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Presidente da Fundação Palmares é alvo do Ministério Público

30 de agosto de 2021

Sérgio Camargo tem afastamento pedido após relatos de assédio moral, perseguição ideológica e discriminação contra funcionários. Indicado por Bolsonaro, ele vem causando indignação por declarações consideradas racistas.

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Perfil de Sérgio Camargo no Twitter
Perfil de Sérgio Camargo no TwitterFoto: Twitter

Conhecido por declarações consideradas racistas, o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, é agora alvo do Ministério Público do Trabalho, que pediu seu afastamento do cargo por assédio moral, perseguição ideológica e discriminação contra funcionários da entidade.

O pedido foi noticiado pelo Fantástico, da Rede Globo, neste domingo (30/08). O programa televisivo teve acesso a ação protocolada na última sexta-feira que reúne 16 depoimentos de servidores e ex-funcionários da fundação -  instituição pública voltada para promoção e preservação dos valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira.

Segundo uma ex-funcionária, pessoas foram humilhadas publicamente, com comentários de que "esses homens que têm esses cabelos altos e que são da periferia, é tudo malandro".

De acordo com os depoimentos, Camargo falou na necessidade de se ir atrás do que ele chama de "esquerdistas", e um diretor era chamado de "direita-bundão" por não ter coragem de demitir os "esquerdistas". Os relatos também apontam que era comum o uso de palavrões em reuniões internas da fundação.

A ação conclui que "o assédio moral praticado pelo Sr. Sérgio Camargo contaminou todo o ambiente de trabalho, pois instalou um clima de terror psicológico".

Paulo Neto, procurador do Ministério Público do Trabalho do Distrito Federal, apontou que trabalhadores relataram ter desenvolvido síndrome de pânico e ansiedade e terem pedido para deixar a fundação em função do "clima degradado" e da discriminação praticada.

De acordo com a reportagem do Fantástico, a discriminação ocorria sobretudo contra pessoas negras. Um dos depoimentos diz que o presidente da fundação, que se define como um "negro de direita", queria mandar uma funcionária embora por ela ter o "cabelo típico de aparência de ‘esquerdista'".

Segundo um ex-diretor da Fundação Palmares, Camargo zomba do fato de que responde a processos por violações de diretos humanos. De acordo com o ex-funcionário, o presidente da entidade gasta mais tempo no Twitter ou no Facebook "caçando funcionários esquerdistas" do que trabalhando.

O Fantástico afirmou que Camargo não respondeu a um pedido da reportagem para se posicionar sobre a ação no Ministério Público do Trabalho, mas debochou dos questionamentos no Twitter. Ele ainda reafirmou que "orgulho do cabelo afro é ridículo".

Apoio de Bolsonaro e série de polêmicas

Segundo a reportagem, relatos de quem conviveu com Camargo indicam que ele tinha confiança de que nunca seria punido por declarações polêmicas ou perseguições feitas no ambiente de trabalho. "Eu sou apoiado por Bolsonaro e nada vai acontecer comigo", teria dito.

Camargo foi indicado pelo governo Bolsonaro para presidir a Fundação Palmares em novembro de 2019. De início, a nomeação já gerou revolta no movimento negro por causa das postagens de Camargo nas redes sociais atacando a militância antirracista. A nomeação chegou a ser suspensa pela Justiça, mas acabou liberada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Entre as controversas frases de Camargo estão "Máquina zero obrigatória para a negrada" e "Negro de esquerda é burro". Ele também afirmou que a escravidão no Brasil foi "benéfica para os descendentes" e, num áudio vazado, ele chamou o movimento negro de "escória maldita" e xingou Zumbi dos Palmares, líder quilombola que dá nome à fundação.

Em julho do ano passado, Camargo escreveu em sua conta no Twitter: "Acredito em duendes e no coelhinho da Páscoa, mas não acredito em 'racismo estrutural'. Nosso racismo é circunstancial!". Além de "negro de direita", ele se apresenta em seu perfil na rede social como "antivitimista, inimigo do politicamente correto, livre".

Em julho deste ano, a Coalizão Negra por Direitos, que reúne mais de 200 organizações, apresentou uma denúncia contra Camargo à ONU. Foram citados "constantes ataques ao patrimônio histórico e cultural da população negra e aos direitos humanos, bem como os constantes ataques a jornalistas e ao trabalho de comunicação voltados às denúncias públicas sobre temas relacionados a racismo".

lf (ots)