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ONU aponta avanços e deficiências em Objetivos do Milênio

Nina Werkhäuser (ca)8 de julho de 2014

A comunidade internacional ainda tem um ano para realizar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, formulados em 2000. Na reta final, fica claro que a luta contra a fome e a miséria ainda está longe de ser vencida.

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Foto: UN Photo/Logan Abassi

No ano 2000, a Organização das Nações Unidas estabeleceu oito metas mensuráveis na luta contra a fome, miséria e doenças. Desde então, algumas foram alcançadas. Porém centenas de milhões de pessoas continuam passando fome.

"Até 2015, devemos mobilizar mais uma vez todas as forças", disse o representante da ONU Richard Dictus na apresentação em Berlim do relatório de 2014 sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. O holandês, que é representante na Alemanha do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud), defende que esses objetivos – intitulados no Brasil "Oito Jeitos de Mudar o Mundo" – salvam vidas.

O relatório aponta, por exemplo, progressos significativos no combate à malária e à tuberculose. A ONU estima que, entre 2000 e 2012, pôde-se evitar um total de 3,3 milhões de óbitos por infecções de malária, especialmente em crianças pequenas. Para isso, contribuiu sobretudo o uso de mosquiteiros sobre as camas: entre 2004 e 2013 foram distribuídos 700 milhões de redes na África Subsaariana.

Fome na África e Ásia

Também na luta contra a pobreza extrema, os 193 Estados-membros das Nações Unidas já atingiram os objetivos formulados em 2000: cerca de um quinto dos habitantes dos países em desenvolvimento ainda tem de viver com menos de 1,25 dólar por dia, porém em 1990 quase a metade dessas populações vivia em tais condições.

Mesmo assim, a ONU não está satisfeita, pois o progresso ainda continua desigual: as regiões da África Subsaariana e sul da Ásia ainda estão atrasadas e não conseguirão reduzir pela metade a miséria e a fome até 2015 – a reivindicação levantada pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio há 14 anos. Ainda hoje 842 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem fome crônica.

Esse número é alarmante, comentou Wolfgang Jamann, secretário-geral da ONG Ação Agrária Alemã, segundo quem "o direito humano à alimentação também deve ser uma prioridade na próxima fase". Além dos famintos, há 2 bilhões de pessoas com carência de vitaminas e minerais: segundo Jamann, é preciso tematizar esse tipo de "fome oculta" que leva, entre outros, ao raquitismo entre as crianças.

Um bilhão sem sanitários

A Organização das Nações Unidas tampouco está satisfeita com os avanços na área de saneamento: somente 64% da humanidade tem acesso a aparelhos sanitários. "Esforços bem maiores são necessários para melhorar o saneamento", afirmou o relatório da ONU.

Também o atendimento médico de mães e crianças continua deficiente. Em 2013, quase 300 mil mulheres morreram durante a gravidez ou parto, muitas não tiveram acesso a exames pré-natais. Entre as crianças pequenas, doenças evitáveis como pneumonia e diarreia são as causas mais comuns de morte. Em todo o mundo, 162 milhões de crianças sofrem de desnutrição crônica.

Objetivos sustentáveis?

Enquanto as Nações Unidas anunciam, anualmente, balanços gerais de avanços e deficiências, especialistas defendem uma visão diferenciada dos dados estatísticos. Assim, o progresso global no combate à pobreza e à fome remonta, principalmente, ao fato de a populosa China ter melhorado muito nesse setor – e basicamente em consequência de seu programa de desenvolvimento nacional.

"Mas se olharmos para a África, então o número de pobres e miseráveis não diminuiu, e sim cresceu", aponta Barbara Unmüssig, especialista em questões ambientais e de desenvolvimento global da Fundação Heinrich Böll. E isso apesar da alta produção de matérias-primas que alguns países da África Subsaariana vêm apresentando.

"Se este boomde matérias-primas na África levasse a um desenvolvimento sustentável e orientado em favor dos pobres, ele seria muito mais eficaz do que as transferências da ajuda ao desenvolvimento provenientes dos países industrializados do Norte", declarou Unmüssig em entrevista à Deutsche Welle.

De acordo com Unmüssig, os Objetivos do Milênio são, em parte, "simplistas". É óbvio que multiplicar o número de aparelhos sanitários ou mosquiteiros são projetos importantes. Ao mesmo tempo, porém, são negligenciadas relações estruturais, como, por exemplo, os efeitos da política econômica, agrícola e ambiental dos países industrializados sobre os países em desenvolvimento, explicou a cientista política.

Também dentro de cada país, os recursos devem ser mais bem distribuídos e o crescente abismo entre pobres e ricos, superado. Caso contrário, a ajuda ao desenvolvimento é apenas uma gota no oceano, afirmou Unmüssig.

As metas para o período após 2015, que estão sendo trabalhadas agora pelas Nações Unidas, podem vir a preencher esse déficit. Segundo Richard Dictus, são necessárias "novas ideias e inovações" para se continuar a alimentar 8 bilhões de pessoas no mundo. "Simplicidade e clareza" também não faltarão à agenda de trabalho pós-2015, mas a interdependência entre países desenvolvidos e em desenvolvimento será levada mais em conta futuramente, afirma o funcionário da ONU.