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Na crise com sauditas, é preciso solidariedade ao Canadá

Rainer Hermann, FAZ & Klett-Cotta
Rainer Hermann
11 de agosto de 2018

Conflito entre Riad e Ottawa é exemplo mais recente de como as relações internacionais se embrutecem: faz-se política de poder usando pressão econômica. Essa briga diz respeito a todos, opina o jornalista Rainer Hermann.

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Ministro do Exterior saudita, Adel al-Jubeir, em coletiva de imprensa em Riad
Ministro do Exterior saudita, Adel al-Jubeir, em coletiva de imprensa em RiadFoto: Reuters/F. A. Nasser

A crise que a Arábia Saudita iniciou com a Alemanha em novembro de 2017 não foi mero acidente de percurso. O então ministro alemão do Exterior, Sigmar Gabriel, criticara a política saudita. Em resposta, Riad retirou indignado seu embaixador de Berlim, e desde então as empresas alemãs dificilmente fincam pé em solo saudita.

Esse não foi o único caso em que a Arábia Saudita reagiu de maneira hipersensível a críticas sobre a situação no reino e revidou com mão pesada. Pois o conflito recente com o Canadá demonstra, acima de tudo, que as reações exageradas dos sauditas obedecem a um sistema. Ottawa exigira a libertação de duas ativistas dos direitos femininos, e a cólera de Riad contra os canadenses é ainda mais contundente do que a contra a Alemanha.

A Arábia Saudita pune todos aqueles que considera dispensáveis. Isso funciona enquanto o reino pode contar com sua aliança com os Estados Unidos e o presidente Donald Trump. O príncipe Mohammed bin Salman dá a entender a todos os demais que eles estão abaixo da liga dele.

De ambos os lados estabeleceu-se uma corrida pelo respaldo político. A Arábia Saudita conclama todas as nações que dependem dela a se mostrarem solidárias, rechaçando as críticas como uma inadmissível "ingerência nos assuntos internos" de um Estado.

Por sua vez, o Canadá se recusa a dar o braço a torcer e quer continuar se engajando pelos direitos humanos. Para tal, o primeiro-ministro Justin Trudeau apela à solidariedade dos países ocidentais – que se espera que estes não lhe neguem.

Absurdo é a Arábia Saudita repudiar como interferência num assunto interno uma reivindicação para que se libertem ativistas dos direitos humanos. O próprio reino pratica esse tipo de ingerência em muitos países, e deixando um gosto amargo.

Entre os exemplos conte-se a guerra no Iêmen; o bloqueio do Catar; o envio de tropas ao vizinho Barein em 2011, para repressão de protestos; nos últimos anos, a agitação nos EUA e na Europa, contra o acordo nuclear com o Irã.

Isso também faz parte do embrutecimento das relações internacionais e a erosão da ordem mundial vigente: é quando não se amenizam mais os conflitos e crises usando os instrumentos da política e da diplomacia, impondo-se, em vez disso o próprio poder através de pressão econômica e à custa dos outros. Países como a Alemanha e o Canadá deveriam se manter coesos neste momento.

Rainer Hermann é jornalista do diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung.

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