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Radiatividade

10 de fevereiro de 2010

Ministério alemão do Meio Ambiente quer proibir trítio em bens de consumo, o que levou às barricadas dois fabricantes de relógios suíços que usam o isótopo de hidrogênio.

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Trítio é usado para iluminar marcadores de relógiosFoto: AP

Nem todos os conflitos entre a União Europeia e a Suíça têm a ver com sonegação de impostos ou contas bancárias obscuras. No ano passado, dois relojoeiros suíços tiveram um desentendimento com o Ministério alemão do Meio Ambiente (BMU) por causa dos planos de proibição de trítio em bens de consumo.

O pomo da discórdia é um projeto de alteração do Código alemão de Proteção contra Radiação visando a proibir trítio em todos os bens de consumo. O trítio, também conhecido como trício, é um isótopo do hidrogênio que emite radiação de baixa energia.

A substância é usada para iluminar marcações em produtos, como mostradores analógicos em aeronaves, miras de armas, sinalizações de saída em locais escuros e, especialmente, relógios de pulso das marcas Luminox e Traser.

Brilho constante tornou marcas populares

O ministério alemão quer proibir, entre outras coisas, "fontes gasosas de luz que não desempenhem necessariamente funções essenciais" em um relógio. Martin Grossenbacher, porta-voz da Mondaine, empresa suíça que fabrica e distribui a marca americana Luminox, diz que as alternativas ao trítio, como a pintura fosforescente, apenas mantêm a carga por algumas horas.

"Pense num bombeiro que é acordado às quatro da manhã e que tem que correr para o carro – ele precisa estar em condições de ler o seu relógio", acentua Grossenbacher. "O mesmo acontece com pessoas da área médica, no ramo de segurança e nos esportes."

Ele ressalta que o brilho constante do trítio tornou populares os relógios Luminox entre a força de operações especiais US NAVY SEALS, da Marinha dos EUA, várias guardas costeiras e equipes de resgate por helicóptero, como a unidade Christoph 2, em Frankfurt.

Mostrador luminoso

O que aborrece os fabricantes suíços de relógios é que o projeto de alteração previsto pelo ministério alemão não diferencia entre a tinta de trítio usada no mostrador e nos ponteiros (como substituto para a tóxica tinta de rádio) e a nova tecnologia conhecida como fonte de luz de trítio gasoso (GTLS, do inglês), que é comercializada pela empresa suíça mb-microtec.

Essa tecnologia reúne trítio em cápsulas de vidro de silicato de boro, com um revestimento fosforescente. Essas ampolas instaladas no marcador do relógio produzem um brilho constante por mais de 25 anos.

Luminox Uhr leuchtet in der Dunkelheit
Material fosforescente permite brilho constante por mais de 25 anosFoto: Mondaine Ltd

"Fizemos todos os testes com as autoridades suíças de saúde, incluindo o pior que poderia acontecer com um relógio de pulso, com todas as cápsulas sendo esmagadas de uma só vez", diz Sandro Schneider, executivo da mb-microtec, que também fabrica os relógios Traser. "Você precisa considerar que o trítio é gás de hidrogênio e que se dissipa a uma velocidade de três metros por segundo!"

Apoio na Alemanha

Martin Grossenbacher é menos científico: "Se você realmente conseguir esmagar um relógio", diz ele com um leve ar de incredulidade, "é com o seu braço que você vai ter que se preocupar."

Em sua luta para obter uma isenção da eventual regulamentação, os fabricantes suíços receberam o apoio de políticos e cientistas na Alemanha. Segundo Schneider, os ministérios alemães de Educação e Pesquisa e de Economia e Tecnologia também são contra a alteração.

Também a indústria não teria nada contra o regulamento. A proibição, por outro lado, incentivaria os mercados cinza e negro e, consequentemente, ocasionaria a perda de controle sobre as cápsulas de trítio. Através da internet e das fronteiras abertas, a proibição seria impraticável.

Preocupações com a saúde?

Em outubro de 2009, um grupo de organizações médicas e científicas, incluindo a Associação Teuto-Suíça para Proteção Radiológica e da Sociedade Alemã de Pesquisa em Medicina Nuclear publicaram um documento afirmando que não viam "nenhuma razão para tornar mais rigorosa a proteção contra as radiações na Alemanha".

GTLS Tritium Vial
Pequena cápsula de vidro revestida com substância fosforescente ativada pelo trítioFoto: mb-microtec

De acordo com os órgãos alemães de proteção contra a radioatividade, mesmo quando utilizado como tinta, trítio emite apenas 0,02 milisievert de radiação. Esse valor está bem abaixo do limite oficial. Com GTLS, a radiação é praticamente indetectável.

"Os militares e outros grupos de profissionais utilizam com frequência equipamentos com a tecnologia GTLS", afirma Martin Grossenbacher. "Há 20 anos importamos relógios desse tipo para a EUA. Tivemos de realizar rigorosos testes de contaminação para cada remessa e nunca houve uma única falha."

Bananas radiativas

Mas o Ministério alemão do Meio Ambiente está convencido de que o trítio deve ser proibido. As argumentações tomaram dimensões absurdas e os estudos sobre o assunto se proliferaram.

Segundo um deles, quem vive ou trabalha acima do 15º andar de um edifício ou quem viaja de avião está exposto a uma quantidade maior de trítio do que quem usa um relógio, mesmo que este esteja danificado a ponto de emitir mais radiação.

Mesmo quem come uma banana pode ser exposto a uma radiação maior do que usando um relógio, diz Sandro Schneider, porque elas contêm potássio-40.

Autor: Marton Radkai (rw)
Revisão: Simone Lopes