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Rússia

Andreas Noll (sm)9 de fevereiro de 2007

Com sua defesa verbal de uma ordem mundial multipolar, o presidente russo não convence o Ocidente, cético em relação à política de Moscou. 43ª Conferência Internacional de Segurança aborda sinais de uma nova guerra fria.

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Ordem mundial multipolar?Foto: AP

Os americanos acusam Moscou de tentar exercer um domínio imperialista sobre os países vizinhos. Os europeus reclamam da postura agressiva da Rússia em questões de energia. Um conflito recente com Belarus em torno do fornecimento de petróleo levou ao bloqueio de um pipeline importante para o mercado europeu. Será que a Rússia ainda é uma parceira confiável?

O presidente russo, Vladimir Putin, será confrontado com essas questões ao participar da 43ª Conferência Internacional de Segurança, em Munique, que reunirá mais de 250 participantes, entre eles ministros da Defesa de diversas nações. Neste sábado (10/02), Putin fará o discurso de abertura do evento.

Políticos europeus, como a premiê alemã, Angela Merkel, se mostram alarmados com a situação: "Este incidente evidentemente não implicou nenhuma ameaça aguda ao nosso abastecimento energético, mas nos últimos anos houve uma série de problemas nas vias de transporte. Em decorrência disso, precisamos de uma segurança com respaldo jurídico e contratual".

Parceria vigiada

É por isso que a Comissão Européia está negociando um novo acordo de parceria com a Rússia. Mas até agora o Kremlin vem bloqueando questões importantes. Para o especialista em política russa, Eberhard Schneider, de Giessen, Moscou acredita ter todos os trunfos na mão.

"A energia é um instrumento importante para a Rússia tentar se impor como grande potência. Não se pode esquecer que o orçamento russo é praticamente financiado pela arrecadação dos impostos de exportação de petróleo e gás, de forma que isso também é um meio indireto de estabilizar as finanças estatais russas", afirmou.

A pressão russa atinge sobretudo Belarus, a Ucrânia e a Geórgia, um país mais voltado para o Ocidente. Para o cientista político Alexander Rahr, de Berlim, a União Européia teria o dever de interferir.

"Talvez fosse o caso de criar uma nova linha direta, como a que havia entre Washington e Moscou durante a Guerra Fria. Um canal desses seria necessário hoje entre Bruxelas e Moscou, a fim de eliminar esses problemas que poderão levar a rivalidades geopolíticas ou até a uma espécie de nova guerra fria em matéria de energia", disse Rahr.

Energia instrumentalizada

Especialistas em segurança apontam disputas por matéria-prima e energia como as principais causas de crises e guerras. As novas diretrizes do governo alemão para política de segurança, sancionadas há poucos meses, contêm um parágrafo sobre segurança na política energética. Ao inclui-lo, o ministro alemão da Defesa, Franz-Josef Jung, tinha em mente as freqüentes ameaças iranianas de bloquear as exportações de petróleo da região.

Também o fato de a Rússia, após a paralisia provocada pelo choque do fim da Guerra Fria, estar agora dando maiores demonstrações de poder está diretamente ligado à riqueza de matérias-primas. Como segundo maior exportador de petróleo do mundo, o país desempenha um papel central no abastecimento energético do Ocidente.

O mesmo se aplica ao gás natural: dois terços das importações da União Européia provêm da Rússia. Os governos em Teerã e Moscou não escondem que cogitam a criação de uma espécie de Opep do gás, que lhes permitiria ditar ao Ocidente os preços de mercado.

Uma nova guerra fria?

Nos últimos anos, a Rússia também vem tentando com maior intensidade medir força com o Ocidente em questões militares. Até 2015, Moscou pretende modernizar inteiramente seu arsenal, o que inclui a fabricação de mais de 50 mísseis intercontinentais do tipo Topol-M. Em reação aos planos norte-americanos de criar um sistema antimíssil na Europa, capaz de superar os mísseis Topol-M, o Ministério russo da Defesa anunciou que pretende repensar as relações de Moscou com a Otan.

Os Estados Unidos planejam estacionar no norte da Polônia foguetes capazes de interceptar e destruir mísseis de médio e longo alcance. O escudo antimíssil norte-americano se dirige sobretudo contra um eventual ataque iraniano. No entanto, a "Missile Defence Initiative" mudaria a relação de forças entre a Rússia e o Ocidente. E o governo em Moscou não pretende aceitar calado essa mudança.

Em suas declarações, o presidente russo Vladimir Putin sempre volta a assegurar, no entanto, a manutenção das relações de cooperação com o Ocidente. Há poucos dias, ele declarou que "superpotência é uma expressão da Guerra Fria. E quando a Rússia é acusada de almejar este status, trata-se de uma tentativa de abalar a confiança mútua. Moscou se empenha por uma ordem mundial multipolar democrática e pelo fortalecimento do sistema do Direito Internacional".