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Um sonho político que vale a pena

Alexander Kudascheff (av)24 de maio de 2014

Há muitas razões para reclamar da UE. Mas a possibilidade de viver em liberdade, paz e segurança fazem da escolha para o Parlamento Europeu quase um dever emocional, opina Alexander Kudascheff, editor-chefe da DW.

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É fácil escrever um artigo de opinião contra a Europa, contra a União Europeia, contra os "eurocratas", contra "eles lá em Bruxelas". É relativamente fácil prever os resultados da eleição para o Parlamento Europeu deste domingo (25/05). Partidos eurocríticos, eurocéticos, que rejeitam as instituições europeias e o euro, ganharão a dianteira à esquerda e, sobretudo, à direita, na França, Inglaterra, Itália, Dinamarca, na Grécia, Hungria, Eslováquia, na Finlândia e em outros Estados-membros da UE.

Alexander Kudascheff
Alexander Kudascheff, editor-chefe da Deutsche WelleFoto: DW

Os que usam seu voto como instrumento de protesto se sentirão como vencedores. É grande a probabilidade de que o comparecimento às urnas seja reduzido, certamente bem inferior a 50% do eleitorado. Os europeus não se interessam mais pela Europa, pela UE, pela democracia europeia.

E para onde quer que se olhe, mesmo nas facções políticas de centro, forma-se um novo coro, entoando uma melodia até então inaudita: nós precisamos da Europa para as coisas grandes, mas das pequenas (e, no dia a dia, muitas vezes também das realmente grandes), o bom e velho Estado nacional se encarrega. A deprimente constatação é que ninguém fala em "mais Europa", mesmo em face da crise da Ucrânia – com exceção de alguns idealistas.

Contudo, para além de todo o furor regulamentador, de sua lentidão e inércia na política externa, beirando a inação, a União Europeia é um sonho político. A Europa tem uma alma, uma identidade cultural, social, histórica. Ela é o continente de Shakespeare, Dante, El Greco, Platão, Goethe, Rubens e Da Vinci; de Newton, Galileu, Copérnico, Rousseau e Kant; de Beethoven, Mozart, Verdi. Ela tem uma alma cultural comum, que abrange todo o continente e o determina.

A Europa tem uma vivência histórica conjunta. Durante séculos travaram-se guerras neste continente. No ano em curso, nós recordamos com um calafrio as carnificinas da Primeira Guerra Mundial, cem anos atrás. E da Segunda Guerra, que irrompeu 75 anos atrás.

Este é o continente em que, por cem anos, ingleses e franceses se combateram; em que os alemães sofreram o trauma da Guerra dos Trinta Anos e suas devastações psicológicas; em que bálticos e poloneses foram ocupados e divididos.

E agora? Há mais de 60 anos reina paz por quase toda parte, a UE se destaca como comunidade pacificadora. Nem sempre com êxito, é certo. Mas se por todo o mundo as coisas corressem com a mesma capacidade de superar conflitos da União Europeia dos 28 países, o mundo estaria bem mais perto do sonho da eterna paz.

Europa é também um sentimento de vida, o European way of life. Ela vive a liberdade irrestrita, aposta nos êxitos econômicos, desfruta de segurança social, apesar da crise do euro. É um continente onde as aduanas, as barreiras e fronteiras caíram; um continente que se aglutina em torno de padrões ecológicos e sociais, que os defende.

Ela é um continente que se ocupa do próprio passado, que dá alto valor ao Estado de direito. E que tem consciência de suas diferenças – no estilo político, na mentalidade das sociedades. Na Europa, pode-se viver como inglês ou holandês e se sentir como tal – e, apesar disso, ser um europeu, tranquilamente.

Na Europa é possível viver em liberdade, paz e segurança. E por isso vale a pena ir às urnas, votar pela Europa. Aqui, o direito ao voto é praticamente um dever emocional de votar. E depois podemos voltar a xingar "aqueles lá em Bruxelas" – mas, aí, com razão.