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'Protesto de milhões'

9 de fevereiro de 2011

Vice-presidente rechaça queda do regime. Oposicionistas interpretam suas declarações como decreto de lei marcial. Verdes, esquerdistas e social-democratas alemães exigem de Berlim posicionamento claro contra Mubarak.

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Protestos continuam no EgitoFoto: AP

As advertências abertas do vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, contra o perigo de um golpe de Estado e o consequente caos acirraram os protestos contra o presidente Hosni Mubarak, nesta quarta-feira (09/02).

Na véspera, durante encontro com editores-chefe de vários jornais, Suleiman insistiu que a crise deveria terminar o mais breve possível, ao mesmo tempo que excluiu a possibilidade de uma renúncia de Mubarak e do fim do regime. O governo deseja reagir com diálogo às exigências dos manifestantes por reformas, e não empregar a polícia contra a sociedade egípcia, assegurou.

Suleiman acrescentou que a alternativa ao diálogo é o golpe de Estado, o que acarretaria decisões precipitadas e irracionalidade demasiada. "A cultura da democracia ainda está muito distante", comentou.

"Protesto de milhões"

O porta-voz oposicionista Abdul-Rahman Samir interpretou as declarações de Suleiman como uma ameaça de lei marcial. "Isso significaria trucidar a todos, na praça Tahrir. Mas o que ele pretende fazer com os 70 milhões de egípcios restantes que irão nos seguir?" O representante das organizações juvenis Khaled Abdel-Hamid reforçou: "Estamos em greve, vamos protestar e não vamos negociar até que Mubarak renuncie".

Omar Suleiman Vizepräsident von Ägypten
Declarações de Omar Suleiman acirraram os ânimosFoto: AP

No 16º dia consecutivo de protestos no Cairo, pela primeira vez 2 mil manifestantes se dirigiram até o Parlamento, exigindo a dissolução do órgão e novas eleições parlamentares. O Partido Nacional Democrata, do governo, detém atualmente quase todos os assentos do Parlamento egípcio. Uma aliança de cinco grupos oposicionistas convocou para a próxima sexta-feira um "protesto de milhões", a se realizar não apenas na praça Tahrir como também em outros locais da capital.

Por sua vez, a Irmandade Muçulmana decidiu suspender as conversações com o governo Mubarak e reforçou suas exigências de que o presidente renuncie. "Só podemos falar com alguém que reconheça o apelo do povo pelo fim do regime", comentou Essam Al Erian, um dos líderes do movimento oposicionista religioso.

Convite polêmico

O suposto convite da Alemanha para que Mubarak viesse se tratar no país ameaça se transformar num mal-entendido de proporções transcontinentais. Segundo a agência de notícias estatal Mena, o vice-presidente Suleiman declinou da oferta, declarando que o presidente se encontra em boa saúde.

No tocante a uma suposta viagem de Mubarak à Alemanha, não há nenhum acerto com a premiê Angela Merkel "sobre nada", afirmou. Segundo o vice-presidente egípcio, com seu "convite", esta teria se intrometido de forma espantosa em assuntos internos do Egito.

Entretanto, a Chancelaria Federal alemã demente estritamente qualquer plano de abrigar o controvertido chefe de Estado no país. "Não houve qualquer oferta, oficial ou oficiosa", assegurou o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert. Segundo o Ministério do Exterior, tampouco se cogitou junto às clínicas alemãs a possibilidade de uma internação de Mubarak.

O aparente equívoco foi desencadeado por uma notícia do jornal New York Times, no último fim de semana.

Flash-Galerie Ägypten Anti-Mubarak Protest
Praça Tahrir é foco dos protestos. Ao centro, foto de manifestante morta em protestos no sul do paísFoto: dapd

Pressão sobre Westerwelle e Merkel

O ministro alemão do Interior, Guido Westerwelle, opinou, nesta quarta-feira, que apenas o povo egípcio pode dizer quem governará seu país no futuro: "Queremos ajudar, sem nos tornamos paternais".

Westerwelle falou em uma virada de era e de uma cesura histórica para o Egito. Ele descreveu assim a posição de seu governo: "Como democratas, colocamo-nos do lado dos democratas". Uma obrigação de se intrometer a partir do exterior só existe quando os direitos humanos estão em jogo.

Para a oposição alemã, a postura do ministro liberal-democrata em relação ao regime do Egito não é suficientemente definida: social-democratas, esquerdistas e verdes querem que Berlim exija a renúncia de Mubarak.

O deputado Jan van Aken, do partido A Esquerda, criticou o fato de nunca ter ouvido de Berlim a frase: "Mubarak tem que sair". E se este está doente, é claro que pode vir se tratar na Alemanha. Mas em seguida "ele deve ser preso, ainda no hospital, por crimes contra a humanidade" e por roubo.

A porta-voz da bancada verde Kerstin Müller lamentou que Merkel não tenha a coragem de exigir a renúncia do atual presidente do Egito, e que Westerwelle se esconda atrás de uma "regra de não-interferência". "O encarregado da União Europeia para Assuntos Externos, ninguém nem vê." Assim, os manifestantes temem que o Ocidente esteja apenas deixando o tempo passar.

AV/dpa/ap
Revisão: Carlos Albuquerque