1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Ser alemão vai além da cor da pele

Bettina Kolb (lpf)3 de agosto de 2015

Projeto multimídia 'Schwarz Rot Gold' reúne perfis de alemães negros com o objetivo de combater o racismo no país. "O problema não é apenas o radicalismo de direita, mas também a sociedade que o tolera", diz cineasta.

https://p.dw.com/p/1G93j
Retrato da aposentada Marie NejarFoto: Jermaine Raffington

Marie Nejar é uma elegante e dinâmica senhora de 85 anos. Ela fala alemão com sotaque de Hamburgo e veste um vestido preto com gola de renda branca. É uma típica avó alemã – e é negra. "Sou uma alemã típica, fui criada de maneira prussiana pela minha querida avó", diz. Nejar é um dos dez afro-alemães que o jornalista Jermain Raffington e sua esposa, a psicóloga Laurel Raffington, entrevistaram para o projeto Schwarz Rot Gold (Preto, Vermelho e Dourado, em alusão às cores da bandeira alemã).

A avó de Nejar vinha de uma família burguesa e se apaixonou por um martinicano, e o pai de Nejar era de Gana. Ela cresceu no bairro de St. Pauli, em Hamburgo, e sobreviveu ao nazismo, também graças ao esforço de muitos alemães que aceitaram e protegeram Nejar. Em filmes de propaganda nazista, ela desempenhou o papel de comparsas exóticos. Depois da guerra, trabalhou como enfermeira.

Já Theodor Wonja Michael, nascido em 1925, filho de uma alemã e de um africano de Camarões, antiga colônia germânica, sabe bem como é ter a origem sempre questionada devido à cor da pele. "Sou negro. Mas o que está por baixo desta pele?", pergunta. Quando criança, ele já era vítima de racismo. Depois que a mãe morreu, durante a República de Weimar, teve que participar dos chamados Völkerschauen (zoológicos humanos). Mais tarde, trabalhou como ator, jornalista e para o Departamento Federal de Informações da Alemanha (BND).

Identidade e cor da pele

De maneira inteligente e sensível, os perfis de Schwarz Rot Gold retratam o racismo do passado. Mas ainda hoje muitos no país têm dificuldade em aceitar que a identidade alemã não é definida apenas pela cor da pele. "Você não é diferente, você só é visto de maneira diferente", diz Michael em seu vídeo de 15 minutos.

Schwarz Rot Gold
Mushatsi-Kareba: "Somos todos alemães, porque vivemos aqui, não importa se somos azuis, amarelos, verdes ou pretos"Foto: Jermaine Raffington

A cultura afro-alemã faz parte da história do país há gerações. Porém, a sociedade de maioria branca mal sabe disso – uma das razões pelas quais Jermain começou o projeto. Outra motivação do diretor é bastante pessoal: filho de uma alemã e de um jamaicano, ele cresceu em Hamburgo e se tornou jogador profissional de basquete. Constantemente ele é questionando "de onde vem, realmente" e se pergunta sobre a própria identidade. "Eu buscava exemplos positivos além de clichês."

Inicialmente o projeto previu dez perfis, e os primeiros cinco já estão prontos. Eles mostram afro-alemães que, com sua trajetória de vida, podem ser justamente esses exemplos positivos que Raffington buscava. O jogador de futebol Jérome Boateng já aceitou participar, assim como Kevin John Edusei, principal maestro da Orquestra Sinfônica de Munique, além de uma professora universitária e um capitão da Bundeswehr (Forças Armadas Alemãs).

Somos todos alemães

"Somos todos alemães, porque vivemos aqui, não importa se somos azuis, amarelos, verdes ou pretos", diz Patrick Mushatsi-Kareba, diretor de uma grande plataforma online de música e outro dos retratados no projeto. Formado em Ciências Políticas, ele cresceu em Frankfurt, e o pai, natural do Burundi, abandonou a família cedo. A mãe, italiana, logo se casou de novo.

Apesar de viver num ambiente multicultural, ele também sofreu rejeição e hostilidade. Ele vê a educação como a única maneira de mudar isso. "Hoje em dia nenhuma sociedade pode se permitir dizer, 'somos tolerantes, mas...'"

O projeto Schwarz Rot Gold é apoiado pelo Ministério do Exterior alemão e pela iniciativa DeutschPlus, entre outros. Os perfis registrados por Jermain e Laurel Raffington mostram uma parte da sociedade alemã que ainda é praticamente ignorada pela maioria. "O problema não é apenas o radicalismo de direita, mas também a sociedade que o tolera", afirma Raffington.