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Pacote anti-inflação de Scholz criticado em várias frentes

6 de setembro de 2022

Oposição diz que plano de € 65 bi não evitará alta nos preços de energia e não impedirá que a Alemanha entre em recessão. Berlim propôs mecanismo de freio sobre custos de eletricidade, além de uma série de benefícios.

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Chanceler alemão, Olaf Scholz, ao lado do ministro das Finanças, Christian Lindner, em coletiva de imprensa
Plano apresentado pelo Chanceler Olaf Scholz (esq.) e seu gabinete é criticado pela oposição, sindicatos e economistasFoto: Frederic Kern/Future Image/IMAGO

O pacote apresentado pelo chanceler federal alemão, Olaf Scholz, que traz uma série de medidas para aliviar a população dos efeitos da inflação, não teve a recepção aguardada pelo governo.

A estratégia vem sendo amplamente criticada por políticos de oposição, sindicatos e economistas, que acusam o governo de não agir o suficiente para garantir o controle sobre os preços da energia, ou para evitar que o país caia em uma recessão.

Scholz anunciou neste domingo (04/09) que seu governo vai investir 65 bilhões de euros em um terceiro conjunto de medidas para proteger consumidores e empresas, que inclui uma extensão do desconto nos bilhetes do transporte público e isenções tributárias de 1,7 bilhão de euros para 9 mil empresas que utilizam quantidades maiores de energia.

Os três partidos que compõem a coalizão de governo – o Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz, o Partido Verde e o Partido Liberal Democrático (FDP) – apresentaram neste domingo, após 22 horas de negociações, um documento de 13 páginas que inclui um mecanismo de freio ao aumento dos preços da energia elétrica, uma reforma nos benefícios concedidos aos domicílios e ainda relaciona pagamentos diretos a aposentados e estudantes.

Entretanto, ainda não estão claros os limites dentro dos quais o freio aos aumentos da eletricidade entrará em efeito, tampouco de que forma a redução dos preços para os maiores consumidores diminuirá os custos para o restante da população.

Essas questões deverão ser esclarecidas na reunião dos ministros de Energia da União Europeia, marcada para 9 de setembro, informou uma porta-voz do Ministério alemão da Economia. Também não foi mencionado quando a decisão referente a um freio no preço do gás natural deverá ser introduzida.

Oposição aponta falhas no plano

Friedrich Merz, líder do bloco conservador de oposição formado pela União Democrata Cristã (CDU) e sua parceira na Baviera, a União Social Cristã (CSU), diz que o governo se ocupou em distribuir dinheiro sem se preocupar com o problema maior, que seria um estoque insuficiente de energia.

Há poucos dias, a Rússia interrompeu por tempo indeterminado o fornecimento de gás natural para a Europa, alegando problemas técnicos. O corte de uma das fontes de energia essenciais ao país gerou preocupações, meses antes da chegada do inverno.

"Há, acima de tudo, uma falha no abastecimento de gás", disse Merz. Isso, segundo afirmou, é o que está por trás do aumento nos preços de energia. Por esse motivo, o líder conservador sugere um freio também para os preços do gás.

Ao anunciar as medidas, Scholz assegurou que o país terá energia suficiente para abastecer a população até o próximo ano, atravessando com segurança os meses de inverno

Scholz garantiu que seu governo tomou "decisões pontuais" que conseguirão evitar uma crise em pleno inverno, como ao acumular reservas de gás e retomar o uso das usinas de carvão, além de manter duas usinas nucleares de prontidão durante os meses de inverno.

Os estoques de gás natural do país atingiram a meta de 85% de sua capacidade no último sábado, um mês antes do programado, em parte, devido a cortes no consumo por parte das empresas. Mesmo assim, Scholz avalia que o governo precisará ajudar a proteger consumidores e empresas de uma alta nos preços.

Central de recebimento na Alemanha do gasoduto russo Nord Stream 1
Rússia interrompeu fornecimento de gás natural para a Europa através do gasoduto Nord Stream 1Foto: Hannibal Hanschke/REUTERS

O líder da CSU e governador da Baviera, Markus Söder, acusa o governo federal de excluir os estados em suas políticas de combate à crise. "Nunca houve um governo tão distante dos estados como o atual", reclamou o líder bávaro em entrevista divulgada nesta segunda-feira pela revista alemã Stern.

O fato de o governo federal decidir questões em nome dos estados sem consultá-los é uma atitude "descortês e de estilo ruim", disse Söder. Vários governos estaduais pediram uma reunião com Scholz e seu gabinete para discutir as estratégias da coalizão. O porta-voz do chefe de governo disse que ele já prepara um encontro com os governadores em data a ser confirmada.

Medidas não evitarão recessão, dizem economistas

Prevalece entre os economistas a perspectiva de que a maior economia da Europa caminha para uma recessão, mesmo com o pacote de 65 bilhões de euros anunciado pelo governo.

Somados os valores dos dois pacotes anteriores, o governo já investiu um total de 95 bilhões de euros para reduzir o impacto da inflação desde o início da guerra na Ucrânia. Em contraste, o governo gastou em torno de 300 bilhões de euros durante dois anos da pandemia de covid-19, para aplacar os efeitos econômicos.

"O terceiro pacote de ajuda faz pouco para mudar o fato de que a Alemanha irá, provavelmente, cair em uma recessão nos próximos meses", afirma o economista-chefe do Commerzbank, Jörg Krämer.

Carsten Brzeski, economista-chefe do banco ING, também avalia que "o pacote deve fracassar ao prevenir a economia mais ampla de cair em uma recessão".

A recessão ocorre quando uma economia sofre contração ou tem crescimento negativo por dois trimestres seguidos.

Contração no setor de serviços

Uma pesquisa publicada nesta segunda-feira revelou que o setor de serviços na Alemanha se contraiu em agosto pelo segundo mês consecutivo, depois de a inflação e a falta de confiança pressionarem a demanda doméstica. 

"O pacote de alívio não muda o fato de que a Alemanha se tornou mais pobre como país importador líquido de energia", avalia Krämer. "As empresas terão de fazer cortes no uso de energia, que já se tornou cara, e reduzir adequadamente sua produção."

Entretanto, o Instituto de Políticas Macroeconômicas (IMK), afiliado a organizações sindicais, prevê que as medidas colocadas pelo governo poderão evitar uma queda drástica na demanda dos consumidores nos próximos meses. Elas poderão "ao menos mitigar significativamente ou, possivelmente, até evitar a recessão que se aproxima", disse o diretor do IMK, Sebastian Dullien.

rc (Reuters, AFP)