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Alemanha treme com Angela Merkel

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Felix Steiner
15 de julho de 2019

Quanto a opinião pública precisa ficar sabendo sobre as eventuais doenças da chefe de governo alemã? Assim como todos os demais cidadãos do país, ela também tem direito à privacidade, opina Felix Steiner.

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Angela Merkel escuta Hino Nacional sentada, ao lado da premiê dinamarquesa Mette Frederiksen
Solução: Merkel escutou o Hino Nacional sentada ao lado da premiê dinamarquesa Mette FrederiksenFoto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler

Na verdade, a proteção de dados pessoais é uma vaca sagrada na Alemanha. Sem minha permissão, não podem ser disponibilizadas a terceiros nem mesmo as coisas mais banais, como meu endereço, minha profissão ou minha idade.

Mas para os políticos, também na Alemanha, valem regras totalmente diferentes: eles precisam se sujeitar a tudo e tudo revelar, desde o escrutínio até mesmo das notas de pé de página de suas dissertações acadêmicas, até o último centavo de seus ganhos adicionais por algum cargo honorário ou emprego paralelo.

E quando eles têm algum problema de saúde, se dependesse da vontade de muitas mídias, o Departamento Federal de Imprensa deveria enviar às redações o boletim médico com um exame de sangue completo.

Enquanto isso não acontecer, charlatães de todo tipo estão livres para emitir seus diagnósticos à distância, mesmo que eles nem de longe tenham qualquer coisa a ver com a realidade. Falando sério: é possível uma coisa dessas?

Claro que a saúde da chefe de governo alemã é uma questão política e portanto também pública. Pelo menos se ela ficar tão limitada que não seja mais capaz de desempenhar com força plena seu (sem sombra de dúvida desgastante) cargo. Mas esse não é o caso. "Eu estou bem", diz Angela Merkel.

Só que ninguém acredita nela. Pois todos viram aquelas imagens em que a chanceler federal tremia ao lado do novo presidente da Ucrânia; e durante a posse da nova ministra da Justiça; e mais uma vez ao lado do chefe de governo da Finlândia. Caramba, o que é que está acontecendo?

Aqui fica nítido como mudou totalmente o papel que a mídia desempenha atualmente. Pois Merkel não é a primeira chanceler federal da Alemanha a apresentar problemas de saúde. Willy Brandt, o ícone da social-democracia alemã, sofreu de depressão semanas a fio, ficando consequentemente fora de ação. Helmut Schmidt, seu sucessor como chefe de governo, desmaiou quase 100 vezes durante o mandato, mesmo no Palácio do Eliseu, em Paris.

Merkel é vista tremendo em nova cerimônia oficial

A única diferença em relação a hoje é que ninguém notou. Pois, mesmo que tivessem visto alguma coisa, os jornalistas jamais publicaram tais imagens na época. Foi o próprio Schmidt que, aos 95 anos, um ano antes de morrer, revelou seus problemas.

Agora, portanto, a Alemanha tem uma chanceler federal que, quando acha que convém, escuta o Hino Nacional sentada. Algum problema? Se Wolfgang Schäuble – durante longo tempo considerado o herdeiro político de Helmut Kohl e paraplégico desde um atentado – fosse hoje o chefe de governo, há muito os alemães teriam se acostumado a essa visão.

"Fora isso, estou plenamente convencida de que sou bem capaz de cumprir minhas funções." Até segunda ordem, os alemães devem tomar como uma garantia essa frase de Merkel durante a coletiva com o primeiro-ministro finlandês. Isso é mau? Não! Pois a chanceler federal também tem como prerrogativa aquilo que todos os demais alemães consideram sua prerrogativa: o direito à privacidade. E isso inclui também, justamente, o problema concreto que a aflige no momento.

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