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Relações bilaterais

22 de setembro de 2009

Projetos de cooperação em energia nuclear e biocombustíveis podem tomar rumos diferentes, dependendo da coligação partidária que tiver mais peso no Parlamento alemão a partir das próximas eleições.

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CDU/FDP incentivam produção de etanol, SPD e Verdes são críticosFoto: picture-alliance / dpa

Uma mudança de ventos na política alemã não chegaria a alterar o leme das relações com o Brasil, mas seria capaz de inflar velas de setores nos quais os dois países têm parcerias importantes, como energia e meio ambiente.

Caso o quadro político alemão se mantenha como está desde 2005, a tendência mais forte seria o incentivo à energia nuclear e à produção de etanol à base de cana-de-açúcar. Já uma mudança de cenário favoreceria a expansão de fontes de energia renovável.

Isso é o que acredita o diretor da Fundação Konrad Adanauer no Brasil, Peter Fischer Bollin. Segundo ele, se a União Democrata Cristã (CDU), da chanceler Angela Merkel, se mantiver no poder e formar uma coalizão de governo com o Partido Liberal Democrata (FDP) , "poderá haver uma forte cooperação em prol da energia nuclear, já que Angra 1 e 2, no Rio de Janeiro, foram construídas por empresas alemãs, e o Brasil tem interesse em novas usinas", opina.

Brasilien, Kernkraftwerk Angra
Usina de Angra, no BrasilFoto: picture-alliance/dpa

Já em um governo do Partido Social Democrata (SPD) coligado ao Partido Verde, diz Bollin, essa questão ficaria fora da pauta, assim como o biodiesel, que a atual oposição verde vê com ceticismo pelo impacto negativo que as lavouras de cana-de-açúcar têm sobre o meio ambiente. No lugar, entrariam projetos de energia renovável.

Sob as regras da União Europeia

Esses cenários, contudo, mostram apenas tendências a serem possivelmente seguidas por um futuro governo, mas não rumos definitivos. Para o cientista político e consultor Christian Lohbauer, as relações bilaterais entre Brasil e Alemanha, de forma geral, ficam em segundo plano em função das negociações diretas entre o governo brasileiro e a União Europeia.

"Os temas que realmente afetam as relações comerciais e políticas, como agronegócio, indústria e acesso a mercados, fazem parte da agenda com Bruxelas, não dependem de governos em particular", explica.

Nem por isso o resultado das eleições alemãs deixaria de ser relevante para o Brasil. Segundo Lohbauer, um governo CDU/FDP tende a defender, no âmbito da União Europeia, os interesses do agronegócio na região da Baviera, "o que seria menos interessante para o Brasil do que uma posição social democrata (SPD/Partido Verde)", diz.

BRIC Gipfel in Russland
Brasil se destaca entre os membros do BRICFoto: AP

Mas o Brasil pode esperar mais boa vontade do que competição, seja qual for o partido vencedor no pleito alemão. Na opinião de Jochen Steinhilber, diretor da Fundação Friedrich Ebert no Brasil, a tendência de qualquer dos partidos é ampliar as relações com o Brasil, principalmente no que diz respeito à governança globalizada.

"O Brasil é líder do Mercosul e tem posição de destaque entre os membros do BRIC, por se tratar de uma sociedade civil democrática, sem conflitos, sem grupos querendo tomar o poder, coisa que acontece nos outros países. Independentemente do governo que assumir, o cenário tende a ser positivo", diz ele.

Cooperação ambiental

BdT Brasilien Rodung in Amazonas Holz auf Floß
Alemanha destinou 26 milhões de dólares para Fundo AmazôniaFoto: AP

Relevantes ou não, Brasil e Alemanha têm 234 acordos bilaterais vigentes desde 1953, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores. Só no ano passado foram assinados três novos convênios, todos relacionados a meio ambiente e energias renováveis.

De acordo com Thomas Fatheuer, diretor da Fundação Heinrich Böll no Brasil, a questão ambiental deve aproximar cada vez mais os dois países. "Na última Convenção do Clima, o Brasil anunciou a criação do Fundo Amazônia, com verba internacional, e assumiu uma meta de redução de desmatamento. A Noruega se comprometeu com uma quantia significativa (110 milhões de dólares), e a Alemanha veio em segundo lugar, com 26 milhões. Não é muito, mas é o primeiro passo de uma nova parceria para apoiar um país a combater o desmatamento de maneira soberana", diz Fatheuer. Esse tipo de iniciativa, segundo ele, depende, sim, de predisposição política.

Economia: questão de Estado, não de governo

Em termos de parcerias bilaterais, o setor mais significativo e menos vulnerável é o econômico. Segundo números da Câmara Brasil-Alemanha, as cerca de 1.200 empresas de capital alemão instaladas no território brasileiro respondem por 10% do PIB industrial do Brasil. Elas fortalecem as ligações entre os dois países sem, no entanto, sofrerem influência do cenário político. "A cooperação é uma questão de Estado, não de governo", explica Carlos Alberto Schneider, presidente da Fundação Certi, que tem projetos de cooperação tecnológica com a Alemanha.

Os governos, de qualquer forma, têm unido esforços para fomentar a cooperação tecnológica entre os dois países. Dezenas de projetos executados por centros de tecnologia e empresas privadas são patrocinados pelo Ministério da Educação e Pesquisa (BMBF), na Alemanha, e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), no Brasil.

"No Encontro Econômico Brasil-Alemanha 2009, em Vitória, vimos uma mobilização para ampliar parcerias nesse setor. No próximo encontro, em Munique, a cooperação bilateral em tecnologia e inovação é cotada como tema prioritário", conta Schneider.

Eleições brasileiras em 2010

Brasilien Deutschland Angela Merkel in Sao Paulo bei Jose Serra
Merkel e Serra, durante um encontro em São PauloFoto: AP

Do Brasil, caso haja uma mudança de governo nas eleições de 2010, há quem espere menos intransigência diplomática e mais objetividade. "O Brasil foi um pouco relutante nos acordos internacionais. No âmbito da OMC, as negociações não avançaram muito nos últimos anos, porque o Brasil insistiu em concessões significativas em subsídios agrícolas. Talvez com um governo social-democrata, por exemplo, fosse mais fácil fechar um acordo com a União Europeia", diz Thomas Fatheuer, da Fundação Heinrich Böll.

Para o especialista em América Latina Günther Maihold, do Instituto Alemão de Política Internacional e de Segurança (SWP), em Berlim, uma mudança de governo no Brasil focaria a política externa brasileira em aspectos econômicos.

"Caso houvesse, no Brasil, uma mudança de governo através de uma vitória de José Serra nas urnas, poderíamos esperar uma redução no grande número de iniciativas de política externa do governo Lula e um fortalecimento de uma linha de negociações de viés mais econômico em termos de política externa. Isso poderia aumentar a atenção dada à Europa pelo Brasil, possibilitando, com isso, o fortalecimento de uma atuação conjunta, em detrimento da atual dispersão de interesses da política externa brasileira. Assim, o próprio Mercosul, que é tradicionalmente o parceiro mais importante da Europa e da Alemanha na América Latina, poderia voltar a ter um papel mais significativo", estima Maihold.

Preocupações excessivas

Brasilien Deutschland Angela Merkel bei Lula da Silva in Brasilia
Merkel e Lula, reunidos em BrasíliaFoto: AP

Para ele, as relações bilaterais entre Brasil e Alemanha se desenvolvem abaixo do potencial que poderiam alcançar. A parceria definida entre a premiê alemã e o presidente Lula na última visita de Merkel ao Brasil, segundo Mainhold, deixou muitas lacunas.

"A Alemanha ainda não reconheceu de fato a importância de um parceiro como o Brasil. Por outro lado, o Brasil se embrenha demais nos cálculos táticos de sua política internacional, em vez de desenvolver uma visão estratégica para projetos de cooperação", avalia o especialista.

Quaisquer que sejam os governos a assumirem o poder daqui para frente, espaço para trabalhar em iniciativas conjuntas, tem de sobra.

Autora: Francis França

Revisão: Soraia Vilela