1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Rússia começa vacinação contra covid-19

5 de dezembro de 2020

País é o primeiro do mundo a iniciar imunização contra o novo coronavírus. Vacina Sputnik V recebeu aval regulatório do governo russo antes mesmo de conclusão de testes.

https://p.dw.com/p/3mGsU
Mulher aplica vacina em braço de homem em Moscou
Interessados precisam se inscrever para receber a vacina na RússiaFoto: Iliya Pitalev/dpa/Sputnik/picture alliance

A Rússia começou neste sábado (05/12) a campanha de vacinação voluntária em grande escala contra a covid-19, com Moscou sendo a primeira cidade do país a iniciar a imunização.

A vacina Sputnik V, desenvolvida pelo Centro de Pesquisas Gamaleya e pelo Fundo de Investimento Direto Russo (RDIF), foi distribuída em 70 clínicas da capital e será disponibilizada inicialmente a profissionais de saúde, professores e assistentes sociais – grupos que, segundo o governo, correm mais risco de exposição ao novo coronavírus.

O governo russo excluiu idosos com mais de 60 anos, mulheres grávidas, pessoas que tiveram doenças respiratórias nas últimas semanas ou com certas condições de saúde adjacentes da vacinação.

A imunização tem caráter voluntário e para participar do programa é necessário se registrar no site da prefeitura de Moscou. Segundo o prefeito de Moscou, Serguei Sobyanin, mais de 5 mil voluntários se inscreveram para receber a vacina nas primeiras horas da liberação das inscrições.

Todo o procedimento de imunização leva cerca de uma hora, pois inclui um exame médico, a preparação da vacina – ela deve ser descongelada no local – e um período de observação de meia hora após a aplicação.

Com quase 12 milhões de habitantes, a capital russa tem sido o epicentro da pandemia no país e registrou nas últimas 24 horas 7.993 novos casos. Os números estão bem acima da média de setembro, que era de cerca de 700 novas infecções diárias.

Apesar da segunda onda, o governo tem evitado reimpor um lockdown e medidas restritivas, mantendo restaurantes abertos e optando apenas por um toque de recolher às 23h.

"O governo e autoridades têm repetido que a situação está sob controle e que não querem impor uma quarentena no país devido à vacina que estão lançando", afirmou a correspondente da DW em Moscou Emily Sherwin.

Voluntários em busca de tranquilidade

Dmitry Babakov, um assistente social que trabalha num centro de apoio a emprego e carreira em Moscou, foi um dos vacinados neste sábado. À DW, ele contou que optou pela vacinação para poder ter tranquilidade.

"Recebemos no centro cerca de 200 ou 300 pessoas de todas as partes de Moscou pro dia. Nunca sabemos quem pode ter estado onde e com quem tiveram contato. A probabilidade do coronavírus se espalhar é muito alta", afirmou Babakov, de 42 anos.

Mulher segura embalagem de vacina
Sputnik V foi aprovada na Rússia antes mesmo de terem sido feitos os testes da terceira faseFoto: Sergei Karpukhin/TASS/dpa/picture alliance

A diretora de uma das clínicas de vacinação Natalia Kuzenkova defendeu a rápida distribuição do imunizante no país. "Estamos simplesmente cuidando das pessoas. Queremos criar imunidade de rebanho. Poderíamos esperar um longo tempo até todos pegarem covid, mas claro que isso tem riscos significativos para a população", acrescentou.

Kuzenkova disse que a campanha visa proteger a população, "especialmente setores da sociedade que não podem se isolar e precisam continuar tendo contato com pessoas no trabalho, como profissionais de saúde, assistentes sociais e professores".

Aprovação relâmpago 

A Sputnik V é administrada em duas doses, o que significa que quem recebeu a primeira neste sábado deverá voltar daqui três semanas para a aplicação da segunda.

A diretora da Policlínica Nº 2 de Moscou, Natalia Shindriayeva, disse à agência de notícias local RIA Novosti que são informadas aos vacinados que podem ocorrer reações absolutamente normais após a imunização. "Como qualquer vacina, ela pode causar fraqueza e um leve aumento na temperatura corporal nas primeiras 24 horas após a administração", detalhou.

A Sputnik V, produzida pelo Instituto Gamaleya, foi aprovada pelo Ministério da Saúde da Rússia em 11 de agosto, antes mesmo de terem sido feitos os testes da terceira fase, que estão agora em andamento.

Na época, o presidente russo, Vladimir Putin, defendeu a vacina russa e disse que a filha dele foi vacinada sem apresentar efeitos colaterais, exceto uma febre temporária e leve. Já o Kremlin comunicou que o próprio presidente não tomou a vacina porque ela ainda estava em fase de testes.

A Sputnik V, que utiliza DNA humano na produção, teria eficácia de 92%, de acordo com resultados dos testes. O custo de cada dose é de 20 dólares (R$ 103). Além dela, a Rússia trabalha na futura distribuição em massa de outro imunizante, o EpiVacCorona, que foi desenvolvido pelo Centro Estatal de Pesquisa em Virologia e Epidemiologia Vektor.

Vacina controversa  

Cientistas levantaram preocupações pela velocidade com que a Rússia deu aval regulatório para a distribuição da Sputnik V e para o início da vacinação em massa, mesmo antes da conclusão de testes clínicos voltados a comprovar a segurança e eficácia do imunizante.

Especialistas afirmam que a rápida vacinação no país tem um componente político. "A imunização pode ser comparada à corrida espacial", afirmou à DW o cientista político Ilya Graschenkov. "O principal é reivindicar ser o primeiro a produzir uma vacina e o primeiro a iniciar a vacinação", acrescentou.

A Rússia registrou cerca de 2,4 milhões de infecções de covid-19 e é o quarto país mais atingido pela pandemia, atrás de Estados Unidos, Índia e Brasil. Mais de 42 mil pessoas morreram de covid-19 na Rússia.

CN/efe/dw