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Opinião: Até que enfim, Jogos Olímpicos no Brasil!

30 de julho de 2016

Os Jogos Olímpicos do Rio não serão perfeitos, mas serão brasileiros. E é assim que deve ser, pois o evento esportivo é que deve se adaptar à realidade do país-sede, e não este às exigências do COI, afirma Astrid Prange.

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Prange de Oliveira Astrid Kommentarbild App
Astrid Prange é jornalista especializada em América Latina da DW

O Rio de Janeiro é um lugar muito especial. E também por isso a "capital secreta do Brasil" exerce um fascínio irresistível sobre todos os participantes de grandes eventos: ambientalistas, foliões, católicos, torcedores de futebol e agora atletas olímpicos: no fundo, todos eles sonham com uma ida à praia de Copacabana.

Em menos de uma semana, o Rio de Janeiro dará a largada para os primeiros Jogos Olímpicos sediados na América do Sul. Desde o início dos Jogos da era moderna em Atenas, em 1896, esse evento esportivo ocorreu 21 vezes na Europa, quatro na Ásia, seis na América do Norte e duas na Austrália.

É, portanto, mais do que justificado que o maior evento esportivo do mundo também seja sediado por um país emergente da América do Sul. E quem mais, além do Brasil, poderia dar um sopro de renovação ao movimento olímpico?

Porque o Brasil é o país que, apesar de todas as profecias apocalípticas, sediou uma Copa do Mundo bem-sucedida em 2014. É o país que viu sua seleção ser massacrada de forma espetacular pela Alemanha – e os brasileiros, em vez de saírem quebrando tudo, tiveram a grandeza de dar os parabéns aos vencedores.

Muitos cariocas ficam perplexos diante da crítica contínua aos preparativos dos Jogos Olímpicos. Depois de aguentar durante anos as obras na sua cidade, eles ainda tiveram que assistir a um debate histérico sobre o vírus zika que levou à possibilidade, exposta de forma aberta, de transferir os Jogos para outro lugar.

E precisam ficar ouvindo reclamações de delegações sobre alojamentos em mau estado enquanto que, em outras edições dos Jogos, havia problemas de magnitude bem superior: em Atenas, em 2004, os estádios não ficaram prontos a tempo; em Pequim, em 2008, a marca registrada eram os constantes alertas sobre a poluição do ar; e em Sochi, na Rússia, foram investidos cerca de 40 bilhões de dólares nos Jogos de inverno mais caros da história.

Correto: também no Rio nem tudo é perfeito. A maravilhosa Baía de Guanabara ainda está poluída. A nova linha do metrô, que deveria chegar até a entrada do Parque Olímpico, deverá funcionar de forma restrita. E, para a construção de instalações esportivas, muitos moradores perderam suas casas.

Mas os Jogos Olímpicos serão realizados na América do Sul e não na Europa. E, ao contrário da América do Sul, cidades ricas da Europa, como Hamburgo, Munique, Estocolmo e St. Moritz, recusaram-se, por meio de referendos, a sediar os Jogos. Na Noruega foi o próprio governo que retirou a candidatura de Oslo devido às elevadas exigências do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Por isso, é ainda mais respeitável que uma metrópole como o Rio de Janeiro, com os graves problemas sociais que enfrenta, vá sediar assim mesmo os Jogos Olímpicos. Mais do que isso: é admirável como os cariocas, apesar do pessimismo e da crise política no próprio país, mantêm-se firmes ao ideal olímpico e à sua tradicional hospitalidade.

O Rio e seus moradores vão deixar sua marca nesses Jogos e dar a eles uma cara brasileira. Ainda bem! Os Jogos Olímpicos é que devem se adaptar à realidade de seu país-sede, e não estes às exigências cada vez maiores do COI.

A cidade e seus moradores vão provar que não são o gigantismo, a comercialização e o perfeccionismo que fazem dos Jogos Olímpicos um evento bem-sucedido, mas a hospitalidade e o entusiasmo esportivo da população. E se justamente nessa cidade especial começar essa mudança de paradigma para lá de atrasada, muito terá sido conquistado – pelo Brasil e em favor do ideal olímpico.