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Quase 36 milhões de pessoas são vítimas da escravidão no mundo

18 de novembro de 2014

Segundo Índice Global de Escravidão de 2014 (GSI), número é cerca de 20% maior do que o estimado anteriormente. Brasil, onde apenas 0,0775% da população é afetada, recebe elogios por esforços do governo.

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Foto: picture-alliance/dpa

Cerca de 35,8 milhões de pessoas estão submetidas à escravidão moderna no mundo, divulgou o grupo de defesa de direitos humanos Walk Free Foundation nesta segunda-feira (17/11). Em seu segundo Índice Global de Escravidão (GSI, em inglês), a instituição afirma que, devido a novos métodos, o número de pessoas escravizadas no mundo é em torno de 20% maior do que o estimado anteriormente.

A Walk Free havia estimado em seu índice inaugural, no ano passado, que mais de 29 milhões de pessoas nasceram em condições de escravidão, eram traficadas para trabalhos sexuais, presas em servidão por dívidas ou exploradas através de trabalhos forçados.

"Há uma suposição de que a escravidão é algo de épocas passadas. Ou de que ela existe apenas em países devastados pela guerra e pela pobreza", disse Andrew Forrest, presidente do grupo de direitos humanos baseado na Austrália.

"Estes resultados mostram que a escravidão moderna existe em todos os países. Somos todos responsáveis pelas situações mais terríveis em que existe a escravidão moderna e a miséria desesperada que flagela nossos companheiros seres humanos", destacou Forrest.

Pelo segundo ano, a Índia lidera o índice de 167 países no número totalitário de escravos. Cerca de 14,3 milhões de indianos – de uma população total de 1,25 bilhão – são vítimas da escravidão, incluindo desde prostituição a trabalho forçado.

Já no quesito proporcional em relação ao número de habitantes, a Mauritânia manteve a liderança, com 4% de sua população sob o regime escravocrata. No país africano, a escravidão de mouros negros por parte de árabes berberes é enraizada na sociedade.

Em seguida na lista, aparece o Uzbequistão, onde, a cada outono, o governo local força mais de um milhão de pessoas, incluindo crianças, a trabalhar na colheita de algodão. Seguem Haiti e o Catar, sede da Copa do Mundo de 2022 e constantemente nas manchetes devido às condições de trabalho nos estádios. Em 2014, foram contabilizadas 29.400 pessoas vivendo em escravidão no Catar, enquanto, em 2013, o número estimado havia sido de pouco mais de 4 mil.

Os dados mostram também que, somados, os dez países com maior número de escravos são responsáveis por 71% da escravidão global. O índice define escravidão como o controle ou a posse de pessoas, privando-as de sua liberdade com a intenção de explorá-las com fins lucrativos ou sexuais, geralmente por meio de violência, coação ou fraude. A definição inclui também o rapto de crianças para servirem em guerras.

Segundo o relatório, a escravidão moderna contribui para a produção de pelo menos 122 produtos de 58 países. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que os lucros deste trabalho forçado giram em torno de 120 bilhões de euros (390 bilhões de reais) por ano.

"Desde o pescador tailandês que arrastam as redes de pesca com comida para os peixes, ao menino congolês na mineração de diamantes, da criança uzbeque colhendo algodão até os indianos que costuram bolas de futebol. Seu trabalho forçado é o que nós consumimos", diz o relatório.

Brasil recebe elogios

Na 143º posição, quando considerada a percentagem da população vivendo em condições de escravidão, o Brasil é o quinto melhor país não europeu na lista , atrás de Nova Zelândia, Austrália, Taiwan e Cuba.

Estima-se que 155.300 mil brasileiros, ou seja, 0,0775% da população, vivam sob escravidão no país. Os principais setores que se beneficiam do trabalho forçado no Brasil são a pecuária, agricultura (soja, café, laranja, cacau), mineração de ouro e cobre, colheita de castanhas, indústria têxtil e de enlatados.

Entretanto, segundo a fundação, o Brasil faz um trabalho pró-ativo contra a escravidão. "De 167 países, há apenas três (Austrália, Brasil e Estados Unidos) em que os governos atuaram na cadeia de fornecimento", destacou a diretora executiva da Walk Free, Fiona David.

"O Brasil mantém um diálogo com as indústrias em relação a atacar escravidão moderna nas cadeias de produção", diz o relatório. O documento destaca o compromisso durante a Copa do Mundo de 2014 de prevenir o uso de trabalho forçado e tráfico humando.

Com os melhores dados do índice, a Europa tem cerca de 566 mil pessoas envolvidas em formas de escravidão moderna – os dois melhores países na classificação são Islândia e Irlanda. "O tráfico para fins de exploração sexual foi responsável por quase 70% das vítimas identificadas, enquanto o tráfico para trabalhos forçados foi responsável por 19%", afirma o relatório.

"A crise econômica e as medidas de austeridade da União Europeia fizeram com que um número crescente de cidadãos búlgaros e romenos migrasse em busca de empregos melhor pagos. Alguns desses trabalhadores podem ser enganados ou coagidos a situações de exploração", concluiu o texto.

PV/afp/rtr/2014 Global Slavery Index