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Bienal de Veneza

4 de setembro de 2010

Bienal de Arquitetura de Veneza é mais significativa mostra do gênero na Europa. Nesta edição, grupo de Munique Die walVerwandtschaften desenvolveu tema e design do pavilhão alemão. Entrevista com arquiteta Cordula Rau.

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Arquiteta Cordula Rau, uma dos responsáveis por pavilhão alemão em VenezaFoto: picture-alliance/dpa

Sehnsucht é um termo alemão de tradução quase tão difícil quanto "saudade" em português: dependendo do contexto, pode conotar desejo, nostalgia, anseio, aspiração – e, também, saudade. Sendo assim, "Anseio – um retrato da sensibilidade da arquitetura contemporânea" é apenas uma das traduções possíveis para o mote do pavilhão alemão na atual Bienal de Arquitetura de Veneza: "Sehnsucht – ein Portrait der Sensibilität zeitgenössischer Architektur".

Ele foi escolhido pelo trio Cordula Rau, Eberhard Tröger e Ole W. Fischer, do escritório Die walVerwandschaften, de Munique. Seu objetivo: apresentar os aspectos emocionais, íntimos e afetivos da arquitetura. O projeto procura expor a interação existente entre conceitos históricos e os designs contemporâneos. A Deutsche Welle conversou com uma das idealizadoras do pavilhão, a arquiteta e jornalista Cordula Rau.

Deutsche Welle: O que significa "anseio" (Sehnsucht) para os integrantes do Die walVerwandschaften?

Cordula Rau: Para nós, o anseio é um sentimento, um ponto longínquo que se quer alcançar. É a força impulsionadora para todo ser criativo e, no fim das contas, quer-se realizar tudo aquilo que se deseja através do anseio. Embora "anseio" seja, evidentemente, algo que permanecerá irrealizável.

Na Alemanha, Sehnsucht é freqüentemente associado com o passado. Quando se observa cidades como Dresden ou Hildesheim, por exemplo, cujos centros estão sendo reconstruídos, pode-se ter a impressão de que os prédios históricos estão mais em moda do que a arquitetura contemporânea. Mas este, certamente, não é o sentido do seu slogan?

Não. Para nós, o anseio é a base de toda arquitetura, independente da forma que ela tome. Mesmo o Modernismo se baseou enormemente no anseio. Também as utopias e visões estão sempre ligadas a ele. A nossa exposição não trata de uma arquitetura retrógrada.

A contribuição alemã na Bienal de Veneza traz o subtítulo "um retrato da sensibilidade da arquitetura contemporânea". Isso soa como se fosse preciso corrigir, de certo modo, a percepção pública. Procede?

Não. Nossa intenção é não apresentar a arquitetura na forma de projetos já construídos, de ilustrações, fotografias ou de esboços que antecedem a arquitetura. Mas sim investigar que ideias, visões, utopias os arquitetos têm na cabeça. É isso que queremos mostrar em nosso pavilhão.

O que há para se ver no pavilhão alemão?

O primeiro objeto da exposição é o local em si. Nós o carregamos com associações e emoções, decorando-o com tapeçarias e cortinas, com superfícies espelhadas e luminárias. Ao mesmo tempo, nossa mostra é uma coletânea de anseios arquitetônicos que encomendamos a profissionais da Alemanha desde que recebemos a tarefa de projetar o pavilhão. É uma coleção de desenhos. A proposta foi que apresentassem o próprio anseio arquitetônico em forma de esboço. Esses esboços estão agora expostos no pavilhão, em molduras de madeira sobre paredes forradas de vermelho. Eles expõem os anseios, utopias, visões e ideias que os arquitetos carregam em si.

Qual é a aparência desses "anseios"?

Eles são completamente diferentes entre si; possuem referências bastante pessoais, em alguns casos são muito íntimos. São desenhos de borboletas ou de uma gota de sangue ou de algo bordado. Também há mensagens políticas, é claro. Pode-se quase considerá-lo como um quadro de recados. Muitos tematizam o excesso de normas de construção. Há também o tema "tempo", a falta de tempo – ela é abordada em muitos esboços.

Entrevista: Klaus Gehrke (mdm)
Revisão: Augusto Valente