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Pressão popular força guinada verde de partidos alemães

Austin Davis pv
24 de maio de 2019

Proteção climática é prioridade para alemães nas eleições europeias. Establishment político tenta convencer eleitorado de que pode conduzir revolução energética e reduzir emissões, e Partido Verde sobe nas pesquisas.

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Estudante sentada com um cartaz durante um protesto do movimento "Fridays for Future"
Protesto do movimento contra as mudanças climáticas "Fridays for Future", em BerlimFoto: picture-alliance/dpa/P. Zinken

Há uma sensação de missão cumprida entre os participantes do mais recente protesto ambiental intitulado "Fridays for Future" (ou Greve pelo Futuro, como vem sendo chamado no Brasil) no pequeno parque Invaliden Park, em Berlim, às vésperas de as urnas abrirem no país para as eleições europeias.

E não apenas porque a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, mencionou o movimento pelo nome quando anunciou recentemente que o país buscará a meta de emissões zero de carbono até 2050, mas também porque os temas climáticos se tornaram a principal preocupação entre os eleitores antes destas eleições europeias, segundo as mais recentes pesquisas.

Os principais partidos alemães correram para reforçar suas propostas sobre políticas climáticas e ambientais para angariar votos de última hora.

"Acredito que os partidos políticos estão finalmente percebendo o quão importante são as mudanças climáticas e o quanto as levamos a sério", disse Leonel, um estudante de 20 anos que participou do protesto em Berlim.

Mas eleitores como Leonel e analistas climáticos hesitam em acreditar irrefletidamente em retóricas de campanha, apontando as consequências do que consideram anos de transição mal feita para energias renováveis e promessas vazias de redução de emissões.

Há uma boa razão pela qual os ativistas climáticos foram rápidos em classificar o pleito europeu deste ano de "eleições climáticas": 48% dos alemães afirmam que a proteção ambiental e climática é decisiva para seu voto – um aumento de 28% em relação às eleições europeias de 2014.

Muito se deve à pressão que os protestos "Fridays for Future", iniciados pela adolescente sueca Greta Thunberg, colocaram sob o establishment político internacional desde 2018. Mas também é resultado dos demasiados escândalos ambientais que prejudicaram a reputação internacional da Alemanha como líder global em proteção climática.

Em 2018, a Alemanha obteve cerca de 40% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis, segunda a organização de pesquisa Instituto Fraunhofer. Mas o país ainda é fortemente dependente do carvão e carece severamente da infraestrutura necessária para impulsionar energias renováveis.

Enquanto isso, as emissões do setor de transportes da Alemanha mal se alteraram desde 1990, fato ressaltado pelo escândalo de fraudes nas emissões de motores a diesel protagonizado por montadoras alemãs. Outros setores, como habitação e agricultura, também demandam reformas em grande escala.

Com base na situação atual, a Alemanha ficará longe de cumprir as metas de emissões de 2020 com as quais se comprometeu quando assinou o Acordo Climático de Paris, em 2015. Além disso, o país enfrenta mais de uma dúzia de processos ambientais da União Europeia.

"Obtivemos muito progresso com as energias renováveis, mas as coisas ficam mais difíceis quando se olham mais de perto todos os processos", disse o advogado Matthias Lang, da advocacia ambiental Bird & Bird de Düsseldorf, em entrevista à DW. "É muito fácil colher as frutas mais acessíveis. Mas leva muito mais tempo e exige muito mais esforço fazer as coisas corretamente."

Pesquisas mostram que 81% dos alemães exigem melhores ações na política climática e na proteção ambiental. Os partidos políticos alemães têm observado que o outrora periférico Partido Verde atingiu o patamar de 17% das intenções de votos antes das eleições europeias com sua campanha estratégica sobre clima e política ambiental.

O Partido Liberal Democrático (FDP) propõe a inovação tecnológica e o comércio de certificados de dióxido de carbono como um caminho verde que não compromete a economia, segundo disse Judith Skudelny, porta-voz de política ambiental dos liberais no Bundestag (Parlamento alemão), em entrevista à DW.

Os partidos A Esquerda e Social-Democrata (SPD) também vincularam a reforma ambiental aos seus mantras tradicionais. A Esquerda defende a propriedade pública e cooperativa de indústrias que atuariam no interesse público de proteger o meio ambiente. O SPD, membro da coalizão de governo atual, apoia metas ambiciosas de emissões e o abandono do uso de energia a carvão pela Alemanha, garantindo proteção aos trabalhadores do setor.

"Só o fato de que o SPD agora apoia o abandono do carvão é algo enorme", disse à DW Carsten Träger, porta-voz para questões ambientais dos social-democratas no Bundestag.

Até mesmo o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), normalmente focado na política de imigração, tem seguido essa tendência. O porta-voz ambiental da legenda no Bundestag, Karsten Hilse, afirmou à DW que a influência do homem nas mudanças climáticas é dramatizada e que o partido defende o prosseguimento do uso de combustíveis fósseis numa mescla energética na Alemanha – posição que ele insiste não ser uma manobra para reforçar o apoio de direita.

Embora seja importante que a maioria dos partidos políticos esteja finalmente discutindo detalhadamente como reduzir as emissões e proteger o meio ambiente, a indecisão entre as forças políticas mais poderosas da Alemanha sobre qual caminho a ser adotado é uma tendência preocupante, segundo Olaf Tschimpke, presidente do grupo conservacionista Naturschutzbund Deutschland (Nabu).

"Partes da União [CDU/CSU] não estão convencidas", disse ele em entrevista à DW. Tschimpke estava se referindo à conservadora União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal alemã, Angela Merkel, e seu partido irmão da Baviera, a União Social Cristã (CSU).

Até o fim deste ano, devem ser adotadas leis-chave para definir uma data final para o uso do carvão pela Alemanha e tornar setores governamentais individuais mais responsáveis pelas emissões que produzem. "Mas se não mantivermos a pressão, não veremos nenhum movimento", disse Tschimpke.

Os partidos políticos alemães dizem que, apesar de respeitarem os esforços dos jovens ativistas do "Fridays for Future", não tomarão decisões monumentais somente para angariar votos.

"Se todos esses sistemas forem reestruturados, temos que observar de perto os ciclos de investimento, como as coisas serão financiadas, bem como as consequências sociais e o impacto no emprego", disse Marie-Luise Dött, porta-voz para questões ambientais da CDU no Bundestag. "Isso não é algo que pode ser feito da noite para o dia."

Mas para o ativista Leonel, basta olhar para os números dos partidos tradicionais nas pesquisas para ver que tais desculpas do establishment político não devem mais colar com os eleitores. Tanto a CDU/CSU quanto o SPD perderam votos em comparação com 2014.

Na pesquisa mais recente do instituto Infratest dimap, o Partido Verde, por sua vez, apareceu com 19% das intenções de voto, empatado com o SPD e mais de oito pontos percentuais acima do que obteve nas eleições de 2014.

"Não estou convencido", disse Leonel sobre a reforma ambiental do governo alemão. Seu cartaz, na passeata em Berlim: "A CDU e a proteção do clima são como pizza e abacaxi: simplesmente não combinam."        

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