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Outono, a estação das bruxas para os técnicos da Bundesliga

29 de outubro de 2019

Os últimos meses do ano trazem consigo maus presságios para treinadores da primeira divisão alemã. É neste período que as diretorias costumam avaliar o desempenho dos clubes. Nos últimos dez outonos, foram 30 demissões.

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Em 2017, Peter Bosz, então técnico do Dormund
Em 2017, Peter Bosz, então técnico do Dormund, foi uma das vítimas da estação das bruxas na BundesligaFoto: Reuters/L. Kuegeler

Na Alemanha, a estação de outono, considerada por muitos a mais bonita de todas, traz consigo maus presságios para uma categoria de profissionais que normalmente já sofre todo tipo de pressão durante o ano inteiro. São os técnicos de futebol que temem por sua sorte, porque é nessa época do ano que os dirigentes dos clubes costumam fazer um primeiro balanço do desempenho do time, seja no campeonato nacional, seja numa competição europeia.

Já se estabeleceu praticamente como praxe na Bundesliga que, nos meses de setembro a dezembro, as diretorias façam uma avaliação mais apurada do trabalho realizado pelo treinador e sua comissão técnica. Como resultado dessa análise, nos últimos dez anos, foram demitidos ao todo 30 técnicos em 12 clubes da primeira divisão justamente no último trimestre do ano.

Coincidência ou não, os clubes que mais trocaram de treinador no outono desde 2009 atualmente estão na segunda divisão. O Stuttgart lidera com oito demissões, seguido pelo Hamburgo, com cinco.

Praticamente nenhum dos considerados "grandes" escapou da sina de mandar embora o seu comandante técnico em fins do ano em curso. A começar pelo Bayern, que deu adeus a Carlo Ancelotti em setembro de 2017. O Borussia Dortmund fez isso com Peter Bosz três meses mais tarde. Ainda em outubro de 2017, o Werder Bremen rescindiu o contrato com o jovem treinador Alexander Nouri.

Muitos técnicos de renome também foram vítimas das bruxas do outono alemão na Bundesliga. A lista é longa: Felix Magath e Dieter Hecking (Wolfsburg), Lucien Favre (Borussia M'Gladbach), Ralf Rangnick (Schalke 04), Armin Veh (Stuttgart), Bruno Labadia e Mirko Slomka (Hamburgo).

É justo perguntar se demissões no meio da temporada com consequente contratação de um novo técnico trazem algum efeito positivo para o time. Um estudo feito pela Escola Superior de Esportes de Colônia em 2016 confirma que, além da euforia inicial da equipe, no médio prazo, na maioria das vezes "continua tudo como dantes no quartel de Abrantes".

O Stuttgart, por exemplo, demitiu Tayfun Korkut em outubro de 2018 para contratar Markus Weinzierl, que, por sua vez, foi mandado para o olho da rua em abril de 2019. O troca-troca de técnicos não adiantou nada. O Stuttgart foi rebaixado para a "Segundona" do mesmo jeito.

À ausência de resultados positivos no campo esportivo acrescente-se o custo financeiro de rescisões contratuais. Hamburgo e Stuttgart pagam até hoje o financiamento obtido junto a bancos para que pudessem honrar as cláusulas contratuais dos seus ex-técnicos.

Carlo Ancelotti
O Bayern de Munique deu adeus ao técnico Carlo Ancelotti em setembro de 2017Foto: picture-alliance/empics/N. Potts

Sem contar que, quando a diretoria demite um técnico no meio da temporada, envia um sinal fatal para os jogadores: "Vocês não têm culpa da situação em que o time se encontra. A culpa é do técnico que já mandamos embora."

Dos 18 técnicos em ação na Bundesliga, oito são novatos nos seus respectivos clubes. Começaram o seu trabalho em julho, e a bruxa do outono dificilmente passará por eles.

Dos recém-chegados vale a pena destacar o desempenho surpreendente do atual líder Borussia M'Gladbach, sob comando de Marco Rose, que trouxe na sua bagagem três títulos conquistados com o RB Salzburg nos últimos dois anos. Outro técnico que veio da Áustria é Oliver Glasner. Ele dirige o Wolfsburg, atualmente no G4, e é fá declarado de Jürgen Klopp. 

Dos técnicos com alguma quilometragem na Bundesliga, os mais ameaçados pelos ventos tempestuosos de outono são Niko Kovac e Lucien Favre. O treinador dos bávaros passou por uma situação parecida no ano passado, mas aos trancos e barrancos sobreviveu, apesar de sua eliminação na Champions League, e o técnico aurinegro enfrenta sua primeira crise outonal após seguidos maus resultados.

No Bayern, Kovac continua sob atenta observação de Rummenigge e Hoeness, os dois mandachuvas em Munique. No Dortmund, para o diretor esportivo Michael Zorc, a discussão sobre as qualidades e defeitos de Favre já deu o que tinha que dar. 

Os dois treinadores renovaram seus respectivos contratos por mais dois anos até 2021. É de praxe. Acontece que os clubes para os quais trabalham tem altas objetivos, e o seu trabalho será medido pelo atingimento desses objetivos.

É até bem provável que Kovac e Favre passem incólumes pelas bruxas de outono. Caso contrário, um técnico famoso está à espreita. Na Europa circula a notícia de que José Mourinho está fazendo um curso intensivo de alemão e, vira e mexe, se encontra com seu amigo Hans-Joachim Watzke, diretor executivo do Borussia Dortmund. Lucien Favre que se cuide – ou seria Niko Kovac? 

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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