de cerca de 30 mil pessoas e, o Datafolha, de 40 mil.

Adesão maior ou menor?

Para o especialista Paulo Sotero, diretor do Instituto Brasil do Wilson Center, em Washington, existe a impressão de que os recentes acontecimentos possam levar a uma "explosão" nas ruas. Ele prevê, porém, que a adesão será menor do que em protestos anteriores. "Um fator que joga contra as manifestações é o perigo de confrontos", afirma.

Para o professor de política Humberto Dantas, do Insper, o entendimento que algumas pessoas têm de que a Justiça está funcionando de forma eficiente poderá repelir a presença dos manifestantes. "Se o objetivo era protestar contra a impunidade, pode ser que uma parte da população não veja mais motivo para sair de casa", frisa.

Por outro lado, o cientista político David Fleischer, da Universidade Nacional de Brasília (UnB), diz que recentes acontecimentos da Operação Lava Jato podem fazer com que os protestos deste domingo sejam bem maiores. "Há muitas delações premiadas acontecendo, e elas darão gás para os atos. Tem muita coisa 'pipocando'", avalia.

Apesar da queda do número de manifestantes nos últimos atos, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo estima que os protestos deverão reunir cerca de 1 milhão de pessoas na Avenida Paulista. Com a expectativa de que apoiadores do governo protestem contra o impeachment da presidente, o esquema de segurança na capital paulista foi planejado com base no ato de março de 2015.

Naquele mês, a Polícia Militar estimou em 1 milhão o número de manifestantes na Avenida Paulista, cifra amplamente constestada após o protesto e cinco vezes maior que a divulgada pelo Instituto Datafolha.

Brasilien São Paulo, Proteste Anti Dilma Rousseff
Em São Paulo, PM usará o mesmo esquema de segurança do protesto de março de 2015Foto: Agência brasil/Marcelo Camargo

Onda de radicalização nas redes sociais

A condução coercitiva de Lula na Operação Lava Jato e a denúncia à Justiça e o pedido de prisão do ex-presidente pelo MP-SP acirraram ainda mais o clima de tensão política no país. A ação do Ministério Público Federal, na sexta-feira passada, provocou manifestações espontâneas de pessoas contra e a favor do governo, com confrontos em frente à residência do presidente, em São Bernardo do Campo, e nas proximidades do local onde o ex-presidente realizou seu depoimento.

Para o cientista político Leonardo Avritzer, da Universidade Federal de Minas Gerais, as reações de alguns setores da sociedade contra a condução coercitiva de Lula foram muito fortes, e a Operação Lava Jato acabou por acentuar a divisão do país. "A Lava Jato passou da forte unanimidade entre a opinião pública para uma operação em que há fortes dúvidas de que ela não tenha elementos partidários e politizados", explica.

Ele afirma, ainda, que o país está vivendo uma forte onda de radicalização, que se manifesta principalmente nas redes sociais, mas que pode se estender para as ruas. "E isso seria muito ruim para a democracia brasileira", opina.

Para evitar possíveis confrontos entre grupos pró e contra o impedimento de Dilma, os manifestantes a favor da presidente não poderão protestar na região da Avenida Paulista, já que os grupos pró-impeachment fizeram a solicitação para realizar o ato há mais de dois meses. Já Dilma apelou a movimentos sociais para que cancelem atos marcados para o domingo em cidades onde já existem manifestações agendadas a fim de evitar violência e confrontos.