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Ronaldinho Gaúcho: "A bola é minha namorada"

Geraldo Hoffmann18 de abril de 2006

Nesta segunda parte da entrevista à DW-WORLD, Ronaldinho Gaúcho fala sobre seu "grande amor", sobre o Barcelona, o racismo no futebol e sua "família" – como ele chama os torcedores.

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Craque brasileiro sente-se em casa no BarcelonaFoto: picture-alliance/dpa

DW-WORLD: Você disse há pouco tempo que a bola é a sua namorada, que não há nada no mundo que o torna mais feliz do que jogar futebol. Realmente não existe nada que o torne mais feliz? O que acontece, por exemplo, quando você perde uma partida?

Ronaldinho: Quando se perde uma partida, é um momento frustrante. Você treina a semana toda e chega ali, faz o melhor e, às vezes, o seu melhor não é suficiente para atingir um objetivo. Eu sempre disse que a bola é a minha namorada e, enquanto eu jogar futebol, ela vai continuar sendo isso. Existem outras coisas na minha vida pessoal que são maravilhosas. Cada coisa tem, no seu momento, uma importância muito grande na minha vida. Mas a bola, quando estou com ela, é minha namorada e eu a trato com todo carinho.

No seu caso, a bola parece literalmente colar no pé, no peito, na cabeça. Como é que você faz isso?

Ronaldinho und sein Freund der Deutsche Welle Ball
Ronaldinho e sua 'namorada'Foto: Geraldo Hoffmann

Jogar futebol é o que eu sempre fiz, desde a minha infância. Sempre adorei estar com a bola. Eu ficava observando meu irmão mais velho [Assis], que também gostava de brincar com a bola. Meus primos também gostavam de fazer brincadeira com a bola. Passei a ter um amor por ela. E hoje lido com um carinho, uma afinidade muito grande com a bola.

Qual foi a importância que teve sua família para a sua carreira?

A família foi a base de tudo. Só estou aqui hoje e sou o que sou, graças à minha família. E só pela minha família, pelo bem-estar dela, eu deixaria tudo isso aqui para começar de novo do zero. Minha família é a coisa mais importante que eu tenho.

Metade de sua família já vive em Barcelona. E você prorrogou seu contrato com o clube até 2010. O que é tão diferente no Barcelona em relação a outros clubes interessados em seu passe?

Quando vim do Paris Saint Germain, fui acolhido aqui de uma forma completamente diferente do que eu esperava. Antes mesmo de vestir a camisa, de jogar meu primeiro jogo, já havia 35 mil pessoas no estádio me aplaudindo e me recebendo com carinho. Desde o primeiro instante, foi diferente aqui. Por causa desse acolhimento, de todo esse carinho, é que eu me sinto tão bem, que não consigo me imaginar longe daqui.

Os torcedores do Barcelona dizem que você trouxe a magia de volta ao estádio. Como acontece seu contato com a torcida?

Interview Ronaldinho Bild 15 Stadion Campo Nou in Barcelona
Turistas visitam a 'casa' de Ronaldinho – o estádio Camp NouFoto: Geraldo Hoffmann

Aqui eu me sinto em casa. Aqui eu jogo futebol como se jogasse no quintal de minha casa e toda a minha família estivesse aí. Minha família são 100 mil pessoas. Não há nada melhor do que se sentir querido por 100 mil pessoas. E poder fazer feliz 100 mil pessoas a cada jogo. Tudo isso faz com que não me falte nada. Eu faço o que eu mais amo. E, fazendo o que mais amo, posso fazer muita gente feliz.

Você pensa em terminar sua carreira no Barcelona?

Não consigo me imaginar em outro lugar que não seja no Barcelona. Aqui a gente briga por título todo ano. A gente segue um caminho muito bom. O grupo de trabalho é muito bom. Enquanto eu puder ter tudo isso, eu quero ficar o maior tempo possível aqui no Barcelona.

É verdade que você é o jogador do Barcelona que mais visita a capela do clube, no estádio Camp Nou. Você troca passes com Deus?

Não, não sei. Às vezes, quando tenho a oportunidade, gosto de ir à capela para agradecer pela minha saúde, pela saúde dos meus familiares, amigos e companheiros. Quando vou à capela é para agradecer por tudo que me rodeia, por tudo de bom que eu tenho e todas as coisas maravilhosas que estão surgindo na minha vida.

Você vive a sua grande felicidade, mas, às vezes, no futebol há também momentos menos felizes. Há poucos dias, no jogo contra o Zaragossa, seu colega Eto'o ameaçou sair de campo por causa de xingamentos racistas da torcida adversária. Como você vê o problema do racismo no futebol?

É uma coisa séria. Procuramos sempre passar uma mensagem de que isso não é o caminho certo. Esperamos que isso acabe o quanto antes. O que aconteceu com o Eto'o foi algo que deixou todos nós do Barcelona muito tristes. Esperamos que não aconteça mais. O caminho certo é que todo mundo vá ao estádio para se divertir, para apoiar sua equipe. Todas as pessoas são iguais, independentemente de cor, raça ou o que seja. Todos se esforçam para fazer o melhor e para fazer muita gente feliz.

Leia na terceira e última parte da entrevista:
"Vivo tudo o que eu sempre sonhei"
Apesar da fama internacional, Ronaldinho diz que ainda leva uma vida normal. Confira como é essa "vida normal" do melhor jogador de futebol do mundo.