1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Presidente egípcio depõe militares de alto escalão

13 de agosto de 2012

Mohamed Morsi ordenou saída do ministro da Defesa e do chefe das Forças Armadas. Para especialistas, acontecimentos recentes significam diminuição do poder dos militares e também reforço da posição do presidente.

https://p.dw.com/p/15p4x
portrait mursi /eingest.
Foto: ap

O presidente egípcio, Mohamed Morsi, depôs os dois militares da mais alta patente do país neste domingo (12/08) – Hussein Tantawi, ministro da Defesa, e Sami Annan, chefe das Forças Armadas, numa surpreendente manobra de poder.

Há indicações de o motivo da decisão seria o recente ataque terrorista por supostos radicais islâmicos na Península do Sinai, que matou 16 policiais de fronteira egípcios. Como primeira reação, Morsi já havia deposto o chefe do Serviço de Informações Militares e o governador do norte do Sinai.

Morsi pode ter deliberado com outros grupos militares sobre a deposição de Tantawi e Annan, supõe o geógrafo alemão Günter Meyer, diretor do Centro de Pesquisa do Mundo Árabe, em Mainz.

"Os militares, sobretudo o ministro da Defesa e comandante supremo das Forças Armadas, Tantawi, são considerados pró-EUA. E isso é absolutamente impopular no Egito de hoje", observa.

Nesse sentido, Morsi poderia ter certeza de que as duas deposições também encontrariam apoio nos mais altos círculos militares. "No Egito, surpreendentemente, se diz até mesmo que o Supremo Conselho Militar aprovou a decisão", afirma Meyer.

O cientista político Hassan Nafaa, da Universidade do Cairo, não aponta a deposição dos dois militares como concorrência entre diferentes instituições do Estado. Em vez disso, vê a situação como uma disputa de poder entre o Conselho Militar e a Irmandade Muçulmana enquanto partido político.

Deposição do ministro da Defesa, Tantawi, causou surpresa
Deposição do ministro da Defesa, Tantawi, causou surpresaFoto: AP

Para Nafaa, o Egito continua em fase de transição, e muitos egípcios têm medo de que a Irmandade Muçulmana assuma o controle. "A questão agora é saber se Morsi usará seu poder e autoridade em benefício dos egípcios ou da Irmandade Muçulmana", aponta o professor.

Exército perde poder

Os acontecimentos dos últimos dias não parecem de maneira nenhuma ter beneficiado os militares, considera Meyer. Além das deposições, Morsi anulou neste domingo poderes assegurados ao Supremo Conselho Militar através da declaração constitucional adotada pela junta militar em junho passado. Os militares de mais alta patente também deixaram de ser os comandantes supremos das Forças Armadas egípcias.

"Os últimos acontecimentos não significam somente uma diminuição do poder dos militares, mas também um reforço da posição de Morsi, que restabeleceu por decreto os antigos poderes do presidente. Resta esperar para ver se isso será aceito pelos juízes do Supremo Tribunal Constitucional", diz Meyer.

Nafaa concorda. O domínio político dos militares no Egito chegou ao fim. Pela primeira vez, o poder está nas mãos de um presidente eleito democraticamente. Embora não se possa excluir a possibilidade de os adversários de Morsi recorrerem ao Tribunal Constitucional na esperança de que se declarem inconstitucionais as decisões do presidente.

Para Nafaa, tal é possível, considerando que o Supremo Conselho Militar já tentou repetidamente assegurar seu poder político através do Tribunal Constitucional. Mas o politólogo duvida que o Conselho realmente consiga tal feito. "Nesse meio tempo, os militares perceberam que o presidente eleito detém o poder. E não acredito que eles irão abordar essa questão mais uma vez."

Outro motivo possível, é os militares terem perdido o apoio de grande parte da população, devido a sua atuação desajeitada, explica Meyer. Morsi reconheceu tal perda e também a oportunidade que significa para ele.

Enterro de guardas mortos em ataque responsabilizado por deposição dos militares
Enterro de guardas mortos em ataque responsabilizado por deposição dos militaresFoto: AP

O presidente tenta se apresentar como um homem forte – um papel que, de início, não lhe haviam confiado. "Morsi era visto como rígido e pouco capaz de se impor. Com suas últimas ações, ele rebateu essa imagem e consolidou sua posição", considera Meyer.

O mais importante agora é que Morsi use seu poder de maneira adequada. O problema é que ele reúne em si tanto o poder legislativo quanto o executivo, diz Nafaa. "Precisamos ficar atentos para que o poder político não se transforme em ditadura", alerta.

Preocupações israelenses

Os acontecimentos recentes também provocam inquietação em Israel, onde o ministro da Defesa egípcio, Tantawi, e o chefe das Froças Armadas, Annan, eram vistos como militares não hostis para com os israelenses. Nesse sentido, a mudança na chefia causa preocupação, afirma Meyer. Para alívio de Israel, os sucessores vêm do Conselho Militar.

Além disso, Tel Aviv aposta no pragmatismo dos generais que assumiram os cargos. E estes sabem quão impopular Israel é entre o povo egípcio. "Mas os generais também sabem que a ajuda militar de 1,3 bilhão de dólares vinda dos EUA não pode ser colocada em risco com a revogação do tratado de paz com Israel", ressalva o geógrafo alemão.

Autor: Kersten Knipp (lpf)
Revisão: Augusto Valente