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Sangue artificial pode suprir demanda não coberta por doações

Liam Starkey (cn), de Edimburgo13 de junho de 2014

Cientistas estudam produzir líquido vital em larga escala a partir de células-tronco. Mais da metade do sangue disponível no mundo é usada por apenas 15% da população.

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Foto: Fotolia/Gina Sanders

"É apenas uma picada no dedo", diz uma enfermeira de um banco de sangue em Edimburgo, na Escócia, tentando acalmar um doador durante o teste para verificar os níveis de hemoglobina.

Mas o trabalho do Serviço Nacional Escocês de Transfusão de Sangue vai além do incentivo à doação. O órgão também faz pesquisas em tecnologias que possam, no futuro, assegurar o suprimento desse líquido vital, inclusive tentando obtê-lo artificialmente.

Mark Turner, diretor clínico do serviço, pesquisa como o sangue poderia ser sintetizado. "Há algum tempo sabemos que é possível, a partir de células-tronco adultas, produzir hemácias, mas ainda não conseguimos produzir sangue em larga escala devido à capacidade restrita dos glóbulos vermelhos de se proliferar", diz.

Segundo o pesquisador, cientistas já conseguem, porém, produzir em laboratório células-tronco pluripotentes – capazes de dar origem a qualquer tipo de célula – a partir de embriões ou tecidos adultos.

"Algum dia poderá ser possível fabricar sangue em larga escala, mas ainda estamos muito longe disso. No momento, focamos na produção de hemácias seguras e de qualidade, adequadas para teste em humanos", diz Turner.

Produção em larga escala

Turner reforça que ainda vai levar décadas para que se possa produzir sangue industrialmente, de maneira segura e barata. "O processo de diferenciação celular é muito complexo, é preciso recapitular, até certo ponto, todo o desenvolvimento pelo qual essas células passam, desde a fase embrionária até a pessoa adulta", diz.

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Muitos pacientes que necessitam de transfusão mundo afora não têm acesso a sangueFoto: picture-alliance/dpa

Cinco ou seis ambientes de cultura devem ser usados sequencialmente e, depois, são necessários mais 30 dias para a produção de hemácias. "O desafio agora é transformar esse processo laboratorial num ambiente de produção em larga escala", acrescenta Turner.

O controle do processo precisa ser aperfeiçoado, assim como os custos de produção. "Não faz sentido produzir milhões de células sanguíneas que custem milhões de libras, ninguém iria usá-las", completa o pesquisador.

Apesar de a maioria dos países industrializados possuir suprimentos de sangue suficientes, grande parte da população mundial não tem acesso a esse recurso. Mais da metade do sangue disponível no mundo é usada por apenas 15% da população, que vive nos países com uma economia avançada, aponta Turner.

"Estima-se que 150 mil mulheres morram no mundo anualmente de hemorragia pós-parto, e muitas delas poderiam ter sido salvas se os países tivessem suprimentos de sangue adequados", exemplifica o pesquisador.

Eticamente correta

A pesquisa desenvolvida na Escócia tem outra vantagem: aparentemente, as células-tronco usadas não estão causando transtornos éticos.

"Tradicionalmente, os embriões são uma fonte de células-tronco, mas existem pessoas contra seu uso na pesquisa", afirma John Harris, professor de bioética da Universidade de Manchester, acrescentando que, na produção artificial de sangue, embriões não estão sendo usados como fonte, mas sim células da pele de adultos.

O professor explica que essas células são reprogramadas para o estado pluripotente, que é o anterior ao das células especializadas. Num determinado momento, elas começam a se especializar e se tornam parte do corpo humano.
"O chamado sangue artificial não é artificial, é claro, porque é produzido a partir de células humanas", completa Harris.

O professor considera o método seguro e acredita que o sangue produzido em larga escala poderia ser usado mundo afora para tratar até mesmo pessoas que, por motivos éticos ou religiosos, veem de maneira crítica a pesquisa tradicional com células-tronco.