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Quem é Gabriel Boric, o novo presidente do Chile

José Urrejola
19 de dezembro de 2021

Ex-líder estudantil, de 35 anos, representa a parte da sociedade chilena que quer "mudanças profundas" e que liderou os protestos pela igualdade de 2019.

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Boric faz o número um com a mão direita e sorri. Ele usa camisa branca e blazer preto.
Foto: Elvis Gonzalez/AP/picture alliance

O ex-líder estudantil Gabriel Boric foi eleito neste domingo (19/12) o presidente mais jovem da história do Chile. Sua vitória representa uma guinada à esquerda, que rompe com três décadas de alternância entre os partidos de centro desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990.

Boric, de 35 anos e líder da Frente Ampla, representa a parte da sociedade chilena que quer "mudanças profundas" e que liderou os protestos pela igualdade de 2019.

Ele defende, sobretudo, melhores pensões, educação e saúde para os chilenos, com o objetivo de transformar o país num Estado de bem-estar social, similar ao que pretende a social-democracia europeia. Boric também põe muita ênfase no ambientalismo e no feminismo.

Quem é Gabriel Boric?

Gabriel Boric iniciou sua carreira política ainda jovem, como líder estudantil. O ativismo político o levou a abandonar os estudos de Direito, os quais ele nunca terminou, para mais tarde servir como deputado em dois mandatos.

Oriundo da região de Magallanes, no extremo sul do país, Boric pretende fazer mudanças radicais nos sistemas de pensões, impostos, saúde e educação, questões que estavam entre as principais demandas da população em outubro de 2019, durante a chamada revolta social.

Boric fez parte do acordo político que tornou possível uma solução institucional para a crise que o país vivia havia dois anos. Ele garantiu que apoiará o grupo que está atualmente redigindo a nova Constituição do país.

O que esperar do governo Boric?

O futuro governo Gabriel Boric, de acordo com a equipe econômica que o acompanha, procuraria avançar em direção à social-democracia como a existente na Europa, onde o Estado desempenha um papel mais importante na garantia dos direitos básicos dos cidadãos.

Entre suas principais propostas econômicas estão: reformar o criticado sistema de aposentadorias, uma nova reforma tributária para elevar em até 8% o PIB em seis a oito anos, elevar o salário mínimo para 500 mil pesos chilenos (520 euros) e recuperar as pequenas e médias empresas.

Entre as medidas mais importantes de seu programa de governo está também aplicar um imposto patrimonial, que afetaria apenas 11 mil pessoas, ou seja, 0,1% da população, com a intenção de aumentar "cerca de 1,5% do PIB".

Seus principais detratores consideram as propostas do candidato de esquerda irrealistas, ambiciosas e difíceis de serem cumpridas no atual cenário econômico do país.

Boric de casaco preto vota. Ele olha para a câmera e faz o sinal de número um com a mãe direita. Ele usa máscara cirúrgica.
Boric pretende fazer mudanças radicais nos sistemas de pensões, impostos, saúde e educaçãoFoto: CLAUDIO REYES/AFP/Getty Images

Uma grande parte do setor empresarial, que critica Boric por sua inexperiência política, seu manejo supostamente impreciso dos números e sua aliança com o Partido Comunista, teme que suas medidas possam prejudicar ainda mais a economia, afugentar os investidores, endividar o país e levar o Chile a tomar um rumo semelhante ao da vizinha Argentina.

Foco na segurança, meio ambiente e minorias

Durante o último mês, e em busca de mais apoio entre os eleitores centristas e indecisos, Boric endureceu seu discurso contra o tráfico de drogas e o crime organizado, uma das muitas preocupações dos chilenos. Seu programa, portanto, inclui uma reforma estrutural da força policial chilena, que incluiria o treinamento de agentes com "pleno respeito aos direitos humanos".

Seu governo também se concentraria na proteção ambiental, na ação contra a crise climática e na descarbonização gradual, aplicando vários impostos verdes. Ele também apoia as exigências dos movimentos feministas, da diversidade sexual e das comunidades indígenas. Sobre este último ponto, seu programa fala de "um acordo sobre os termos de restituição territorial".

Aprovação irrestrita da Convenção Constituinte

Se a nova Constituição for endossada pelos cidadãos em um plebiscito e depois ratificada no Congresso, existe a possibilidade de a Convenção Constituinte decidir convocar eleições para que o país implemente a nova estrutura constitucional.

Apesar dos obstáculos que ele pode enfrentar para governar, muitos dos objetivos de Boric convergem com o trabalho que está sendo feito atualmente pela Convenção Constitucional, onde a principal força política é representada por seu espectro político.

Existe a possibilidade de o mandato de Boric durar apenas dois anos: seu governo seria de transição, para garantir o funcionamento e a segurança deste processo democrático, que se destaca, entre outras coisas, por ter paridade de gênero, assim como por integrar os povos indígenas e outras minorias.