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Políticos tentam impedir Handke de receber o Prêmio Heine

(mr)31 de maio de 2006

Em Düsseldorf, políticos querem impedir que o Prêmio Heinrich Heine de literatura seja entregue ao escritor austríaco Peter Handke, acusado de apoiar o antigo líder sérvio Slobodan Milosevic.

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Escritor foi nomeado vencedor do Prêmio Heinrich Heine por um júriFoto: Fotomontage/dpa/DW

Membros do conselho da cidade de Düsseldorf, formado por representantes dos quatro maiores partidos (CDU, SPD, Partido Liberal e Partido Verde), afirmaram que votarão contra a entrega do Prêmio Heinrich Heine, um dos mais importantes da literatura na Alemanha, ao escritor austríaco Peter Handke.

O motivo não está relacionado com a obra literária de Handke, mas com as acusações de apoio ao antigo líder sérvio Slobodan Milosevic. Handke visitou o ex-presidente da Iugoslávia na prisão, em Haia, e discursou no seu enterro.

O autor foi nomeado vencedor por um júri na semana passada, mas a entrega da gratificação, no valor de 50 mil euros, precisa ser aprovada pelo conselho municipal. A votação foi agendada para o dia 22 de junho.

Repercussão nos jornais

Os jornais alemães se mostraram divididos quanto à decisão do conselho municipal de não conceder o prêmio a Handke.

"Está claro que a ação é um afronta ao júri. Mas os danos a Düsseldorf serão ainda maiores se decidirem por honrar Handke em nome de Heine", publicou o Frankfurter Rundschau.

O jornal berlinense Die Tageszeitung vê a situação de uma forma diferente: "Heine não merece Handke e Handke não merece o Prêmio Heine. Mas não há dúvidas de que Heine teria rejeitado o controle político de um júri. Essa forma de censura é muito pior do que contemplar a pessoa errada com o prêmio."

Handke: ler para julgar

Peter Handke
Austríaco é acusado de simpatizar com MilosevicFoto: AP

A nomeação de Peter Handke veio justamente um mês depois de a mais famosa companhia de teatro francesa ter decidido não levar uma de suas peças ao palco, em virtude de um elogio que o autor proferiu a Milosevic, antigo presidente iugoslavo, acusado de crimes de guerra, contra a humanidade e genocídio. O autor descreveu o líder sérvio, encontrado morto em sua cela em março deste ano, como "um homem que defendia seu povo".

Handke recusou-se a comentar a controvérsia em torno de sua premiação, mas respondeu às críticas em uma declaração aberta no Frankfurter Allgemeine Zeitung nesta terça-feira (30/05): "Em nenhum dos meus trabalhos, eu classifiquei Slobodan Milosevic como 'uma' ou 'a' vítima". O autor aconselhou que as pessoas lessem cuidadosamente suas publicações dos últimos 15 anos para que pudessem fazer um julgamento.

Controvérsias

O antigo reitor da Universidade Heinrich Heine Gerd Kaiser, que participou durante 20 anos da renomada premiação como membro do júri, quer formar uma iniciativa contra a nomeação de Peter Handke em conjunto com antigos ganhadores do prêmio. O argumento a ser apresentado é o de que a premiação zela pelos direitos humanos e de que a gratificação de Handke não estaria de acordo com esse princípio.

Kaiser entende que a situação é delicada: "A cidade pode ser acusada de censura, caso a nomeação não seja respeitada e isso diz respeito também ao crédito de suas autoridades. Mas o que precisa ser levado em consideração é que a premiação de Handke também põe em risco a reputação de Düsseldorf."