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Rota refaz percurso de pintor britânico pelo Reno

Anne Termèche (sv)2 de setembro de 2013

As pinturas de William Turner estão entre as mais importantes do Romantismo Renano. Elas foram criadas entre as cidades de Koblenz e Bingen, por onde passará em 2014 a Rota Turner.

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Foto: DW/A. Termeche

Tenho um encontro marcado com Armin Thommes. Ele é pintor e conhecedor da obra de William Turner – e foi ele quem teve a ideia de criação da Rota Turner ao longo do Vale do Médio Reno. De uma pastinha fina, ele tira cópias de aquarelas que deverão marcar a Rota no próximo ano. Vejo cores suaves, fluidas.

Os contornos podem ser apenas vislumbrados. Aí então reluzem as ruínas dos castelos num alaranjado forte e na cor violeta. Que luz! "Turner antecipou, com seu estilo, o Impressionismo", explica Thommes. E ainda aprendo outra coisa: as imagens de paisagens criadas por Turner contribuíram sensivelmente para o boom de viagens, que começou na região do Médio Reno no século 19.

O pintor inglês fez suas primeiras viagens à região do rio Reno em 1817. Em duas caminhadas de ritmo acelerado, ele foi de Koblenz a Bingen. Concluo rapidamente: são quase 60 quilômetros, ou seja, em torno de 30 quilômetros por dia. Meu respeito! Fico feliz por termos apenas um pequeno trecho a ser percorrido: a partir de St. Goar, acompanhamos a margem do Reno até a saída sul da cidade, onde Turner pintou uma vista da Loreley.

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Rochedo da Loreley pintado por William TurnerFoto: The Bridgeman Art Library

St. Goar fica em frente ao famoso rochedo. Nas caminhadas pelas margens do Reno, o pintor britânico desenhou em torno de 100 páginas. E só quando retornou para casa, na Inglaterra, é que inseriu cores nas obras.

Assim surgiram as aproximadamente 50 aquarelas de grande formato e pinturas a óleo do Romantismo Renano. Os pintores e poetas desta corrente tinham em comum a vontade de apresentar a paisagem do Reno como um lugar nostálgico.

Em alguns lugares, imaginei o caminho à beira do rio percorrido por Turner. Por onde antigamente passavam os cavalos levando as cargas que chegavam pelos navios, fica hoje a ciclovia às margens do rio. Mas também a estrada de número 9. O barulho dos carros produz um ruído suave se comparado àquele dos trens, que cortam em intervalos de minutos o Vale do Reno.

Turner, por sua vez, vivenciou ali um lugar de tranquilidade. É isso o que quero imaginar por um momento, eliminando os ruídos e tirando da paisagem o camping com seus trailers, bem como os navios de turistas e de carga.

Na minha fantasia, vejo um veleiro que sobe silenciosamente o Reno. Enfim, o murmúrio regular do rio. Silêncio. Ah, começo a entender que é impossível não sentir saudades de um lugar como esse.

Armin Thommes pesquisa desde 2005 sistematicamente a paisagem à beira do Reno, especialmente entre Koblenz e Bingen, não se deixando abalar nem pelas cercas de amoras cheias de espinhos, nem pelos matos íngremes nas margens do rio. "Mas outra coisa dificulta ainda mais a orientação", admite Thommes: "Turner não se referia tanto assim à realidade. O efeito é que importava para ele", completa.

Deutschland Rhein Wandern auf der Turner-Route
Local turístico: camping e trailersFoto: DW/A. Termeche

Onde faltasse o aspecto dramático da natureza, o pintor auxiliava como podia. Ele combinava eixos de visão e até mesmo deslocava um castelo ou uma torre. "Isso é visível na vista para a cidade de Oberwesel", conta Armin Thommes.

Oberwesel, que fica a duas curvas rio abaixo e sete quilômetros à frente, foi pintado por Turner como se houvesse um mirante mais alto do que o realmente existente. Não se sabe como Turner teria chegado até lá.

Tomamos o caminho da subida. Cruzamos campos de trigo e plantações de videiras. No nosso destino, temos a sensação de que cinco ônibus com turistas chegaram simultaneamente.

Armin Thommes folheia sua pasta: a vista de Turner para Oberwesel. "Ali havia um segundo eixo de visão em jogo, veja bem", diz ele. Do lado esquerdo da imagem, reluz uma torre branca. De fato, Turner não pode tê-la visto deste lugar. Mas ela dá à sua imagem um toque a mais.

Deutschland Rhein Wandern auf der Turner-Route
Lugar propício para piquenique: vista para OberweselFoto: DW/A. Termeche

No próximo ano, todos os 26 pontos localizados por Armin Thommes estarão marcados com placas informativas. Assim, qualquer pessoa poderá ver a paisagem com os olhos do pintor. E poderá aprender como Turner conseguiu pintar não apenas a paisagem, mas também capturar sua essência.

Na época de Turner, era moda entre os intelectuais viajar pelo Reno. Somente depois da intervenção dos pintores, literatos e pensadores é que a paisagem foi declarada como algo extraordinário. "As obras deles são hoje conhecidas como Romantismo Renano", explica Thommes. E Turner deu a esse sentimento de nostalgia um rosto.

Mas o Vale do Reno não estava preparado para o que viria a seguir: a transformação do lugar em um dos primeiros exemplos de turismo de massa na Europa. Hoje, centenas de milhares de turistas atropelam anualmente o Vale, que foi considerado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 2002. Ideias como essa de Thommes são bem-vindas. "A Rota Turner dialoga com o visitante interessado por cultura, mas também com aqueles que nunca ouviram falar de William Turner em suas vidas", alegra-se Bertram Beck, presidente da Associação do Vale do Médio Reno, responsável pela implementação da ideia.

Deutschland Rhein Wandern auf der Turner-Route
Um entardecer de verão no Médio Reno: deleite para os olhosFoto: DW/A. Termeche

Voltamos para St. Goar, de onde partiremos pela manhã. Turner pernoitava com prazer nesta localidade, quando andava pela região do Reno. Em St. Goar, há um grande número de lojas de lembrancinhas, como em muitos outros lugares do Vale do Reno. Para mim, elas realmente acabam com o espírito romântico do lugar.

À noite, fujo para a Praça William Turner, uma última dica de Armin Thommes. Pouco adiante, há alguns degraus largos e brancos, com bancos de pedra, à beira do Reno. Atrás de mim fica o castelo de Rheinfels; à esquerda, o castelo Maus; do outro lado, o castelo Katz, e à minha frente, o pôr-do-sol. A água é de um azul profundo. Aqui esteve há quase 200 anos, William Turner. E certamente deve ter ficado tão encantado quanto eu agora.