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Retrospectiva de Niemeyer chega a Frankfurt

Neusa Soliz9 de março de 2003

O Museu Alemão de Arquitetura, em Frankfurt, apresenta uma retrospectiva de Oscar Niemeyer. Considerado "formalista" nos anos 50 e 60, esta primeira exposição na Alemanha é um tardio reconhecimento do seu talento.

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Sede da Editora Mondadori, Milão - projeto de Oscar NiemeyerFoto: Michel Moch

A retrospectiva de Oscar Niemeyer concebida por Cecília Scharlach e Haron Cohen inicialmente para uma superfície de 8 mil m² no Brasil, já percorreu algumas cidades, sempre modificada de acordo com o espaço disponível, conforme expôs Cecília Scharlach à DW-WORLD.

Na Europa, depois de Lisboa, Paris e Bruxelas, chegou à Alemanha, onde está sendo exibida, desde 1º de março, no Deutsches Museum für Architektur (DAM), em Frankfurt. E segundo a direção do museu está sendo um sucesso, pois foi visitada por 2 mil pessoas somente no primeiro fim de semana da exibição.

Em Frankfurt, podem ser vistos desenhos e esboços de vários projetos do mestre brasileiro da arquitetura contemporânea – cerca de 350 reproduções e fotografias, distribuídas numa vitrine de 60 metros, especialmente construída para a retrospectiva, que circunda a área reservada às maquetes. Enquanto as reproduções dão uma visão geral do trabalho de Niemeyer, as maquetes ressaltam os projetos que o DAM considera fundamentais.

Obras mais importantes

Modell Moschee
Projeto para uma mesquita na Argélia (1968)Foto: Archive Oscar Niemeyer

Entre eles estão as obras que deram feição a Brasília – o Palácio da Alvorada, o prédio do Supremo, bem como a catedral – e os projetos que projetaram seu nome no exterior, como a sede do Partido Comunista Francês, em Paris, uma maravilhosa mesquita que não chegou a ser construída, a Universidade de Constantine, na Argélia, a sede da Editora Mondadori, em Milão, e o Centro Cultural de Le Havre, na França.

Este último foi considerado pelo historiador da arte Bruno Zevi "um dos dez melhores exemplos de arquitetura contemporânea" no mundo. De suas obras das últimas décadas, constam as maquetes do Memorial da América Latina e do Museu de Niterói, com a sua forma inconfundível.

Gautherot e a construção de Brasília

O salão do primeiro andar foi reservado a imagens de vários fotógrafos, ressaltando-se a série de fotografias de Marcel Gautherot (1910-1996). Depois de conhecer o Brasil pelos livros de Jorge Amado, o fotógrafo francês esteve várias vezes no país, onde captou como nenhum outro as imagens pioneiras de Brasilia, da cidade brotando da terra árida do cerrado pelas mãos dos operários e engenheiros vindos de várias partes do Brasil, seguindo os esboços de Niemeyer, os planos de Lúcio Costa e concretizando os sonhos de Juscelino Kubitschek e dos que, como ele, queriam um futuro melhor.

Nationalkongress
Detalhe do Congresso Nacional em BrasíliaFoto: Marcel Gautherot/Insituto Moreira Salles

O Instituto Moreira Salles comprou o acervo de Gautherot e restaurou cerca de sete mil fotografias da construção da nova capital. Em colaboração com o Instituto, tais fotografias foram incluídas na retrospectiva Niemeyer, a partir de Bruxelas. Em torno de uma sala de projeções estão expostos esboços de Niemeyer, como os da casa dos Rotschild em Caesarea, Israel (1965), através dos quais se pode acompanhar todo o processo criativo do mestre até o objeto concluído.

Outros não são meros desenhos, pois contêm suas anotações que elucidam a idéia básica, justificam o projeto ou até se transformam em manifesto político, como o da Sede Sindical em Bobigny, no qual Niemeyer, que entrou para o Partido Comunista Brasileiro em 1945, expôs, em francês, suas idéias sobre a unidade da classe operária.

Documentário sobre Niemeyer

Um elemento especial da retrospectiva em Frankfurt é o documentário Un architecte engagé dans le siècle, do diretor belga Marc-Henri Wajnberg. Tendo recebido vários merecidos prêmios, o filme acompanha Niemeyer com a câmara, explicando como surgem as idéias. "Arquitetura nasce na cabeça, na imaginação. Depois vem a reflexão de como fazer", diz o mestre, atualmente com 95 anos de idade.

No filme, ele fala sobre Juscelino, que compara a "um príncipe renascentista" com sua visão de Brasília e desenvolvimento; sobre Lúcio Costa; Le Corbusier, com quem trabalhou no Rio e na construção da sede da ONU em Nova York; sobre Fidel Castro, "o herói da América Latina"; sobre o exílio em Paris, onde conheceu Sartre e Malraux - este, maravilhado com o Palácio da Alvorada, equiparou as suas colunas às colunas gregas -; sobre a vida, que juntamente com os amigos e a luta por um mundo digno e justo estão acima da arquitetura.