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"Ou Moscou é incompetente, ou quer manter desinformação"

Birgit Maass av
11 de outubro de 2018

Fundador da Bellingcat explica funcionamento da organização jornalística, responsável por revelar identidade de suspeitos no caso Skripal. Entidade usa fontes de informação públicas e treina investigadores independentes.

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Passaporte do médico militar Alexander Mishkin, um dos suspeitos do atentado a Serguei e Yulia Skripal
Passaporte do médico militar Alexander Mishkin, um dos suspeitos do atentado a Serguei e Yulia SkripalFoto: picture alliance/AP Photo

No fim de setembro último, a organização de jornalismo investigativo Bellingcat conseguiu identificar um dos "turistas" acusados pelo Reino Unido da tentativa de envenenamento do ex-espião Serguei Skripal e sua filha, Yulia: "Ruslan Boshirov", é, na realidade, o coronel da agência de inteligência militar russa GRU Anatoliy Chepiga.

Nesta terça-feira (09/10), Eliot Higgins, fundador da Bellingcat, divulgou em Londres que a verdadeira identidade de "Alexander Petrov", o segundo suspeito, é a do médico militar Alexander Mishkin, igualmente empregado pela GRU e condecorado como herói na Rússia.

A rede de pesquisadores empregou dados de passaporte e vasculhou bancos de dados russos oficiais e vazados. Em entrevista à DW, após o anúncio à imprensa, Higgins revelou detalhes sobre o funcionamento da Bellingcat: "Usamos 99,9% de informação publicamente disponível. E compartilhamos com todos."

DW: A Bellingcat cooperou de alguma forma com os serviços de inteligência britânicos no caso Skripal?

Eliot Higgins, da Bellingcat
Eliot Higgins, da Bellingcat: "Quando pedimos provas de que estamos mentindo, Rússia só envia postagens de blogs copiadas da internet"Foto: DW/B. Maass

Eliot Higgins: Não. No passado, nós trabalhamos com um Joint Investigation Team [grupo provisório de investigação com elementos de dois ou mais serviços secretos de Estados da União Europeia], por exemplo em nossa investigação sobre o MH17 [avião da Malaysian Airlines abatido em 2014 quando sobrevoava o Leste da Ucrânia]. É um processo em mão única: nós compartilhamos informações com eles, e eles não nos dão nada em troca. Mas neste caso nós operamos totalmente sozinhos.

A mídia britânica noticiou que uma terceira pessoa estaria envolvida no atentado a Skripal. Vocês investigaram isso?

Não tivemos nenhum dado sobre um terceiro suspeito. Se o governo britânico liberar qualquer informação, nós poderíamos conferir. Mas no momento não temos nada sobre esse assunto.

O senhor tem encorajado outros a usarem investigações open source e ensinado suas técnicas em seminários. Como o uso de fontes públicas pode transformar o jornalismo? O senhor percebe uma guinada decisiva?

Acho que pode ter um efeito significativo. Nós nos empenhamos muito para treinar as pessoas, realizamos nossos próprios cursos. Por exemplo, estamos começando um projeto no Iêmen, treinando os participantes para documentarem incidentes in loco, mostrando como empregar técnicas de investigação open source. Quando vemos alguém usando essas técnicas, é muito gratificante.

Vocês parecem ser mais rápidos do que os próprios investigadores!

Uma investigação sobre a GRU vai envolver um monte de informações confidenciais. Só uma parte pode ser acessada pelo público. Então, nós encontramos os dados liberados na versão confidencial, e é incrível quanta informação conseguimos acessar.

É de se esperar que o governo russo vá desmentir os seus achados. A mídia pró-Kremlin, como a RT, também criticou vocês no passado, alegando que as suas provas levantam mais perguntas do que respostas. Como o senhor defenderia a sua abordagem?

O governo russo e a RT têm uma agenda, é claro. Moscou tem nos acusado repetidamente de mentir, mas quando pedimos provas, eles nos mandam uma série de postagens de blogs copiadas da internet. Eles plagiam os blogs, os reescrevem e apresentam como trabalho próprio. Não sei se é incompetência ou se eles simplesmente querem manter o fluxo de desinformação. Mas, como usamos fontes públicas, nós podemos mostrar passo a passo como chegamos às nossas conclusões.

Mas algumas fontes vocês não podem revelar.

Este caso é fora do comum, porque tivemos que ativar os nossos contatos na Rússia. Normalmente usamos 99,9% de informações disponíveis ao público. E nos nossos relatórios nós as compartilhamos com todos.

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