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Palin não garante nada

5 de setembro de 2008

A convenção dos republicanos teve uma grande estrela: a candidata a vice-presidente Sarah Palin. Mas isso ainda não é garantia de nada, opina a correspondente da Deutsche Welle em Washington, Christina Bergmann.

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"Mac is back" – há nem um ano a disputa eleitoral parecia encerrada para John McCain. Falta de dinheiro e discórdias na equipe quase levaram o senador de 72 anos a desistir. Mas ele encarou as dificuldades e conseguiu vencer as primárias do seu partido, apesar de a base conservadora se mostrar cética quanto à sua candidatura.

Mas agora até os evangélicos estão exultantes. O motivo: a candidata a vice na chapa de McCain, Sarah Palin, de 44 anos. A governadora do Alaska foi ovacionada como a grande estrela na convenção do Partido Republicano em St. Paul, Minnesota.

O que mostra que, num primeiro momento, a estratégia de McCain deu certo. Ele procurou e encontrou um rosto novo, que junto com ele pode renovar o establishment em Washington. Mas o número de votos que Palin de fato atrairá é incerto.

As eleitoras frustradas de Hillary Clinton não se voltarão tão facilmente para o lado republicano só porque estes colocaram uma mulher na chapa presidencial. A rígida posição antiaborto de Palin, sua religiosidade extrema e a sua recusa à educação sexual são apenas alguns pontos nos quais ela personifica o exato oposto da democrata Clinton. No formato, Palin também não chega aos pés da ex-primeira dama.

Mas a governadora do Alaska não foi mal no papel de "atiradora" durante a convenção do partido. Só que para de fato se apresentar como uma "pitbull com batom", como ela se definiu, ainda lhe falta um certo peso político.

Ainda assim, ela surpreendeu muitos observadores externos com os seus ataques agressivos ao candidato democrata, Barack Obama. A promessa de uma campanha eleitoral leal, que havia sido feita por McCain, sucumbiu diante dos ataques pessoais de Palin. Isso apesar de o discurso não ter sido escrito por ela, mas por um assessor próximo do presidente George W. Bush.

Christina Bergmann
Christina Bergmann

O próprio McCain optou por tons mais moderados em seu discurso. Ele expressou respeito por Obama e disse que os dois têm mais pontos em comum do que divergências. Esse comportamento fica bem em McCain. Mas os republicanos presentes foram comedidos nos aplausos – aparentemente, preferem a campanha eleitoral agressiva, o que é de se lamentar.

Os delegados também foram discretos em seus aplausos quando McCain disse que a política em Washington mudou os partidos para pior. Com isso, atacou um problema de frente: McCain necessita se distanciar da política de Bush, mais impopular do que qualquer outro presidente antes dele. No final das contas, foram os republicanos que estiveram durante oito anos na Casa Branca e controlaram o Congresso durante 12 dos últimos 14 anos.

Se agora os republicanos reclamam de uma Washington corrupta e inflada, então eles deveriam olhar se olhar no espelho. Parece que os delegados presentes em St. Paul, diferentemente de McCain, não gostam de encarar essa verdade. Mas os eleitores não estarão dispostos a seguir essa lógica torta.

Também o conto de fadas de um país sempre em estado de exceção e que precisa a todo custo ser protegido de um inimigo terrível, mas cada vez menos palpável, perdeu credibilidade entre muitos americanos. Dentro de seu próprio partido, McCain ainda tem um árduo trabalho de convencimento diante de si.

A partir desta sexta-feira, McCain e Palin terão de enfrentar a realidade e os temas pertinentes aos eleitores, preocupados principalmente com a má situação econômica do país. Aí logo ficará claro se a dupla também vai existir fora das luzes douradas da convenção partidária. A situação inicial não é das piores: nas pesquisas, Obama e McCain estão, há dois meses das eleições, em posições mais ou menos semelhantes.

Christina Bergmann é correspondente da Deutsche Welle em Washington.