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Segunda onda do coronavírus desafia o futebol alemão

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
27 de outubro de 2020

Infecções em alta na Alemanha fazem com que se cogite a volta das partidas com portões fechados na Bundesliga, gerando temores quanto à sobrevivência dos clubes.

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Bola de futebol da Bundesliga com máscara
Diretor-executivo do Bayern estima que temporada toda sem torcida possa causar um prejuízo de até 200 milhões de eurosFoto: picture-alliance/Geisler

Desde o começo da nova temporada da Bundesliga, jogadores foram testados positivo para a covid-19, e partidas de futebol são realizados sem público ou, quando muito, com apenas 20% da capacidade dos estádios. A segunda onda da pandemia está atingindo a Alemanha com toda força. O crescimento assustador de novos casos de infecção a cada dia coloca em estado de alerta máximo a sociedade alemã em geral e o futebol profissional em particular.

Houve até casos de jogos da segunda divisão que foram adiados e para os quais ainda não há previsão de quando finalmente serão realizados. Mais cedo ou mais tarde, a mesma coisa pode acontecer com partidas da Bundesliga, tumultuando ainda mais o já apertado calendário da atual campanha.

Em inúmeras cidades alemãs, a marca crítica de 50 novas infecções por 100 mil habitantes por semana foi atingida e, em alguns casos, até ultrapassada. A partir de 35 novos casos a recomendação é de que eventos esportivos ocorram sem a presença de público, mas a decisão final sempre cabe à Secretaria de Saúde local.

No último fim de semana, foram realizadas diversas partidas sem público, como a de Bayern contra o Frankfurt na Allianz Arena, em Munique. Outras tiveram um número reduzido de torcedores. A "mãe de todos os derbis" entre Dortmund e Schalke foi vista por apenas 300 fãs, enquanto 4,5 mil torcedores estiveram na VW Arena para acompanhar o jogo entre Wolfsburg e Bielefeld.  

O crescimento diário de casos novos na Alemanha faz com que se cogite nos bastidores da Bundesliga um retorno à realização de partidas com portões fechados nas duas ligas de futebol profissional, a exemplo do que foi feito nas últimas nove rodadas da temporada passada.  

Karl-Heinz Rummenigge, diretor-executivo do Bayern, pleiteia que seja tomada logo uma decisão uniforme e válida para todos, mesmo que isso signifique voltar aos assim chamados Geisterspiele – jogos-fantasma, sem público, como já ocorre ocasionalmente. O dirigente estima que uma temporada completa sem torcida possa causar um prejuízo de até 200 milhões de euros, rateados entre os 18 clubes da primeira divisão. 

Seria um mal menor, em comparação com uma completa paralisação do campeonato. Michael Preetz, dirigente do Hertha Berlin, põe os pontos nos Is: "Se a temporada não puder ser levada até o fim, todos os clubes serão atingidos e fatalmente terão sérios problemas de sobrevivência".

É fácil concluir por qual motivo. Sem jogos, as cotas referentes aos direitos de transmissão não seriam pagas pelos canais de TV e plataformas de streaming, e os patrocinadores dos clubes não desembolsariam os valores contratados já que suas marcas não seriam vistas na telinha por milhões de telespectadores.

Para evitar esse cenário de lockdown na Bundesliga será preciso implementar com todo rigor o procedimento higiênico e sanitário preestabelecido de comum acordo entre todas as partes envolvidas. Ao menos assim será possível salvar a temporada, mesmo que seja diante arquibancadas vazias: vão-se os anéis, mas ficam os dedos.

O técnico Marco Rose, do Borussia M'Gladbach adverte: "É preciso incorporar na nossa vida e no nosso trabalho um conceito rígido de higiene e segurança sanitária. Devemos fazer tudo o que pudermos para evitar um novo lockdown."

Para Rummenige, "um novo lockdown seria fatal para o futebol e teria consequências dramáticas não apenas para os pequenos, mas para todos nós”.

Seu colega do Borussia Dortmund, Hans-Joachim Watzke, foi um pouco mais longe: "Alguns clubes irão à falência, sem condições de pagar suas contas, e o último a sair pode apagar a luz." Dirigentes do Stuttgart, Mainz e Hertha fizeram eco e se manifestaram de forma parecida.

Essas advertências já deixam transparecer a que ponto devastador a segunda onda do coronavírus pode levar o futebol alemão. Cabe a todos envolvidos com esse grandioso esporte popular subordinar seus interesses pessoais à uma causa maior que é, nem mais, nem menos, a sobrevivência do futebol como o conhecemos.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar".

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.