1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Para onde vai o partido de Angela Merkel?

11 de fevereiro de 2020

Apadrinhada da chanceler federal alemã pretende deixar cargo de presidente da União Democrata Cristã (CDU). A luta pela sucessão após a saída de Annegret Kramp-Karrenbauer pode impelir o partido para a direita?

https://p.dw.com/p/3Xbyo
Líder conservadora Annegret Kramp-Karrenbauer deixa coletiva em que anunciou desistência da candidatura a chanceler federal
Annegret Kramp-Karrenbauer deixa coletiva em que anunciou desistência da candidatura a chanceler federalFoto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka

Enquanto uma tempestade violenta atravessava grande parte da Alemanha, um terremoto político abalava Berlim. Durante uma reunião da União Democrata Cristã (CDU), sigla de Angela Merkel, a líder partidária Annegret Kramp-Karrenbauer declarou aos delegados que não concorreria mais ao cargo de chefe de governo nas eleições gerais de 2021.

AKK – como também é conhecida a apadrinhada da chanceler federal alemã – disse que também deixaria o cargo de presidente da CDU – pois, como anunciou publicamente algumas horas depois: "Em minha opinião, o chefe do partido e seu candidato a chanceler federal devem ser a mesma pessoa."

O anúncio marca o reconhecimento por parte da política de 57 anos de que a luta pelo poder na CDU resultou numa clara perda de autoridade para a presidente do partido. AKK foi eleita 14 meses atrás como sucessora de Merkel, que permaneceu à frente do governo alemão. Foi um experimento para a CDU, que há décadas reunia as duas posições sob uma só pessoa.

Mas esse experimento foi um fracasso. Mesmo que Merkel tenha se mantido notavelmente fora dessa disputa de poder, AKK foi incapaz de reunir a força e a autoridade que a premiê incorporou por tanto tempo. Pelo contrário, sob AKK, a profunda divisão da CDU se tornou cada vez mais clara: enquanto uma ala buscava o retorno à política essencialmente conservadora, outra preferiu se concentrar no terreno do centro social-liberal – como Angela Merkel.

Inclinação liberal de Merkel

Kramp-Karrenbauer não durou muito tempo à frente da CDU depois de ter sido eleita em 7 de dezembro de 2018. Na época, ela foi basicamente vista como a escolhida de Merkel e derrotou dois adversários consideravelmente mais conservadores numa consulta restrita a membros do partido.

Numa discussão interna partidária, já estava claro que a CDU se encontrava numa encruzilhada. Durante 18 anos, Merkel liderou sua legenda, abrindo-a à esquerda e levando-a a assumir, de forma adaptada, muitas ideias anteriormente consideradas domínio dos social-democratas. A estratégia provou ser bem-sucedida: sempre que a CDU aplicava esse conceito, os índices de aprovação do Partido Social-Democrata (SPD) caíam.

Mas a abordagem também teve suas desvantagens. Por um lado, abriu uma lacuna para um partido à direita da CDU, um vazio que a populista Alternativa para a Alemanha (AfD) – que começou como um partido conservador antes de avançar cada vez mais para a extrema direita – rapidamente preencheu. Também levou a um contramovimento conservador dentro da CDU, que, sob o nome de "Werteunion" (União de Valores), está ganhando cada vez mais força e atenção.

Político democrata cristão alemão Friedrich Merz
Friedrich Merz pode levar partido mais à direita como potencial sucessor de AKKFoto: picture-alliance/S. Simon

CDU mais conservadora ou mais liberal?

No início, AKK tentou atrair a ala conservadora – sem sucesso. Uma das perguntas agora em aberto é se essa ala da CDU se tornará mais influente. Uma das figuras de proa dos conservadores é Friedrich Merz, ex-líder da bancada parlamentar da CDU/CSU (CSU ou União Social Cristã é a legenda-irmã da CDU na Baviera).

O advogado empresarial retirou-se da atividade política há mais de dez anos, devido a diferenças com Angela Merkel. Ele voltou em 2018, mas perdeu – por muito pouco – a liderança da CDU para AKK.

Outro sucessor potencial é o governador do estado da Renânia do Norte-Vestfália, Armin Laschet. Ele é considerado seguidor fiel de Merkel, sobretudo desde 2015, quando ela começou a sofrer grandes críticas por suas políticas migratórias.

Considerado pertencente à ala liberal da CDU, até agora Laschet manteve silêncio sobre se tem projetos para liderança do partido e candidatura ao cargo de chanceler federal. Ele disse que a CDU/CSU teria que fazer uma oferta convincente com base na "amplitude programática de nossas organizações partidárias e nas bases regionais das representações estaduais".

Segundo a líder do partido A Esquerda, Katja Kipping, se Merz se tornar o chefe, "a CDU logo estará em coalizão com a AfD". "A conquista de AKK foi blindar os conservadores contra uma guinada mais à direita, salvando assim a alma da CDU/CSU." Assim, a batalha pela liderança da CDU deve também se tornar uma disputa pelo futuro curso político partidário.

Essa disputa já veio à tona na Turíngia, estado situado na antiga Alemanha Oriental, onde o candidato do Partido Liberal Democrático (FDP), Thomas Kemmerich, foi eleito chefe de governo com os votos da CDU, FDP e AfD. A união das forças da CDU com a ultradireitista AfD provocou indignação em toda a Alemanha, sendo considerada uma quebra de um tabu de longa data. Uma visão compartilhada por muitos membros da CDU – mas não por todos.

Político democrata cristão alemão Armin Laschet
Armin Laschet é considerado seguidor fiel de Angela MerkelFoto: DW/R. Oberhammer

Blindagem à direita e à esquerda?

Embora exista um consenso geral nos estados da antiga Alemanha Ocidental de que a única opção é uma rejeição estrita da AfD, na antiga Alemanha Oriental há muitos democratas-cristãos que desejam ativamente a cooperação política com o legenda ultradireitista, seja em que forma for.

No outro extremo do espectro político, também existem pontos de vista diferentes no Leste e no Oeste do país sobre como lidar com o partido A Esquerda. AKK deixou clara sua posição: "Nenhuma aproximação e nenhuma cooperação com a AfD e A Esquerda".

A AfD "contradiz tudo o que defendemos na CDU", disse ela em comunicado nesta segunda-feira (10/02). Mas acrescentou: "A história e as políticas do A Esquerda são absolutamente inconciliáveis com os principais pontos dos princípios da CDU. Uma cooperação da CDU com A Esquerda não pode acontecer."

AKK será capaz de manter essa linha partidária? Agora que ela anunciou sua intenção de renunciar, a solução se torna apenas temporária. Como ela terá êxito, se até agora lhe faltaram autoridade e poder? A conservadora natural do estado do Sarre dá a impressão de manter seu espírito de luta: "Eu era líder do partido, sou líder do partido e continuarei a ser no futuro próximo."

______________

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube 
App | Instagram | Newsletter