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Opinião: Países do G8 precisam cumprir suas promessas

29 de maio de 2007

O professor Jeffrey Sachs, conselheiro especial do secretário-geral da ONU, critica a falta de esforços dos países do G8 em acabar com a pobreza e explica o que pode ser feito para reverter esse quadro.

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Ajuda à África bem aquém das promessasFoto: picture-alliance/dpa

Os objetivos para o desenvolvimento neste milênio são as metas acordadas mundialmente para acabar com a pobreza, a fome e a doença. Elas foram estabelecidas em 2000, com objetivos a serem cumpridos até 2015. Estamos no meio do caminho para alcançar esses objetivos. Até o momento, os países do G8 não estão cumprindo a sua parte no acordo, apesar das inúmeras promessas dos países ricos de aumentarem a ajuda aos países pobres.

Quando novos países doadores como a China entram em cena, os Estados Unidos e a Europa tendem a reclamar, como se o monopólio deles sobre continentes de baixa renda como a África e a Ásia estivesse sendo quebrado. A credibilidade política do G8 no mundo será perdida, se ele relutar em cumprir sua palavra.

Embora o G8 tenha prometido duplicar a ajuda à África durante a cúpula de 2005 em Gleneagles, não existe até agora nenhum plano de como se fará isso. Um ano após a reunião em Gleneagles, os números divulgados dessa ajuda mostravam uma contabilidade enganosa, que incluía cancelamentos de dívidas como doações. Com cancelamentos de dívidas encerrados, está sendo revelada agora uma verdade desoladora. A ajuda para o desenvolvimento na África, e nos países pobres em geral, está estagnada.

Entre 2005 e 2006, a ajuda total voltada para a África, excluído o cancelamento de dívidas, mostrou um pequeno aumento de 2%, muito longe da meta de dobrar o auxílio. O total da ajuda ao desenvolvimento destinada a todas as nações, excluindo da conta o perdão de dívidas, caiu em 2% entre 2005 e 2006.

Até mesmo o Banco Mundial, que geralmente defende o ponto de vista dos países doadores, recentemente reconheceu que, exceto pelo cancelamento de dívidas, "as promessas de aumento de ajuda financeira não foram cumpridas".

Tudo isso pareceria insuperável, se a solução não fosse economicamente tão clara. Não estamos falando de uma quantia de dinheiro inatingível para os países ricos. Na realidade, estamos falando de uma quantia minúscula.

O G8, representando aproximadamente 1 bilhão de pessoas em sociedades de alta renda, prometeu aumentar a ajuda para a África, de 25 bilhões de dólares em 2004, para US$ 50 bilhões em 2010. Estes 25 bilhões de dólares de diferença são menos que um décimo de 1% do que essas nações faturam juntas.

Para ter-se uma idéia, os bônus de Natal do ano passado na Wall Street – apenas os bônus – somaram US$ 24 bilhões! O gasto com a Guerra do Iraque, que trouxe mais nada do que violência, é de mais de 100 bilhões de dólares por ano. O G8 poderia facilmente honrar seus compromissos, se os países ricos tivessem uma ligeira preocupação em cumpri–los.

Para resgatar o G8 da queda de credibilidade, eis aqui o que precisa ser feito: Primeiro, o G8 precisa tornar claro que ele honrará seu compromisso em aumentar a ajuda para a África em 25 bilhões de dólares por ano, o que daria um total de 50 bilhões por ano. Em segundo lugar, o G8 precisa propor um plano de ação. A falta de compromissos específicos de certos países é chocante e demonstra o pior tipo de governança.

Em terceiro, os países que receberão as doações precisam ser avisados sobre aumentos anuais da ajuda, para que dessa forma possam se planejar até 2010. O aumento do auxílio deveria ser direcionado à construção de estradas, rede elétrica, escolas, clínicas e treinamento de professores e funcionários das redes de saúde pública.

Contudo, todo este investimento requer planejamento e anos de implementação. A ajuda precisa ser comprometida em termos claros para um período de longo prazo. Dessa maneira, os países que recebem as doações poderão usá-las de forma sensata e planejada.

Os países africanos já identificaram suas mais importantes prioridades de investimentos em saúde, educação, agricultura e infra-estrutura (incluindo rodovias, redes elétricas e acesso à internet). Estes investimentos poderiam ser aumentados sistematicamente até 2015, a fim de possibilitar que estes países alcancem as metas de desenvolvimento programadas para esse milênio. É hora de os países ricos pararem de discursar e, em vez disso, cumprirem sua palavra.

O progresso na luta contra a pobreza contribuirá não apenas para a sobrevivência e dignidade humanas, mas também para a paz. É hora, então, de manter nossos governos preparados para o que eles se comprometeram, mas não cumpriram. (vn)

Jeffrey Sachs
Jeffrey SachsFoto: AP

O professor Jeffrey Sachs é diretor do Instituto da Terra da Universidade de Columbia e conselheiro especial do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon. Sachs escreveu este artigo especialmente para a DW- WORLD.