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Preservando o patrimônio cantado e dançado

(av)21 de abril de 2006

Nem só de parques vive a cultura. A Unesco reconhece este fato e lançou a Convenção para Proteção do Patrimônio Cultural Imaterial. Porém a Alemanha ainda não a ratificou. Folclorização e musealização representam ameaça.

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'Schäfflertänzer' de MuniqueFoto: dpa

Desde a década de 1970, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) discute a ampliação de seu programa do patrimônio cultural da humanidade. Não apenas parques naturais, igrejas e castelos formam esse patrimônio, mas também canções, danças e ritos.

Sobretudo países da América Latina e da África, assim como grandes regiões da Ásia, criticam a escassa presença de seus bens culturais na lista da Unesco, justamente por eles serem, em primeira linha, "imateriais".

Em outubro de 2003, a Unesco lançou a Convenção para Proteção do Patrimônio Cultural Imaterial. Esse acordo entrou em vigor nesta quinta-feira (20/04), após ser assinado por 30 países.

Mais de seis mil línguas ameaçadas de morte

ITB Berlin 2004
Dançarinas do Sri LankaFoto: AP

A lista do patrimônio cultural intangível contém no momento 43 ítens: tradições transmitidas oralmente, a serem protegidas e incentivadas. Formas musicais, como o samba de roda brasileiro, figuram lado a lado à arte narrativa palestina hikaye, a técnicas manuais tradicionais (como a confecção de roupas com cascas de árvore em Uganda), a manifestações de teatro e a artes plásticas ou costumes sociais.

Porém a Unesco dificilmente conseguirá sustar o processo de extinção das práticas culturais. A sentença se aplica em especial às estimadas 6800 línguas faladas no mundo, das quais 90% estão ameaçadas de desaparecer.

O prognóstico soa dramático, mas Dieter Offenhäusser, porta-voz da comissão alemã da Unesco, encara-o com sobriedade: "Línguas morrem e línguas nascem – é uma progressão totalmente natural. Porém há idiomas, como o dos habitantes das selvas latino-americanas, que portam enormes conhecimentos e sabedoria, também sobre fatos botânicos".

Documentar essas línguas é uma forma de preservar tal saber. Entretanto, nada garante que desse modo elas serão salvas da extinção definitiva. Offenhäusser considera a expectativa "arrogante": "O contexto se altera, assim como as circunstâncias. Também há motivos absolutamente naturais e normais para que um idioma morra", lembra ele.

Perigo da folclorização

Do mesmo modo, não se pode obrigar alguém a educar seus filhos na língua-mãe, se ele considera mais vantajoso adotar outro idioma. Contudo, a Unesco espera ao menos poder encorajar as pessoas a preservarem suas línguas originais.

Esse incentivo se aplica também a outros tipos de bens culturais. Assim, prevê-se incluir na lista a dança curativa vimbuza, do Malaue ou a música duduk, da Armênia. Por outro lado, Offenhäusser teme que, ao receber o título de "patrimônio da humanidade" esses bens imateriais percam sua antenticidade.

"Tal título cria, é claro, uma situação de exceção para a tradição em questão. Há o perigo de 'musealizar', de que algo seja privilegiado. E acima de tudo, o perigo da 'folclorização' definitiva, ou da exploração turística", explica o porta-voz.

Carnavais polêmicos

Karneval im Schwarwald
Carnaval da Floresta NegraFoto: AP

Este e outros problemas ocuparão a comissão da Unesco, que se reunirá pela primeira vez em setembro próximo. Diga-se de passagem, a convenção não é um ponto de consenso dentro da Europa. Dos países da Europa Ocidental, somente a Islândia a ratificou até agora. A Alemanha ainda está longe de transpô-la ao direito nacional. O fato de a ratificação ser uma questão tratada pelas numerosas secretarias estaduais impõe um obstáculo adicional.

Oficialmente há quatro grupos minoritários no país: o sórbios de Lausitz, perto das fronteiras polonesa e tcheca; os alemães frísios e os dinamarqueses no norte do país; e os ciganos rom e sinti. Todos eles recebem subsídios governamentais para manter seu idioma e sua cultura. No ano passado, os governos de Brandemburgo e da Saxônia investiram, por exemplo, mais de 16 milhões de euros em prol dos interesses dos sórbios.

"Primeiro precisamos avaliar a real necessidade de se preservar a herança cultural alemã através da convenção da Unesco", revela Dieter Offenhäusser. "E há a questão da elegibilidade. Tomemos as três grandes tradições carnavalescas como exemplo: a de Colônia, a alemânica e a da Renânia-Palatinado. Todas são importantes à tradição, estão bem vivas e são completamente diferentes." Num caso como este, qual das três mereceria ser preservada?