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Reino Unido sanciona Rússia por "referendos" na Ucrânia

27 de setembro de 2022

Empresas, oligarcas e militares de alto escalão estão na nova lista de sancionados. Votação sobre anexação por Moscou de territórios na Ucrânia é condenada pelo Ocidente e por Kiev. Rússia alega grande participação.

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Homem deposita voto em uma urna transparente
Referendos ilegais estão sendo relizados em quatro regiões parcial ou totalmente ocupadas por MoscouFoto: Alexey Pavlishak/REUTERS

O Reino Unido anunciou nesta segunda-feira (26/09) novas sanções contra a Rússia, em retaliação aos referendos de anexação "ilegais" organizados em quatro regiões da Ucrânia ocupadas total ou parcialmente por Moscou.

"Referendos fraudulentos realizados com uma arma apontada não podem ser livres e justos e nós nunca reconheceremos os resultados", afirmou o ministro das Relações Exteriores britânico, James Cleverly.

"As sanções de hoje terão como alvo aqueles por trás desses falsos referendos, bem como os indivíduos que continuam sustentando a guerra de agressão do regime russo", acrescentou.

Os referendos sobre a adesão pela Rússia das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, e das regiões de Kherson e Zaporíjia, no sul, parcialmente sob domínio russo, começaram na sexta-feira e seguem até esta terça-feira. Eles não são reconhecidos pelo direito internacional - e Kiev e o Ocidente já deixaram claro que não aceitarão os resultados.

Entre as 92 novas entidades e pessoas sancionadas estão oficiais russos de alto escalão que organizaram os referendos ilegais e a empresa IMA Consulting, descrita por Londres como a "agência de relações públicas favorita" do presidente russo, Vladimir Putin. A empresa foi contratada para "gerir campanhas destes referendos falsos", justificou o Ministério das Relações Exteriores britânico.

Alguns dos outros sancionados são o governador de Kherson nomeado por Moscou, Sergei Yeliseyev, o diretor de Educação e Ciência em Lugansk, Ivan Kusov, o governador de Zaporíjia, Yevhen Balyskyi, e o vice-presidente da autoproclamada república de Donetsk, Evgeniy Solntsev.

Além disso, quatro oligarcas foram adicionados à lista: God Nisanov e Zaraj Iliev, diretores de grupos imobiliários, Iskander Makhmudov, diretor de duas siderúrgicas, e Igor Makarov, presidente do grupo Areti, que atua no setor de petróleo e gás. Outros 23 indivíduos incluídos na lista estão ligados ao Gazprombank, 16 ao Sberbank e 10 ao Sovcombank, três dos principais bancos russos. 

Até agora, o Reino Unido sancionou mais de 1,2 mil indivíduos e 120 entidades, em retaliação à invasão da Ucrânia pela Rússia, que começou em 24 de fevereiro.

Fila de trabalhadores para votar
Há evidências de que os referendos ocorrem sob ameaça de violência e intimidação Foto: AP/picture alliance

Rússia alega grande participação

A Rússia relatou nesta segunda-feira uma alta participação nas urnas, mas a informação não pôde ser comprovada. Há muitas evidências de que os referendos ocorrem sob ameaça de violência e intimidação. 

"Mais da metade dos que podem votar na região de Kherson já votaram", disse Marina Zakharova, chefe russa da comissão eleitoral local.

Antes do início da guerra, cerca de oito milhões de pessoas viviam nas quatro regiões, que correspondem, mais ou menos, a um território do tamanho de Portugal. Não está claro quantas pessoas ainda restam, mas o cientista político ucraniano Volodomyr Sonyuk estima que haja de dois a três milhões de pessoas nos territórios ocupados.

A Rússia quer usar os supostos resultados do referendo para justificar a incorporação das áreas ocupadas por separatistas leais ao Kremlin e usa o argumento do "direito do povo à autodeterminação". Os referendos estão previstos para terminar na noite desta terça-feira, e a anexação pela Rússia pode ocorrer no final da semana. Putin enfatizou que, após a anexação, Moscou trataria os ataques da Ucrânia aos territórios como ataques à Rússia e se defenderia com todos os meios.

Sem reconhecimento internacional

Nem a Ucrânia nem a comunidade internacional reconhecerão a votação por considerarem os referendos falsos, uma vez que são realizados sem o consentimento da Ucrânia, sob a lei marcial e não de acordo com os princípios democráticos. Além disso, o trabalho livre de observadores internacionais independentes também não foi possível.

Nos novos referendos, a Rússia segue o mesmo modelo adotado na época da anexação da Península da Crimeia, em 2014. Um "referendo" teria resultado em 97% de apoio à separação da Ucrânia, mas a votação jamais foi reconhecida internacionalmente.

A União Europeia (UE) e os Estados Unidos condenaram repetidas vezes a realização dessas votações, que consideram ilegítimas e fraudulentas.

Se Moscou anexar formalmente as regiões controladas pelos separatistas, Putin estaria, essencialmente, desafiando os EUA e seus aliados europeus a arriscarem um confronto militar direto com a Rússia, a maior potência nuclear do mundo.

le (Lusa, ots)