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Avanço da esquerda

Jefferson Chase (rk)10 de setembro de 2007

O novo partido alemão A esquerda já tem mais de 60 mil membros, mas ainda carece de base eleitoral no oeste da Alemanha. DW-WORLD.DE revela como a agremiação pretende ganhar apoio nesta parte do país.

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Novo partido quer hastear sua bandeira também nos estados da ex-Alemanha OcidentalFoto: AP

Numa noite nada convidativa no final de agosto, o jornalista Klemens Domning e o estudante universitário Kaspar Scholemann enfrentam o frio e a chuva fumando em frente a uma escola em Berlim. Os dois esperam conseguir apoio para seus argumentos pela retirada das tropas alemãs do Afeganistão, num debate com simpatizantes de sua agremiação.

A reunião acontece em Wedding, um bairro operário da capital alemã, uma região em que A Esquerda, o mais novo partido alemão, tenta ampliar sua base eleitoral.

Alternativa à esquerda

A Esquerda surgiu em junho deste ano da fusão do PDS, sucessor do Partido Socialista Unificado (SED) da ex-Alemanha Oriental, com a WASG (Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social), uma agremiação do oeste da Alemanha.

A nova legenda contrapõe o "socialismo democrático" ao capitalismo. Defende posições que vão desde um pacifismo rigoroso a restrições significativas à livre iniciativa. Uma outra bandeira é a expansão do Estado de bem-estar social.

Deutschland Partei Die Linke Oskar Lafontaine und Lothar Bisky
Oskar Lafontaine (e) e Lothar Bisky (d), líderes do partido A EsquerdaFoto: AP

À frente de A Esquerda estão Oskar Lafontaine e Lothar Bisky (ex-PDS). Oskar Lafontaine foi presidente do Partido Social Democrata (SPD), que abandonou em 2005, por discordar, entre outros pontos, das posições do partido em relação à política de seguro-desemprego da Alemanha.

Atualmente, A Esquerda tenta conquistar novos filiados. "Queremos nos ancorar melhor na Alemanha ocidental", diz Kaspar Scholeman, de 27 anos. "Mas falta consenso sobre os segmentos sociais que tentamos atingir. Alguns favorecem setores mais burgueses, ecológicos ou de direitos civis. Outros acham que devemos enfatizar as questões do Estado social."

Que rumo tomar?

Nas eleições legislativas de 2005, ainda como PDS e WASG, a esquerda obteve 8,7% dos votos e elegeu 53 deputados, tornando-se a segunda maior força partidária em três regiões da antiga Alemanha Oriental e o quarto partido mais forte do país.

Apesar da rivalidade, SPD e A Esquerda formam um governo de coalizão na cidade-estado Berlim, embora a A Esquerda tenha perdido apoio eleitoral durante a gestão na prefeitura da capital alemã.

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A Esquerda protesta contra a Cúpula do G8, em HeiligendammFoto: AP

Após os sucessos recentes em eleições federais e estaduais, a nova legenda questiona se "é preciso enveredar pelo caminho do compromisso e do pragmatismo", diz Klemens Domning, de 55 anos. "Mas também não se pode dar tudo de bandeja. É preciso manter os princípios e aprender a dizer 'não'." No âmbito nacional, tanto os social-democratas quanto os esquerdistas rejeitam uma coalizão.

"Não é preciso fazer parte do governo para ter peso político", diz Scholemann. "Acho que um governo conjunto com o SPD, levando em conta suas políticas de cortes drásticos no sistema de assistência social, seria muito difícil. A curto prazo, A Esquerda deveria ficar na oposição", defende.

"Uma nova forma de subserviência"

No auditório da escola, cerca de 50 pessoas acompanham uma discussão sobre a participação dos soldados alemães na Força de Assistência à Segurança Internacional (ISAF). Para eles, manter o contingente alemão no Afeganistão é fútil e contraproducente.

Essa posição é completamente contrária à do SPD. O mesmo ocorre com a insistência da esquerda em querer reverter as reformas da política de assistência social, iniciadas pelo ex-chanceler federal Gerhard Schöder.

Na avaliação do partido A Esquerda, as reformas desequilibraram o sistema alemão de previdência social. Para cortar custos, o governo de Schröder eliminou diversos benefícios sociais, uma política que vem sendo mantida pela grande coalizão governamental (SPD/CDU/CSU) liderada por Angela Merkel.

"Antes de mais nada, quero a volta da justiça social. Em tempos de globalização, as pessoas são obrigadas a trabalhar por salários abaixo de qualquer crítica", diz Domning. "É uma nova forma de subserviência."

"O Estado também precisa se tornar mais ativo e deixar de depender tanto dos lobistas", continua o jornalista. "Não se conhece as pessoas que recebem auxílio social num bufê. Nós, sim, chegamos a conhecê-las, e queremos que elas voltem a fazer parte da sociedade."

Conservadores tiram partido da ascensão da esquerda

Para a maioria dos alemães ocidentais, A Esquerda é uma organização para alemães da antiga República Democrática da Alemanha (RDA), descontentes com os efeitos da reunificação. Mas muitos esperam também que o partido consiga atrair eleitores pobres dos estados do oeste, a clientela da ala esquerda do SPD.

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Fundação oficial do partido 'A Esquerda'Foto: PA/dpa

"O partido manterá a sua linha e se apresentará como uma alternativa no debate sobre o Estado social. Eles vão continuar rotulando todos os outros partidos como neoliberais", prevê Oskar Niedermayer, professor de Ciências Políticas na Universidade Livre de Berlim.

Ironicamente, a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU), que formam o governo de coalizão com o SPD, têm se beneficiado da ascensão da esquerda na Alemanha. "Isso se deve ao fato de o SPD se fechar sobre um possível parceiro de coalizão. Mas isso deve mudar no médio prazo", acredita Niedermayer.

No auditório da escola, o público sinaliza concordância com um dos debatedores que ridiculariza a declaração do ex-ministro da Defesa, Peter Struck (SPD), de que a manutenção dos soldados alemães no Afeganistão é crucial para a segurança nacional da Alemanha. Aqui ninguém pensa em fazer as pazes com os social-democratas, uma situação que, para as bases do partido A Esquerda, é ótima.