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Para não esquecer do pai

(rr)29 de julho de 2004

Há 25 anos, falecia o filósofo alemão Herbert Marcuse, um dos mais ativos pensadores da teoria crítica. Para muitos "pai da nova esquerda", Marcuse exerceu marcante influência sobre o movimento estudantil dos anos 60.

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Herbert Marcuse, aos 72 anosFoto: AP

Ele era celebrado pela mídia como o "pai da nova esquerda". Suas teorias eram críticas sagazes tanto à sociedade capitalista quanto ao socialismo deturpado posto em prática pela extinta União Soviética, ao mesmo tempo em que estabeleceram as bases para um sociedade libertária.

Herbert Marcuse nasceu em 1898 em Berlim. Em sua juventude, lutou junto ao exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial e, terminada a guerra, partiu para Freiburg, onde mais tarde completou seus estudos de Filosofia. Após trabalhar certo tempo numa livraria, Marcuse retornou a Freiburg para freqüentar as aulas de Martin Heidegger, para ele o maior professor e pensador que conheceu, embora não aceitasse suas afinidades com o nazismo.

Com a Escola de Frankfurt, aonde quer que ela vá

Em 1933, Marcuse partiu novamente, desta vez em direção a Frankfurt, para juntar-se ao Instituto de Pesquisa Social, lar da chamada Escola de Frankfurt. Com a subida de Hitler ao poder, o instituto fechou as portas e transferiu suas pesquisas para Genebra. Marcuse foi junto.

Juergen Habermas
Jürgen Habermas, último sobrevivente da teoria críticaFoto: AP

No ano seguinte, em 1934, o instituto abriu sua filial nos EUA, em parceria com a Universidade de Columbia, onde Marcuse trabalhou durante os anos 30 e parte da década de 40. Sua primeira publicação, escrita em inglês, foi Razão e Revolução (1941), até hoje uma das melhores introduções às obras de Hegel e Marx, na qual analisa as semelhanças entre os pensamentos dos dois filósofos.

No mesmo ano da publicação, Marcuse começou a trabalhar para o serviço secreto americano e acabou se tornando chefe da unidade da Europa Central. Até meados dos anos 50, trabalhou para o governo dos Estados Unidos, até que decidiu retornar à vida acadêmica. Logo seguiu a publicação de Eros e Civilização (1955).

Marcuse libertário

Em Eros e Civilização, Marcuse refuta a tese freudiana de que toda sociedade envolve necessariamente repressão e sofrimento. Para ele, o inconsciente humano contém um instinto de felicidade e liberdade, evidente nas artes e na cultura em geral. Marcuse imaginou uma sociedade não repressiva, sem o trabalho alienado e aberta ao lazer e à sexualidade, antecipando valores caros à contracultura dos ano 60.

A sociedade capitalista, acreditava, produz mais repressão do que ela própria necessita, ao impor trabalho desnecessário, restrições sexuais e um sistema baseado em lucro e exploração. Tal crítica gerou um fervoroso debate com seu colega Erich Fromm, que o acusou de niilismo em relação aos valores da sociedade e de hedonismo irresponsável.

Stalin Demonstration in Moskau
Marcuse fez duras críticas ao marxismo soviéticoFoto: AP

Em 1958, Marcuse recebeu um convite para lecionar na Universidade Brandeis. Nesse mesmo ano, ele, que havia se tornado um especialista em fascismo e comunismo, publicou O Marxismo Soviético, um estudo crítico sobre o comunismo soviético, burocrático e inapto a mudanças. Criticar a URSS era, naquela época, tabu entre intelectuais de esquerda.

O homem unidimensional

Em 1964, seguiu a que é considerada sua obra principal, O Homem Unidimensional, na qual Marcuse questiona o desaparecimento do potencial revolucionário do indivíduo na sociedade capitalista avançada. Para ele, a indústria cultural cria novas formas de controle, integrando o indivíduo no sistema de produção e consumo e impossibilitando a crítica.

O capitalismo teria, enfim, integrado o proletariado, a semente da revolução. Marcuse questionava, assim, dois princípios básicos do marxismo clássico: o caráter revolucionário do proletariado e a crise inevitável do modo capitalista de produção. A obra foi muito criticada por marxistas ortodoxos, mas teve grande influência sobre a esquerda reformista.

Em 1965, a Universidade de Brandeis decidiu não renovar o contrato e Marcuse aceitou uma vaga na Universidade da Califórnia, onde lecionou até aposentar-se em 1970. Nesse período, viajou por todo o mundo, aconselhando líderes estudantis e defendendo o marxismo, na forma de socialismo libertário.

Theodor W. Adorno
O colega Adorno continua popularFoto: AP

Desde sua morte, em 1979, a influência de Marcuse vem diminuindo. Embora obras de colegas como Theodor Adorno, Walter Benjamin e Jürgen Habermas continuem sendo traduzidas, o interesse por material não publicado de Marcuse é curiosamente pequeno. Segundo o filósofo americano Douglas Kellner, um motivo poderia ser seu pouco envolvimento com o pós-modernismo: "Ao contrário de Adorno, Marcuse não antecipou os ataques pós-modernos à razão e suas dialéticas não eram negativas".