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Crise do coronavírus traz ameaça de violenta recessão global

10 de março de 2020

Finalmente tivemos uma nova segunda-feira negra. Quase havíamos esquecido como as bolsas podem afundar. E essa pode ter sido só uma amostra do que está por vir na crise do coronavírus, opina o jornalista Henrik Böhme.

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Homem de barba branca no pregão da bolsa de valores de Nova York
"Crise do coronavírus desperta memórias da crise financeira global de 2008/2009", diz Henrik BöhmeFoto: picture-alliance/AP Photo/R. Drew

A situação, todo mundo conhece: o sol brilha lá fora, o ar está quente e abafado – e, de repente, surgem nuvens negras. Em seguida, despenca uma enorme tempestade – e depois o ar fica maravilhosamente limpo, pelo menos por um tempo. Foi isso, resumido em duas frases, o que aconteceu nos mercados financeiros, de Xangai, passando por Frankfurt e Nova York, nas últimas 24 horas.

Há um tempo demasiadamente longo, os mercados de ações estavam desconectados da economia real. Por exemplo, ignoravam o fato de a indústria alemã estar em recessão há meses e de a economia alemã como um todo estar paralisada. Tinham relevado a turbulência causada pela guerra comercial entre americanos e chineses, e já tinham, de alguma forma, considerado o Brexit.

E então bastou um vírus pequeno e ainda praticamente inexplorado para realmente revirar o castelo de cartas. Que colapso! Recordes de perdas por todos os lados: em pontos (que sempre parecem bem grandes) e em porcentagem (que sempre diz mais).

No dia seguinte, o mundo parece um pouco melhor – pelo menos nos grandes painéis das bolsas de valores. Mas quem acha que o pior já passou está errado. A crise do coronavírus tem o poder de novamente mergulhar a economia global em uma recessão violenta.

São despertadas as memórias da crise financeira global de 2008/2009. Nela também, um vírus invadiu os sistemas, mas de um tipo muito diferente: era a ganância por lucros aparentemente intermináveis, por um aquecimento econômico sem fim. O resultado é bem conhecido: um quase colapso total só pôde ser evitado por um empenho financeiro inacreditavelmente alto: centenas de bilhões de dólares, euros, iuanes e ienes em estímulos econômicos foram bombeados para as economias do mundo. Dinheiro que os Estados na verdade não tinham. As consequências se fazem sentir até hoje – por exemplo, sob a forma de baixas taxas de juros, com todas as suas consequências negativas para os bancos e poupadores.

E por falar em bancos: nesta terça-feira, o Deutsche Bank completa 150 anos. Na véspera do aniversário, as ações, que haviam arduamente subido nos dois primeiros meses do ano, caíram 17%, para um novo nível mais baixo de todos os tempos. Um presente de aniversário envenenado. Mas os bancos são os mais punidos em tal situação, pois é provável que muitas empresas agora não consigam pagar seus empréstimos. O fato de o banco ter cancelado sua grande festa de aniversário em Berlim, agendada para daqui a dois fins de semana, por causa do vírus (realmente apenas por causa do vírus?) é apenas um detalhe.

Mas, voltando ao novo coronavírus: mais uma vez estão sendo preparados estímulos econômicos para ajudar empresas que já foram severamente afetadas pelo vírus – operadores de hotéis, serviços de gastronomia, promotores de feiras empresariais e construtores de estandes. E infelizmente isso é apenas o começo. Se a propagação do vírus não for bem-sucedida, a Alemanha não poderá evitar medidas tão drásticas quanto as da Itália. Como as pessoas irão ao trabalho? A produção nas fábricas poderá continuar? Mais pessoas morreriam devido às consequências econômicas, porque tal recessão também afetaria o sistema de saúde?

Obviamente, é importante que o Estado sinalize às empresas nessa situação: estamos com vocês. É surpreendente que não apenas o ministro alemão da Economia o diga, mas também o normalmente pouco loquaz ministro das Finanças do país. Mas ele também não pode fechar os olhos para o que pode estar por vir. Não apenas as pequenas e médias empresas vão pedir ajuda, mas também as grandes, como a Lufthansa, que, como muitas outras companhias aéreas, reduziu pela metade suas operações de voo. E nos aviões que voam, já é possível perceber atualmente uma quantidade incomum de lugares vazios. Quem vai querer voar a algum lugar para ser posto em quarentena?

Provavelmente no final de março, a economia alemã sentirá todos os efeitos das cadeias de suprimentos interrompidas. Porque então os contêineres da China, que seis semanas antes não puderam ser enviados por causa do surto de coronavírus, não chegarão. Ao mesmo tempo, alguns virologistas e também o ministro da Saúde pressionam por medidas muito mais drásticas para conter o vírus.

Se ambos ocorrerem, o tombo das bolsas de segunda-feira terá sido apenas uma brisa leve antes de uma tempestade real. A Alemanha tem que se armar para isso, mas o resto do mundo também. Seria uma nova oportunidade para o G20 – que não vem se entendendo, mas que cooperou de maneira exemplar quando estourou a crise financeira global – evitar o pior. A Arábia Saudita está atualmente na presidência do grupo. Quem se encarrega de ligar para Riad?

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