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Geração 'Adeus, Lênin!'

Jane Paulick (as)17 de dezembro de 2007

Passados 17 anos da reunificação, uma pesquisa mostra que muitos adolescentes alemães têm uma visão distorcida da Alemanha Oriental: a maioria nem mesmo vê o antigo regime comunista como uma ditadura.

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Jovem com uniforme da juventude comunista carrega uma bandeira da Alemanha OrientalFoto: AP

Pesquisadores da Universidade Livre de Berlim descobriram que 66% dos estudantes da Renânia do Norte-Vestfália não consideram a Alemanha Oriental uma ditadura. Eles submeteram 5 mil estudantes secundaristas de quatro estados alemães – incluindo também Berlim, Brandemburgo e Baviera – a um questionário para testar seus conhecimentos sobre a Alemanha antes de 1989.

Os adolescentes de 15 a 17 anos também apresentaram outras idéias equivocadas: na Alemanha Oriental havia eleições democráticas, o ex-chanceler federal Helmut Kohl era um de seus principais políticos e os Aliados construíram o Muro de Berlim.

Ainda segundo os jovens pesquisados, os aluguéis eram baixos, as creches eram excelentes e os cuidados com o meio ambiente eram maiores do que na Alemanha Ocidental.

Viés positivo

Ulrich Mühe in "Das Leben der Anderen"
'A vida dos outros': o Estado onipresente vigia o cidadãoFoto: picture-alliance/dpa

Para a pesquisadora Monika Deutz-Schroeder, que participou do estudo, os resultados do teste não são surpreendentes. "Muitos estudantes reclamam que o assunto é ignorado ou retocado nas aulas", afirma. "E nos estados do Leste, os professores tendem a apresentar a Alemanha Oriental por um viés positivo, seja por convicções políticas, seja por terem uma formação deficiente."

Segundo ela, alguns professores sabem muito pouco sobre alguns aspectos do regime comunista da Alemanha Oriental, como o fato de que havia pena de morte no país e que os salários estavam longe de ser equitativos.

Má formação é um dos problemas dos professores. Outro é a falta de interesse pelo assunto. "Um obstáculo é que a história da Alemanha Oriental – diferentemente do nazismo – não é vista por muitos alemães-ocidentais como uma história comum aos dois lados, mas como sendo a história dos alemães-orientais", diz Deutz-Schroeder.

Pais nostálgicos

Mas seria um equívoco colocar toda a responsabilidade nos professores. De acordo com a pesquisadora, especialmente no Leste do país e em Berlim oriental, os estudantes fundamentam seu conhecimento sobre a Alemanha Oriental naquilo que seus pais dizem.

Galerie Berliner Mauer Militärparade
Alemanha Oriental: regime comunista e ditatorialFoto: dpa

Alguns pais idealizam a Alemanha Oriental, enfatizando suas supostas vantagens, como um senso de solidariedade, maior justiça social e emprego garantido. Ao mesmo tempo, o cinema e a televisão costumam se voltar para o humor nostálgico. "Filmes como Adeus, Lênin! fazem a Alemanha Oriental parecer inofensiva", diz a pesquisadora.

"Os estudantes ficam com a impressão de que a Alemanha Oriental era apenas um país atrasado e simpático. Seria melhor se eles assistissem a A vida dos outros", acrescenta, citando o filme sobre a vida de um espião da Stasi e das pessoas que ele espiona.

Experiências pessoais

Mas cobrir todos os aspectos da complexa história alemã do século 20 pode simplesmente demandar muito tempo. "O tema está no currículo escolar, mas os professores costumam dispensar mais tempo para a era nazista, a Segunda Guerra Mundial e o período pós-guerra", diz Deutz-Schroeder.

O especialista em educação Henning Schluss, da Universidade Humboldt, que desenvolveu um currículo-base para o ensino da história da Alemanha Oriental em escolas secundárias, concorda que a falta de tempo é um motivo, mas afirma que há um problema adicional.

Daniel Brühl in dem Kinofilm "Goodbye Lenin"
'Adeus, Lênin' mostra uma Alemanha Oriental inofensivaFoto: AP

"De forma compreensível, os professores relutam em falar sobre uma fase da história com a qual eles estiveram envolvidos", comenta. Na Alemanha Oriental, os professores viviam sob forte pressão para se adaptar à ideologia vigente. E os que não eram espiões do serviço secreto puderam continuar lecionando após a reunificação, mas tiveram que fazer ajustes culturais e ideológicos à sua forma de trabalhar.

"Agora eles têm de ver com olhos críticos uma época na qual desempenharam um papel em geral acrítico – ou participaram com real entusiasmo. Eles precisam se entender com o seu próprio passado."

História viva

Mas Schluss afirma que esse aspecto pode ser positivo para os alunos. "Para os adolescentes de hoje, a Alemanha Oriental é, literalmente, história. Eles cresceram numa Alemanha reunificada, o que significa que os professores podem discutir a divisão do país assim como eles podem discutir a Guerra dos Trinta Anos."

Mas há muitos alemães que passaram por experiências com a ditadura comunista. E eles podem descrever como a vida realmente era na Alemanha Oriental. "O grande lance é que os jovens têm a oportunidade de se beneficiar dos relatos de testemunhas, o que eles não podem fazer quando estudam a Guerra dos Trinta Anos", afirma.