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G8 e política simbólica

Pablo Walden (ca)26 de abril de 2007

No encontro do G8, a encenação exerce um importante papel. Qual a importância do simbólico, afinal? Somente símbolos negativos são repassados? DW-WORLD entrevistou o cientista político Ulrich Sarcinelli sobre o assunto .

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Ulrich Sarcinelli, cientista político da Universidade de Koblenz-LandauFoto: Ulrich Sarcinelli

DW-WORLD: Antes do G8, fala-se mais sobre a reforma quase completa da sede do encontro, o balneário de Heiligendamm, do que de conteúdos políticos. É motivo de crítica para a chanceler federal alemã se a imagem pública for dominada por medidas de segurança e custos da conferência?

Ulrich Sarcinelli: Considero os debates sobre os custos como algo tipicamente alemão. Qualquer anfitrião quer apresentar a si e também a seu país do melhor ângulo. Isso custa dinheiro e o custo é justificável, em todos os aspectos. Consideremos também o grande efeito publicitário de poder apresentar assim uma nação e uma região em especial. Por isso é preciso tentar evitar discussões mesquinhas demais.

O cidadão comum não participará de Heiligendamm. Isto terá efeito sobre a opinião pública?

Uma importante pergunta é como o encontro decorrerá na prática. Se – através de uma dramaturgia performativa, de gestos, encenações e símbolos condizentes – se conseguirá afastar a impressão de um evento hermeticamente fechado, sem nenhum contato, por assim dizer, com a vida normal, com o cotidiano político dos cidadãos.

Em um encontro do G8, o símbólico ocupa o primeiro plano, estando mesmo à frente dos resultados?

A questão é quão substanciais são os resultados. Para início de conversa, há os resultados mensuráveis, na forma de acordos ou de certas declarações, os quais, via de regra, já foram negociados de antemão pela diplomacia. Isso equivale ao valor nominal do acontecimento. Existe o perigo de que, quanto menor o real conteúdo político de um encontro como este, mais importante se torne uma espécie de "política substitutiva": a encenação, a mera aparência de política.

Mas, em geral, deve-se tomar cuidado para não se equiparar política simbólica à política substitutiva ou a um placebo. Toda atuação política possui sempre duas dimensões: a substancial e a representativa. A questão é, justamente, que relação wxiste entre as duas, quão fortemente o valor simbólico remete ao valor nominal do evento, propriamente dito.

O que simboliza, afinal de contas, o encontro de cúpula do G8?

De um lado, naturalmente, a importância das nações participantes. Fica clara sua disposição de cooperar, e é enfatizada a importância do papel dos agentes envolvidos, sobretudo dos chefes de Estado e de governo. Dependendo da função, do papel e da constelação política presente, podem-se alcançar diferentes resultados. Os anfitriões – ou, no caso atual, a chanceler federal – podem dar um tom especial ao encontro, estabelecendo os limites de ação e lançando iniciativas políticas.

Para alguns, o encontro de cúpula do G8 representa um símbolo da arrogância do poder.

Sim, existe esta impressão. É um encontro exclusivo, ou seja, o círculo dos participantes – representantes governamentais, chefes de Estado e de governo – é, de fato, muito restrito. Vem logo à cabeça a pergunta sobre como estas nações industrializadas participantes realmente se relacionam com os países que não estão participando.

Acrescente-se que a importância crescente de agentes não governamentais ainda não se reflete adequadamente nestes encontros, em termos de sua organização e transcurso. Tal fato dá margem a uma percepção polarizadora: eles lá de cima, nós daqui de baixo. Além disso, o aparato de segurança, que cresceu enormemente nos últimos anos, dá a impressão de que ocorre algo encapsulado, isolado da população. Isto fomenta ainda mais ressentimentos.

A porcentagem do simbólico na política cresceu nos últimos anos?

Eu não apoiaria tal tese. Nosso moderno sistema midiático e, sobretudo, as mídias da imagem nos dão a impressão de que atuação política é, em grande parte, atuação simbólica. É necessário saber, todavia, que política simbólica sempre foi praticada: observando, por exemplo, o cerimonial da corte de regimes medievais, de monarquias modernas ou também os costumes de cidadania das cidades tradicionais, podemos reconhecer práticas seculares altamente ritualizadas, simbolizações e comportamentos encenados. A política simbólica, portanto, sempre existiu.

Qual a diferença da política simbólica hodierna?

A diferença da política de hoje é o raio de alcance de tais formas de representação. No passado, o acesso à política simbólica era reservado, via de regra, a uma elite, uma corte, a alguns nobres, e só excepcionalmente, em ocasiões especiais, ao povo em geral. Hoje, há uma democratização da política simbólica: qualquer um pode tomar conhecimento dela. No caso, a forma e o modo da encenação e da ritualização, ou seja, a política simbólica não é somente determinada pelos agentes atuantes, mas é também influenciada, em grande parte, pelas leis da democracia midiática. Existe uma concorrência crescente pela atenção, este artigo escasso.

Não raramente, isso leva à tentativa de ultrapassar as barreiras de atenção do público, através de ações o mais espetaculares possíveis por parte da política ou da correspondente representação dramatizadora por parte da mídia. Tudo isso é ilusão, mas não deve fazer esquecer que política simbólica sempre foi um elemento central da atuação política. Não há como ter política pelo valor nominal.

Ulrich Sarcinelli é professor de Ciências Políticas na Universidade de Koblenz-Landau e especialista em Intermediação Política e Política Simbólica.