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Pouca presença pública

2 de julho de 2009

Especialista da ONU elogiou progressos na Alemanha nos últimos 12 anos. Porém criticou tanto a discriminação no dia-a-dia quanto a fraca presença dos imigrantes na vida pública do país.

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Githu Muigai, relator da ONU para racismo e discriminação racialFoto: picture alliance/dpa

A convite de Berlim, o relator especial da ONU para racismo, discriminação racial e xenofobia, Githu Muigai, percorreu a Alemanha durante 10 dias, com o fim de avaliar a relação entre o país e seus imigrantes e minorias.

No geral, a avaliação de sua passagem por Berlin, Colônia, Heidelberg, Karlsruhe, Stuttgart, Nurembergue, Leipzig, Rostock e Hamburgo foi positiva, embora contendo algumas ressalvas.

Progresso desde Kohl

"Acho que este grande país precisa voltar a atenção para os problemas do racismo e discriminação quotidianos, com que se é confrontado nas escolas, lugares públicos, na procura de moradia ou emprego, etc.", alertou o jurista natural do Quênia. Por outro lado, ele saudou o fato de uma das principais potências europeias haver esclarecido seu status como país de imigração.

"A admissão de que este é hoje um país de imigração, e continuará a sê-lo no futuro próximo, permitiu a todos os implicados se dedicarem a enfrentar os problemas que uma sociedade multirracial, multicultural, multiétnica e multirreligiosa implica."

Seu antecessor visitara o país em 1997. Segundo Muigai, a Alemanha percorreu um longo caminho desde os tempos do chanceler federal Helmut Kohl, que teimosamente insistia não ser a Alemanha um país de imigração.

Sete anos atrás, a conservadora União Democrata Cristã, a que pertence a atual chefe de governo, reformulou o ponto de vista de Kohl, declarando que a Alemanha não seria "de imigração" no sentido em que, historicamente, não foi formada por imigrantes.

Pouca presença pública

Com uma população composta por 19% de imigrantes de primeira e segunda gerações, a Alemanha reconheceu que tem atraído e continuará a atrair grande número de estrangeiros. Entretanto, observou o relator, é necessário que ela integre mais as minorias étnicas em sua vida pública.

Der Europaabgeordnete Cem Özdemir
Cem Özdemir é exceção no panorama político alemãoFoto: picture-alliance/ dpa

"As pessoas reagem mais ao que veem do que àquilo que ouvem. Eu gostaria de ver mais policiais de origem turca, muçulmana, africana ou vietnamita. Gostaria de ver mais funcionários desse tipo nas repartições de imigração, mais professores, mais médicos, na vida pública."

Em novembro de 2008, o Verde foi o primeiro grande partido alemão a eleger como seu líder um alemão de origem turca, Cem Özdemir. Contudo, as minorias étnicas são, em geral, uma raridade na política do país, contando com cerca de 15 deputados federais.

Racismo não é exclusividade da extrema direita

O relator das Nações Unidas chamou ainda atenção para o fato de que, devido ao passado nazista do país, haver "a tendência de equiparar o racismo à política extremista", o que seria uma visão limitada. Embora seja importante Estado e sociedade se manterem vigilantes todo o tempo, ele considera que a discriminação no contexto social é o maior problema.

Segundo representantes ouvidos por Muigai, o sistema educacional da Alemanha "não estaria respondendo às necessidades especiais das comunidades de migrantes com a sensibilidade que as circunstâncias exigem".

"Os problemas do sistema educacional estão se refletindo no sistema trabalhista, e os dois juntos estão se reforçando mutuamente para criar uma desigualdade que pode não ser intencional, mas que é o resultado final."

Mas as ressalvas de Githu Muigai foram superadas por seus elogios aos esforços do país em enfrentar as questões da discriminação. Ele destacou as cidades de Stuttgart e Nurembergue por suas boas práticas no combate ao racismo. E fez um apelo à mídia para que se contraponha à difusão de estereótipos raciais.

Perigo no NPD

Rechtsextremisten streben wieder in die Mitte der Gesellschaft
NPD quer lugar no centro da sociedadeFoto: picture-alliance/dpa

No tocante ao sucesso continuado do Partido Nacional Democrático (NPD), de extrema direita, Muigai comentou que a pobreza e a falta de oportunidades levam as pessoas a se voltarem para a política radical de direita.

Ele considera importante utilizar os mecanismos constitucionais para manter o partido em xeque, porém seu fraco desempenho político seria um testemunho da ausência de um real apoio público.

Os apelos por uma proibição do NPD têm sido constantes. O maior agrupamento de extrema direita do país não ocupa nenhuma cadeira no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento, embora disponha de representantes em duas das mais fortes assembleias estaduais da Alemanha.

O relatório de Githu Muigai será apresentado na íntegra ao Conselho de Direitos Humanos em 2010. Seu outro foco é a situação dos muçulmanos na Alemanha, após o acirramento das medidas de segurança em consequência ao 11 de Setembro.

Autor: Tanya Wood / dw
Revisão: Roselaine Wandscheer