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Os principais pontos do depoimento de Fabio Wajngarten

12 de maio de 2021

À CPI da Pandemia, ex-secretário de comunicação do Planalto poupou Bolsonaro, se contradisse sobre entrevista e negou envolvimento em campanha anti-isolamento.

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Fabio Wajngarten
Wajngarten teve sua prisão solicitada por Renan Calheiros, que foi negada pelo presidente da CPI, Omar AzizFoto: Eraldo Peres/AP Photo/picture alliance

O ex-secretário de comunicação da Presidência da República, Fabio Wajngarten, prestou depoimento nesta quarta-feira (12/05) à CPI da Pandemia no Senado, que investiga as ações e omissões do governo federal no combate à covid-19.

Em suas falas, Wajngarten tentou isentar o presidente Jair Bolsonaro da lentidão para comprar vacinas oferecidas pela Pfizer, se contradisse sobre o teor de uma entrevista concedida à revista Veja e disse não saber se um vídeo contrário ao isolamento social divulgado em março de 2020 havia sido produzido pela Secretaria de Comunicação (Secom) do Planalto.

Suas respostas evasivas irritaram os senadores em diversos momentos, e o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), pediu ao presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), que prendesse Wajngarten em flagrante por ter "mentido", o que foi negado.

Esta é a segunda semana de depoimentos na CPI. Os senadores também já ouviram os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich e o atual ministro Marcelo Queiroga e o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres.

Alguns itens do depoimento de Wajngarten poderão ser esclarecidos nesta quinta, quando o presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murilo, irá à comissão, e na próxima quarta-feira (19/05), quando está agendado o depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.

Compra da vacina da Pfizer

Um dos objetivos da convocação de Wajngarten à CPI era esclarecer por que o governo federal recusou uma oferta feita pela Pfizer, em agosto do ano passado, de entregar 70 milhões de doses de sua vacina contra a covid-19 até o final de 2020, das quais 3 milhões até fevereiro. O contrato com a farmacêutica foi fechado apenas em março, e o primeiro lote dessas vacinas chegou ao país em maio.

Como o governo não respondeu à oferta da Pfizer de agosto do ano passado, em 12 de setembro o CEO mundial da farmacêutica, Albert Bourla, enviou um ofício a Bolsonaro pedindo que o governo brasileiro decidisse rapidamente se compraria a vacina ou não, diante da demanda crescente de outros países.

Cópias da carta também foram enviadas ao vice-presidente Hamilton Mourão, ao então ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e ao ministro da Economia, Paulo Guedes.

Em sua entrevista à Veja, Wajngarten disse que soube em 8 de novembro dessa carta e, após consulta no governo, percebeu que ela ainda não havia sido respondida, apesar do descontrole da pandemia no país e da necessidade de compra de imunizantes. Em 9 de novembro, Wajngarten então escreveu para o presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murilo, que retornou com um telefonema no mesmo dia.

A partir desse momento, Wajngarten disse que passou a tentar viabilizar a compra da vacina da Pfizer pelo governo brasileiro, segundo ele com o intuito de ajudar no combate à pandemia. Ele afirmou ter se reunido com o presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murilo, em 17 de novembro, e com outros representantes da empresa em 7 e 9 de dezembro.

No final de abril deste ano, o ex-secretário deu uma entrevista à revista Veja na qual tentou isentar Bolsonaro de culpa sobre a lentidão na compra da vacina da Pfizer, e jogou a responsabilidade para a gestão do Ministério da Saúde, então comandado por Pazuello, dizendo que havia "incompetência" e "ineficiência" na pasta.

"Quando você tem um laboratório americano com cinco escritórios de advocacia apoiando uma negociação que envolve cifras milionárias e do outro lado um time pequeno, tímido, sem experiência, é isso que acontece", disse Wajngarten à revista.

Esse ponto foi explorado por durante a CPI, e os senadores queriam confirmar com Wajngarten se ele considerava Pazuello incompetente. Ele, porém, negou ter chamado o ex-ministro de incompetente. "A revista não diz isso, e eu não chamei. Bastar ler a revista. Não chamei", afirmou.

Durante a CPI, a Veja divulgou em seu site o áudio da entrevista, no qual Wajngarten aponta "incompetência" do Ministério da Saúde.

Campanha "O Brasil não pode parar"

Outro ponto relevante do depoimento tratou da campanha "O Brasil não pode parar", veiculada em redes sociais em março de 2020 com mensagens contrárias ao isolamento social, em afronta às recomendações da Organização Mundial de Saúde sobre a pandemia.

Após o vídeo ter circulado em redes sociais, a Secom confirmou que o material havia sido produzido "em caráter experimental" para possível uso, mas que não tinha sido aprovado ainda pelo governo. A Secom também chegou a fazer duas publicações com o mesmo mote, mas as excluiu em seguida.

Em 31 de agosto de 2020, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, concedeu liminar para proibir a veiculação, em qualquer meio, da campanha "O Brasil não pode parar", por ir contra a proteção da saúde da população.

Os senadores perguntaram a Wajngarten se ele havia participado da elaboração dessa campanha. O ex-secretário primeiro disse não ter certeza se o vídeo havia sido produzido pela Secom, e depois afirmou que desconhecia detalhes sobre essa campanha porque estava se recuperando de uma infecção pela covid-19 na época.

"Eu não tenho certeza se ele é de autoria, de assinatura da Secom. Eu não sei se ele foi feito dentro da estrutura ou por algum... Circulou de forma orgânica, eu não tenho essa certeza", afirmou.

Parlamentares de oposição então divulgaram o vídeo de uma live entre Wajngarten e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em março de 2020, no qual o então secretário dizia que estava trabalhando normalmente enquanto se recuperava da doença.

Irritação de senadores

As respostas evasivas de Wajngarten irritaram os senadores. Um desses episódios ocorreu quando Wajngarten, indagado por Renan sobre quem orientava Bolsonaro sobre seus posicionamentos sobre vacinas, respondeu: "Acho que o senhor tem que perguntar a ele".

Aziz então disse a Wajngarten que ele não poderia não responder uma pergunta. "Você não pode dizer 'pergunta a ele'. Você está aqui como testemunha e tem que responder, 'sim ou não'", afirmou.

Em outro momento, Aziz também aconselhou o ex-secretário a ser "objetivo e verdadeiro" na CPI. "Só quem enfrentou um processo sabe que isso não acaba amanhã. A gente se sente meio protegido quando tem o poder por trás da gente. E quando não tem o poder, a gente fica abandonado e aí vem o arrependimento", disse.

Aziz chegou a afirmar que Wajngarten "estava mentindo aqui para todos nós" ao não responder objetivamente às perguntas feitas por Renan.

Pedido de prisão

Em diversos pontos do depoimento, Wajngarten foi ameaçado de prisão por senadores, que acusaram o ex-secretário de mentir à CPI.

Antes da divulgação do áudio de sua entrevista à Veja, Renan disse que iria pedir a sua prisão se ele tivesse mentido ao negar ter dito à revista que considerava a gestão do Ministério da Saúde "incompetente".

Mais tarde, Renan pediu a Aziz que determinasse a prisão de Wajngarten, afirmando que ele havia mentido ao dizer que não sabia se a campanha "O Brasil não pode parar" tinha sido produzida pela Secom.

"Vossa Excelência mente porque está aqui uma postagem na Secom da campanha de o Brasil não pode parar. E está aqui no site do governo do Brasil a postagem oficial", afirmou Renan.

Aziz afirmou que não determinaria a prisão de Wajngarten e que não era "carcereiro de ninguém". "Não é porque uma pessoa vem aqui desde as 9h da manhã e se contradiz toda hora que nós vamos acabar com a CPI, que vai diminuir a CPI. Eu não posso aceitar isso", disse.

"Se depender de mim, eu não vou mandar prender o senhor Fabio Wajngarten. (...) Se ele mentiu, nós temos como no relatório pedir o indiciamento dele", afirmou.

Flávio Bolsonaro ataca Renan

No final do depoimento, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que não é membro da CPI, foi à sessão, assumiu a palavra e atacou Renan por ele ter pedido a prisão de Wajngarten.

"Imagina a situação: um cidadão honesto ser preso por um vagabundo como Renan Calheiros. Olha a desmoralização", disse Flávio, provocando um bate-boca.

"Vagabundo é você, que roubou dinheiro de pessoal no seu gabinete", reagiu Renan. Em seguida a sessão foi suspensa, devido ao início da sessão do plenário do Senado.

Mais tarde, Aziz afirmou que encaminhará o depoimento de Wajngarten ao Ministério Público do Distrito Federal, a pedido do senador Humberto Costa (PT-PE), para apurar se o ex-secretário cometeu crime de falso testemunho.

bl (ots)