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"Premiê" desperta desconfiança dentro da própria oposição síria

Thomas Seibert (av)20 de março de 2013

Longos anos nos EUA e nenhuma experiência militar e política: ainda assim, Ghassan Hitto se impôs, com o apoio da Irmandade Muçulmana, e foi eleito líder do governo paralelo a Bashar al-Assad.

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Foto: Reuters

Deliberações agitadas a portas fechadas, negociações arrastadas em pequenos grupos e o anúncio de um acordo nas primeiras horas da manhã: na madrugada de terça-feira (19/03), representantes do opositor Conselho Nacional Sírio (CNS), reunidos em Istambul, elegeram seu "primeiro-ministro interino", que terá a função de liderar uma espécie de governo paralelo ao de Bashar al-Assad. Perito em informática, Ghassan Hitto, de 50 anos, foi escolhido por 35 dos 49 votantes e entusiasticamente saudado pelos oposicionistas no dia seguinte à maratona eleitoral.

Hitto, que morou e trabalhou durante décadas nos Estados Unidos, tem uma tarefa difícil pela frente. Terá que construir uma nova administração nas áreas do norte e do leste da Síria hoje sob controle rebelde e, assim, preparar a transferência de poder em Damasco.

Syrien Krieg Homs 11.03.2013
Colocar ordem nos territórios rebeldes é parte da tarefa de HittoFoto: Reuters

"Ele tem realmente muito a fazer", comentou à Deutsche Welle o ex-ministro da Agricultura Assad Asseq Mustafa, que perdeu para Hitto a corrida pela chefia do governo rebelde.

Entre a Síria e os EUA

Durante a reunião na Turquia, houve quem expressasse dúvidas quanto à capacidade de Ghassan Hitto de cumprir os desafios que lhe cabem. Segundo delegados presentes, um grupo de membros do CNS ainda tentou adiar a votação no último minuto, e outros abandonaram a assembleia antes que a eleição começasse.

Fato é que o premiê eleito jamais encabeçou uma administração, muito menos em circunstâncias de guerra civil, como é o caso da Síria no momento. Apesar de também não possuir experiência militar, assume desde já a liderança dos grupos rebeldes armados, na qualidade de comandante político.

Críticos internos também questionam o fato de o político, nascido em Damasco, viver há vários anos nos EUA e possuir um passaporte americano. Ele renunciou apenas no ano passado a um posto de diretoria numa empresa no Texas para se dedicar inteiramente à luta contra Assad. "Alguns tiveram problemas com isso", admitiu um delegado.

No fim das contas, Hitto, descrito como islamista devoto, acabou se impondo graças ao apoio da poderosa Irmandade Muçulmana. Falando à imprensa, Faruk Tayfur, membro da liderança da organização, elogiou a escolha como "um passo muito bom".

"Reação democrática"

Em entrevista à DW, Halit Hoca, representante do CNS na Turquia, minimizou a importância das divergências internas e enfatizou o fato de, segundo ele, os sírios terem realizado em Istambul a primeira eleição democrática de sua história recente.

Os críticos de Hitto simplesmente expressaram "uma reação democrática", afirmou, acrescentando que a equipe do líder interino será composta por gente experiente, com extensos conhecimentos diretos da situação síria.

Syrien/ Ghassan Hitto/ Opposition
Ghassan Hitto (dir.) terá que provar sua capacidade em muitos camposFoto: picture-alliance/ ZUMA Press

Tal experiência será fundamental, uma vez que o próprio Ghassan Hitto é praticamente desconhecido no país. Representantes do CNS rebatem que, mesmo durante sua longa estada nos EUA, ele visitou a Síria com regularidade e que parte de sua família sempre viveu no país. O filho de Hitto, Obaida, combate junto aos rebeldes, sublinham. Ainda assim, alguns delegados se mostraram reticentes devido à falta de experiência do governante eleito.

Tolerância na prática

Apesar de toda a crítica interna, a principal tarefa de Hitto será melhorar a imagem externa de uma oposição tida como fragmentada. Nos últimos meses, diversos esforços para compor um governo de transição fracassaram, e a própria reunião em Istambul foi adiada duas vezes.

Hitto tem plena consciência das dúvidas relativas à oposição síria, tanto no mundo árabe como no Ocidente. Em seu discurso de posse, pediu mais apoio da comunidade internacional, ao mesmo tempo em que deixou claro ser contra o extremismo.

O político fez questão de destacar que todos os sírios são iguais, independente de religião, origem étnica, gênero ou origem regional. Mas agora terá de provar que é também capaz de implementar esses princípios nas áreas tomadas pelos rebeldes.