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Opinião: Cem dias de política externa sem estratégia

29 de abril de 2017

Trump não implementou nenhuma promessa de campanha e permanece uma incógnita na política externa. Para quem queria fazer tudo diferente, ele até que anda bem dentro da linha, opina o correspondente Miodrag Soric.

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Miodrag Soric é correspondente da DW em Washington

Diante do que se temia nem foi tão mau assim! O presidente Donald Trump ainda não deu início a nenhuma guerra. O homem de mãos impacientes no Twitter não critica mais a Otan. Ao contrário, passou a elogiá-la. No fim das contas, nada é tão ruim quanto parece! Principalmente na política externa.

Até agora, ele não pôde implementar nenhuma de suas promessas de campanha: nenhuma melhora das relações com a Rússia, nenhuma "punição" à China por suas supostas manipulações monetárias, nada de rescisão do acordo nuclear com o Irã. O bombardeio de um aeroporto na Síria foi uma espécie de ação punitiva ao regime do presidente Bashar al-Assad por ele ter empregado armas químicas. O mesmo vale para o ataque a uma rede de túneis do chamado "Estado Islâmico" no Afeganistão.

Porém: por trás de tais decisões não há nenhuma estratégia de como essas regiões podem ser pacificadas, como também não parece haver nenhuma estratégia de política externa da nova administração. Trump fez campanha eleitoral com o slogan "os Estados Unidos em primeiro lugar", o que na prática significa: menos dinheiro para o resto do mundo. E, de fato, ele reduziu o orçamento de organizações internacionais, como a ONU e o Banco Mundial. Isso pode ter efeitos dramáticos na prevenção de crises e na luta contra a pobreza e pandemias.

Só a área de defesa ganha mais dinheiro com Trump, o que deixa felizes tanto o lobby de armas como os intervencionistas no Congresso. Só que não é possível conter os radicais islâmicos apenas com armas. Na luta contra a pobreza no Norte da África ou no Oriente Médio, aviões de combate ajudam tão pouco quanto tanques de guerra. Os EUA já possuem, de longe, a maior força militar do mundo. Eles não são ameaçados seriamente por ninguém. O dinheiro seria mais bem investido na educação ou na proteção climática. Mas disso, infelizmente, o presidente americano não quer saber.

Existe, afinal, uma constante na política externa de Trump? Será a "flexibilidade", da qual ele tanto se orgulha? Isso nutriria a suspeita de que ele decide a bel-prazer – de forma espontânea, não planejada. Ser imprevisível pode ser uma manobra de negociação de empreiteiros para comprar cimento mais barato. Na política externa, no entanto, a previsibilidade é considerada uma virtude.

Em Washington, otimistas têm esperança de que "The Donald" possa aprender também a virtude da constância e a ouvir mais os conselheiros que defendem uma política externa americana tradicional. Trump, que antes de sua posse queria fazer tudo diferente em termos de política externa, anda agora na linha – com exceção de algumas recaídas. Mas essas o mundo terá de aguentar.