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Gays na política

11 de outubro de 2009

Caso Guido Westerwelle venha a se tornar ministro alemão do Exterior, ele será o primeiro homossexual assumido a ocupar esse cargo na Alemanha, onde políticos gays deixaram de ser sensação. Mas existem reservas.

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Westerwelle assumiu relacionamento homossexual em 2004Foto: AP

Ele ainda não é, mas tudo indica que o presidente do Partido Liberal Democrata (FDP), Guido Westerwelle, será o próximo ministro alemão das Relações Exteriores. Ele, que também lidera a bancada parlamentar do FDP, seria então o primeiro homossexual assumido no posto de chefe da diplomacia do país.

Trata-se de um tema que, na Alemanha, deixou de ser motivo de grandes discussões, já que a presença de gays na política do país há muito se tornou comum. Isso não significa, todavia, que a homossexualidade seja aceita em todas as esferas da vida. Preconceitos e até mesmo agressões a lésbicas e gays também pertencem ao cotidiano alemão.

"Cult" na Alemanha

BdT Eröffnung U-Bahn in Berlin
Wowereit: 'Sou gay e está bem assim'Foto: AP

Já há oito anos, o prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, é o gay mais popular da Alemanha. Na convenção de seu partido, em 2001, o político social-democrata tornou pública sua orientação sexual. Assim, ele se antecipou, provavelmente, a jornalistas da imprensa marrom que explorariam de forma sensacionalista sua preferência por homens.

"Para que não surjam confusões, caros companheiras e companheiros, eu digo a vocês e àqueles que ainda não souberam: sou gay, e está bem assim", declarou Wowereit na ocasião.

A confidência de Wowereit já se tornou, há muito, cult na Alemanha e pode ser considerada um divisor de águas no tratamento do tema tabu da homossexualidade. Naturalmente, ainda existem reservas, mas a grande maioria da sociedade não tem nenhum problema com personalidades da atualidade que não escondem sua orientação sexual.

Levantando bandeira

Wowereit é presença assídua na parada em comemoração o Dia do Orgulho Gay – ou Christopher Street Day (CSD) – em Berlim, quando é lembrado mundialmente o violento ataque aos gays em Nova York, em 1969 – e, sobretudo a reação destes. Por ocasião da parada realizada anualmente no verão europeu, a bandeira do arco-íris, símbolo do movimento homossexual, é hasteada naturalmente em frente à Rotes Rathaus, o prédio da prefeitura da capital alemã.

Já por motivos de protocolo, deve-se descartar a possibilidade de a bandeira do arco-íris ser hasteada também em frente do edifício do Ministério alemão das Relações, caso o mandatário da pasta se chame Guido Westerwelle.

Mas também como ministro do Exterior, o político liberal lidaria de forma autoconfiante com sua homossexualidade, sem fazer dela uma bandeira. Em entrevista à revista alemã Stern, no ano passado, Westerwelle declarou que "a propósito, faria bem à nossa política externa, se ela levasse esse espírito de tolerância alemã a outros países".

Na mesma entrevista, o político de 47 anos lançou a ideia de que se suspenda a ajuda ao desenvolvimento a nações onde mulheres são tratadas como cidadãos de segunda categoria ou "onde homens e mulheres são executados somente só porque são homossexuais". Esse é o caso de diversos países que Westerwelle deverá visitar, caso venha a encabeçar a diplomacia alemã, como o Irã e a Arábia Saudita.

Perigo na Rússia

Volker Beck bei Demonstration in Moskau angegriffen
Volker Beck foi agredido em MoscouFoto: AP

Especialistas acreditam que países com fortes tendências homofóbicas irão antes se prejudicar, caso queiram criar dificuldades para o potencial ministro do Exterior. Volker Perthes, do Instituto Alemão de Política Internacional e de Segurança (SWP), afirma que os interessados em relações diplomáticas com a Alemanha, terão que superar, rapidamente, seus preconceitos.

O deputado alemão Volker Beck, diretor parlamentar da bancada verde, sentiu na própria pele quão perigoso pode ser para um político assumir sua homossexualidade em países como a Rússia. Há três anos, em uma passeata em Moscou, ele foi atacado e ferido. No ano seguinte, a polícia russa o prendeu – sob o pretexto de garantir sua segurança.

Beck se engaja há vários anos na Alemanha pela causa homossexual. Entre outras conquistas, devem-se a seu engajamento a ampla equiparação de direitos para casais homossexuais, ou a inauguração, em 2008, de um monumento em memória dos homossexuais perseguidos e mortos durante o regime nazista.

Para Beck, uma normalidade ainda está longe de ser alcançada na Alemanha. "Em escolas, precisamente, constatamos que isso [a discriminação dos homossexuais] voltou novamente a crescer nos últimos anos. E também noto uma maciça argumentação contra homossexuais partindo de setores religiosos, sejam comunidades conservadoras islâmicas ou evangélicas. E, também por motivos religiosos, uma política de exclusão continua a ser praticada na nossa sociedade."

Sinal de tradição

No geral, todavia, a orientação sexual não é mais motivo para acabar com uma carreira, na Alemanha. Isso vale tanto para o mundo de espetáculos quanto para a política. O prefeito de Hamburgo, o político democrata-cristão Ole von Beust, também é gay.

Günter Dworek, da Associação de Gays e Lésbicas da Alemanha, considera de grande ajuda o pioneirismo dos políticos. O fato de Klaus Wowereit se assumir encorajou a muitos. "Isso abriu os olhos de muitas pessoas para o fato de não se poder presumir, tão facilmente, que um político que já fez carreira, como Klaus Wowereit, seja heterossexual por natureza, mas que em casos como esse pode haver, definitivamente, surpresas. Foi um sinal forte, uma coisa boa que repercute até hoje repercute", explicou Dworek.

Caso Guido Westerwelle assuma o cargo de ministro alemão do Exterior, este seria o sinal mais visível nessa tradição. Em 2004, o político liberal tornou público seu relacionamento com um homem, justamente no aniversário de 50 anos de sua futura chefe, a premiê alemã Angela Merkel. Na ocasião, Westerwelle declarou: "Nunca escondi minha vida, eu simplesmente a vivi".

Autor: Marcel Fürstenau (ca)
Revisão: Augusto Valente