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Berlinale 2011

9 de fevereiro de 2011

Glamour estelar não é o forte do Festival de Cinema de Berlim. Por outro lado, ele continua sendo, para os novos realizadores, uma porta para o mundo do cinema internacional. Em 2011, presença brasileira é modesta.

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Logomarca da 61ª edição já ocupa toda BerlimFoto: picture alliance / dpa
Deutschland Film Kultur Berlinale Erste Fans warten auf Berlinale-Tickets
Sucesso infalível de públicoFoto: dapd

Em sua 61ª edição, o Festival Internacional de Cinema de Berlim, que transcorre de 10 a 20 de fevereiro, permanece fiel a si mesmo. Talvez por falta de opção. Pois, como em anos anteriores, em 2011 os grandes nomes – os astros e estrelas das telas europeias, americanas ou asiáticas – preferiram a ensolarada Cannes. Em compensação, a capital alemã se confirma como endereço para os filmes politicamente engajados.

Um rápido exame dos selecionados para a mostra competitiva –o coração do evento – revela claramente: o foco é sobre os cineastas jovens ou menos conhecidos. Após os dez dias do festival, o essencial será a qualidade das produções. E aí, pequenas, porém preciosas descobertas à beira do caminho podem ser mais gratificantes do que o artesanato experiente dos velhos mestres.

Entre os convidados para competição deste ano encontram-se até mesmo alguns calouros de várias partes do mundo. A nacionalidade das produções e de seus realizadores torna-se cada vez menos relevante, já que a maioria dos filmes é atualmente financiada por produtores de nações diversas. Tornou-se comum os diretores nem mesmo filmarem no país em que vivem ou em que nasceram.

O filme de estreia de Yasemin Samdereli, por exemplo, chama-se Almanya – Willkommen in Deutschland: a mistura de idiomas no título já indica que seu tema são as vivências no estrangeiro. Há muito a globalização já tomou conta do mundo cinematográfico, um fato que o festival de Berlim coloca em evidência.

Flash-Galerie Pina Wim Wenders
'Pina': Wenders documenta teatro-dança em 3DFoto: NEUE ROAD MOVIES GmbH

Veteranos e principiantes

Naturalmente os cineastas alemães de renome também têm lugar de destaque no programa: ainda que com documentários, veteranos como Wim Wenders (Pina) e Werner Herzog (Cave Of Forgotten Dreams) estão presentes.

No outro extremo da escala, o jovem Ulrich Köhler concorre com seu terceiro longa-metragem, e o documentarista Andres Veiel igualmente estreia com uma película de ficção. Seu drama Wer wenn nicht wir (Quem, senão nós?) fala sobre o terrorismo na Alemanha. Da Europa, estão convidados a competir o austríaco Wolfgang Murnberger, o excêntrico húngaro Béla Tarr e o francês Michel Ocelot, com um filme de animação.

Não muitos cinéfilos conhecem os norte-americanos J.C. Chandor e Victoria Mahoney: como em 2010, os papas da direção de Hollywood primam pela ausência, na Berlinale.

O que não significa que irá faltar glamour estelar ao evento: entre outros, estão sendo esperados Matt Damon, Demi Moore, Kevin Spacey, Jeremy Irons, Ralph Fiennes, Diana Kruger. E, pelo menos na abertura do festival, a opulência hollywoodiana marca presença com Bravura indômita (True grit), dos irmãos Coen.

Poucos brasileiros, mácula iraniana

Uma outra tradição mantida este ano é a ênfase em produções da América Latina (Argentina, México, Uruguai) e da Ásia (China, Coreia do Sul).

Deutschland Berlinale Jose Padilha Goldener Bär
José Padiha, com o Urso de Ouro 2008, retorna este anoFoto: AP

A participação brasileira, por sua vez, é bastante modesta na 61ª edição. José Padilha apresenta na seção Panorama a segunda parte do épico de violência urbana Tropa de elite, que lhe valeu o Urso de Ouro da Berlinale em 2008. A outras duas seleções são: Os residentes, de Tiago Mata Machado – um acerto de contas tão engajado quanto irônico com as vanguardas dos anos 60 e 70; e Ensolarado – curta infanto-juvenil do mineiro Ricardo Targino. Do programa de coprodução e divulgação, participam 24 produtoras brasileiras.

As contribuições do Oriente Médio (Israel, Irã), são também esperadas com ansiedade na Berlinale. E, com a prisão do cineasta Jafar Panahi, Teerã é responsável por um dos capítulos mais tristes do evento. Apesar da condenação, os organizadores convidaram Panahi para ser membro do júri presidido pela atriz e diretora Isabella Rossellini. Ao fim do festival, é ela que designará o cobiçado Urso de Ouro a um dos 16 competidores.

O Forum, que abre espaço para o cinema independente, dedica-se em 2011 aos temas família, sociedade, identidade: 39 produções de todo o mundo – muitas das quais, documentários – examinam as radicais revoluções e rupturas sociais que afetam muitos habitantes do planeta.

Uma olhada no programa da seção Panorama confirma até que ponto as delimitações definidas entre as diferentes categorias – como Mostra Competitiva ou Forum – se dissolveram, nos últimos anos. Também aqui são numerosos os calouros; os realizadores perscrutam regiões de crise como o Oriente Médio e o Afeganistão; e nomes conhecidos se alternam com iniciantes talentosos, atrás e diante das câmeras.

Dieter Kosslik Berlinale
Dieter Kosslick, diretor do festivalFoto: AP

Megalomania justificada

Também em 2011, a extensão da Berlinale chega a parecer excessiva. Numerosas mostras paralelas, eventos e sessões especiais complementam as seções conhecidas, acompanhadas por retrospectivas (Ingmar Bergman), uma homenagem ao ator alemão Armin Müller-Stahl, e a série Generation, dedicada ao público infanto-juvenil.

O diretor do festival, Dieter Kosslick, costuma responder às críticas sobre o evento com um argumento: o interesse do público. Enquanto dezenas de milhares de espectadores entusiásticos continuarem lotando as salas de exibição durante os dez dias da Berlinale, ele aceita com serenidade a acusação de megalomania.

A Berlinale é um festival de público em meio a uma metrópole europeia. É isso o que, também no futuro, continuará distinguindo-o dos concorrentes Cannes e Veneza.

Autoria: Jochen Kürten / Augusto Valente
Revisão: Carlos Albuquerque