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Sarampo: aumento de casos cria debate sobre exigência da vacina na Alemanha

Andrea Lueg (ie)7 de julho de 2013

A doença, comum na infância, já foi erradicada em alguns países, mas não na Alemanha, onde alguns pais optam por não vacinar os filhos. Especialistas discutem as razões, e governo cogita tornar imunização obrigatória.

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Foto: Ilike - Fotolia.com

Erupções marrom-avermelhadas na pele são um sintoma comum do sarampo, mas não o único e nem o pior. Febre alta e congestão nasal também podem aparecer. Mas o mais perigoso é quando o vírus que causa a doença enfraquece o sistema imunológico e facilita a entrada de doenças mais graves, como infecções no ouvido médio, nos pulmões ou até no cérebro, o que pode ser fatal em muitos casos. Por ano, cerca de 200 mil pessoas morrem em todo mundo por causa do sarampo ou suas complicações.

Nos Estados Unidos, a doença está praticamente erradicada. No Brasil, foram 179 casos em 10 anos e desde 2007 nenhuma morte foi registrada. Enquanto isso na Alemanha, o número está crescendo e já foram registrados óbitos. O vírus tem se multiplicado especialmente em Berlim e na Baviera. Mais de 900 casos foram registrados pelo Ministério da Saúde alemão apenas na primeira metade deste ano, embora a vacina contra o sarampo já exista há mais de 30 anos.

O número de casos é, segundo especialistas, consequência da queda, sobretudo nos anos 90, no número de pessoas que receberam a vacina tríplice viral, contra o sarampo, rubéola e caxumba. "Por conta disso, especialmente adolescentes e adultos, que hoje têm entre 15 e 30 anos, correm risco", explica Annette Mankertz, diretora do Centro Nacional de Referência para o Sarampo, Caxumba e Rubéola do Instituto Robert Koch.

Manchas pela pele não representam o mais grave sintoma da doença
Manchas na pele não são o sintoma mais grave da doençaFoto: AP

Segunda dose eleva proteção a quase 100%

De acordo com a Câmara dos Médicos Alemães, são necessárias duas doses da vacina. A primeira deve ser dada a crianças que tenham entre 11 e 14 meses e a segunda, seis semanas depois. No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda que a primeira dose seja aplicada aos doze meses de vida, e o reforço, entre quatro e seis anos de idade. Além disso, todas as mulheres de até 49 anos e homens de até 39 devem ser vacinados, independente de terem tido ou não a doença.

Em 2011, a Alemanha aplicou a primeira dose da vacina em 96,6% das crianças, mas apenas 92,1% receberam a segunda dose. E é exatamente a segunda aplicação que consegue elevar a taxa de proteção para quase 100%. Especialistas acreditam que se a imunização chegasse a 95% em todo o mundo, o sarampo poderia ser erradicado globalmente.

Para prevenir novos surtos de sarampo na Alemanha, o ministro da Saúde, Daniel Bahr, cogita tornar obrigatória a vacinação contra a doença, a exemplo do que já ocorreu no passado em relação à varíola. Exemplos externos também não faltam. "Nos Estados Unidos, as crianças precisam apresentar o certificado das duas doses da vacina para serem matriculadas na escola. Nos países da Escandinávia, as enfermeiras esclarecem sobre a vacina e estimulam as famílias", lembra Mankertz.

O presidente da Associação Nacional dos Pediatras da Alemanha, Wolfgang Hartmann, é outro que defende a vacinação obrigatória. Ele acredita que o atual surto de sarampo mostra que os médicos não podem confiar apenas na atitude voluntária dos pais em imunizarem os filhos. "Instrumentos legais para isso existem e, em casos de vírus que ofereçam um perigo elevado para as crianças, a vacinação deve se tornar obrigatória", afirma.

Reforço ao sistema imunológico

Há, no entanto, quem não concorde com essa obrigatoriedade, como o diretor da associação Médicos pela Decisão Individual de Vacinar, Michael Friedl. "Como a doença é um processo individual, a decisão de como lidar com ela deve permanecer nas mãos de cada indivíduo", argumenta.

Annette Mankertz defende a vacina e diz que complicações podem matar
Annette Mankertz defende a vacina contra o sarampoFoto: Robert-Koch-Institut

Friedl, que é especializado em terapias alternativas para crianças, não é contra a prevenção específica do sarampo, mas tem um olhar crítico quanto às políticas de vacinação infantil. Na sua opinião, a doença – como outras comuns na infância e que estão associadas à febre alta – tem uma função importante. Para ele, ela pode assegurar que a criança tenha uma melhor relação com o corpo ao longo da vida, e pode ser importante para fortalecer o sistema imunológico. Na avaliação dele, crianças de até sete anos podem lidar bem com a febre. "Muitas doenças que podem causar grandes problemas em adultos trazem poucas complicações para as crianças, quando tratadas adequadamente", explica Friedl.

Vacina também tem riscos

Annette Mankretz diz que esse reforço no sistema imunológico não precisa ser exercitado necessariamente pelo vírus do sarampo. O importante é que a vacina pode salvar a vida de milhares de pessoas. E a vacinação protege não apenas quem a recebeu, mas outras pessoas.

No entanto, uma vez que as vacinas são feitas com versões atenuadas do vírus que causa a doença, podem ter efeitos colaterais. Uma em cada dez pessoas pode ter dores de cabeça ou, raramente, convulsões febris. "Existe também o risco de uma encefalite", diz Mankertz. Mas esse risco é apenas de um caso para um milhão, ou seja, mil vezes menor do que a chance de a pessoa ter sarampo.

A doença é altamente contagiosa, transmitida por gotículas de saliva contaminada expelidas na fala, ao tossir ou espirrar. E a infecção pode não ser imediata: o vírus permanece ativo por várias horas.

O sarampo é especialmente perigoso em crianças com menos de um ano. "Uma em cada cinco mil crianças desenvolve a panencefalite esclerosante subaguda. Essa doença degenerativa do cérebro é sempre fatal. Pais que recebem esse diagnóstico para os filhos só podem ficar observando sua morte", alerta.