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Cúpula do G20

9 de novembro de 2010

Dois anos após reunião em Washington para combater a crise, G20 se encontra em Seul. As disputas cambiais deverão dominar a cúpula, onde grupo terá de provar que ainda continua unido em torno das mesmas metas.

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Cúpula de Seul é teste para o G20, diz Durão BarrosoFoto: Orgranisationskomitee G20 Seoul Summit

Trata-se de um grêmio poderoso. Dois terços da população mundial, 90% da força econômica global e quatro quintos do comércio internacional: tudo isso é o G20, o grupo que reúne as 20 maiores economias emergentes e industrializadas. Ele é uma comunidade originada de crises, nascida em 1999, ainda no nível dos ministros das Finanças, como reação aos abalos financeiros na Ásia, no Brasil e na Rússia. No final de 2008 veio, então, o colapso do Lehman Brothers, que provocou um efeito dominó das finanças mundiais. E o G20 atuou, então, como o bombeiro disposto a apagar o fogo daquela crise.

Em Washington, há quase dois anos, os governos se comprometeram com uma gama de medidas para aumentar o controle dos mercados, concordando que tal crise não pode se repetir. Os nacionalismos foram deixados de lado em favor do salvamento da economia mundial. Na opinião de Dominique Strauss-Kahn, presidente do FMI, esse foi o aprendizado mais importante daquela crise, de que a necessidade global vem antes da nacional. "Foi uma nova qualidade de cooperação econômica internacional em um nível global que não existia até então", afirmou Strauss-Kahn durante uma conferência anual do Fundo. Agora, entretanto, pouco antes da cúpula de Seul, a ser iniciada na quinta-feira (11/11), ele acha que esse espírito de cooperação está enfraquecendo: "E isso é uma ameaça real", lamenta.

Interesses nacionais são barreira

Todos os participantes sabem disso. Mesmo assim, no final das contas, todos acabam tendo que enfrentar a conjuntura política interna na hora de colocar em votação no Parlamento nacional uma reforma do mercado financeiro. Por esse motivo, a chefe alemã de governo, Angela Merkel, não parece realmente satisfeita com o que já se alcançou nesse sentido. "O governo alemão tinha imaginado receber um maior apoio do setor financeiro com relação aos custos da crise", lamentou Merkel diante do Parlamento alemão, ao comunicar suas metas para a cúpula do G20. A Alemanha introduziu dentro de casa uma taxação sobre os bancos, mas não conseguiu apoio suficiente dentro no G20 em favor da adoção de um imposto internacional para o mercado financeiro global.

NO FLASH Bundestag Merkel
Ao falar no Bundestag às vésperas do G20, Merkel criticou "distorções cambiais" de algumas naçõesFoto: picture-alliance/dpa

Mesmo assim, a Europa pode mostrar em Seul que já adotou algumas medidas para aumentar o controle dos mercados financeiros: produtos financeiros de risco podem vir a ser proibidos no bloco, fundos de cobertura e agências de rating estão sujeitas a maior fiscalização. Entretanto, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, chega preocupado à cúpula de Seul. Para ele, o encontro acontece em um momento delicado. "Vai ser um teste para ver se o G20 pode fornecer a coordenação necessária para equilibrar a economia mundial", disse, acrescendo que todos devem aceitar que “desequilíbrios mundiais são uma preocupação para todos”.

Sem sinal de consenso

Pois apesar de todas as promessas, os governos estão muito longe de chegar a um consenso sobre se eliminam ou não suas barreiras protecionistas. Pois cada um pensa, em primeiro lugar, em fortalecer sua própria economia. E os desequilíbrios que resultam dessa mentalidade são um terreno fértil para a próxima crise.

E há ainda muito potencial de conflito dentro da balança comercial dos países, onde se mede a relação entre exportação e importação. A chanceler federal alemã diz se preocupar em cooperar com outras nações para possibilitar um crescimento sustentado e equilibrado da economia mundial, mas prefere deixar que as leis de mercado regulamentem tudo sozinhas e que as balanças comerciais dos países continuem sendo um reflexo da força e competitividade de cada economia nacional.

Mudanças no câmbio como solução

A questão do câmbio também está estreitamente relacionada com a balança comercial das diversas economias. E há, aliás, os que já falam em uma “guerra mundial do câmbio“. Alguns países procuram manter o valor de suas moedas em um preço artificialmente baixo, para conseguir vantagens comerciais, como é o caso de nações como China e os EUA. Outros, como Coreia do Sul, Japão e Brasil, seguem o exemplo, contribuindo para o que pode vir a se tornar uma competição internacional perigosa. O G20 não vai conseguir resolver esse problema em Seul, mas a chanceler federal alemã parece ter razão quando diz que a médio prazo os valores cambiais deverão refletir os dados fundamentais de uma economia. "Devemos evitar políticas que lançam mão de distorções no câmbio para fortalecer a competitividade ", apela Merkel.

A França, que assume a liderança do G20 na Coreia do Sul, quer colocar o tema das politicas cambiais no centro das discussões. No entanto, o mais importante na cúpula de Seul é que o grêmio prove na reunião que ainda continua unido em torno das mesmas metas, mesmo que tenha sido uma crise que obrigou esse grupo a se sentar em torno de uma mesma mesa.

Autor: Henrik Böhme (md)
Revisão: Carlos Albuquerque