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Há motivo para alegria nesta Copa?

Joscha Weber
14 de junho de 2018

Mundial de 2018 começa, mas para muitos ainda falta a verdadeira euforia. As razões são óbvias, mas ainda há esperanças de um grande torneio - e de consequências políticas positivas.

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Russland, Moskau: WM 2018, FIFA Symbolbild
Foto: Getty Images/AFP/S. Khan

É verdade que não está fácil se animar com a expectativa do início da Copa do Mundo de 2018. Onde foi parar o costumeiro frio na barriga? Para onde foi aquela alegria de criança, diante de cinco semanas de puro futebol, diante dos craques abençoados de todo o mundo, dos bolões entre os colegas ou da tradição de assistir aos jogos com amigos e cerveja? No passado, ela costumava se anunciar mesmo antes da véspera de abertura, concorda?

Com essa insipidez na barriga, minha cabeça começa a funcionar. Bom, é óbvio: como alguém pode se animar de verdade com todos os problemas, manchetes negativas e escândalos que anteciparam o Mundial?

Já começa com o anfitrião, a Rússia, um país que tenta, traiçoeiramente, envenenar pessoas com neurotoxinas; que viola o direito internacional com a anexação da Crimeia; que bombardeia hospitais na Síria; que supostamente hackeia e espiona nações amigas; que realiza a Copa mais cara de todos os tempos enquanto muitos russos vivem na miséria; que ludibria com um sistema de doping o mundo dos esportes durante anos e que ameaça o jornalista que revelou a farsa de não conceder permissão de entrada – esse país pode realizar um Mundial de futebol? Ainda por cima quando se sabe há muito tempo que alguns dos responsáveis da Fifa pela escolha da sede da Copa do Mundo realizaram negócios suspeitos com a estatal russa Gazprom?

E mesmo a Fifa: a empresa organizadora – perdão: a associação sem fins lucrativos, segundo o direito suíço – pune, por um lado, federações como a da Nigéria com expulsão (2014) devido a "ingerência política" e recompensa, pelo outro, federações como a dos EUA com uma Copa devido a "ingerência política" – ou como se explicam os tuítes ameaçadores de Donald Trump antes da escolha da sede do Mundial de 2026? É como se uma rasteira perigosa ganhasse um cartão vermelho, e outra, o troféu da Copa.

É verdade que há muitas razões para não se animar com a Copa do Mundo na Rússia. Mas há ao menos um motivo de alegria: o Mundial une as pessoas. Ele sempre fez isso. E com o triunfo global do futebol, ele congrega cada vez um pouco mais a cada transmissão de jogo. Futebol é uma língua compreendida por quase todos em qualquer país do mundo.

O jogo consegue reunir pessoas de todos os continentes. Elas trocam ideias, dialogam, passam a se conhecer, perdem preconceitos, entendem umas às outras e superam divisões – que são muitas entre o anfitrião Rússia e o chamado Ocidente, como também alguns países da Ásia e Oceania. Conseguir atenuar novamente essas fronteiras seria um êxito para essa Copa do Mundo.

Em meio a crises diplomáticas entre russos cada vez mais isolados e o resto do mundo, A Copa proporciona uma pequena chance de reaproximação. Além do meio milhão de visitantes internacionais esperados, seria aconselhável que os chefes de Estado e governo também a aproveitassem. Pois, enquanto boicotes a eventos esportivos mostraram comprovadamente que não levam a nada, neste ano o esporte conseguiu mostrar a dimensão da força agregadora que pode ter.

Os Jogos Olímpicos de Inverno em Pyeongchang levaram, primeiramente no hóquei de gelo, mais tarde no cenário político a uma aproximação considerada até então impossível entre as duas Coreias. Se isso acontecer ao menos de longe entre a Rússia e o Ocidente, seria então um verdadeiro conto de fadas no verão europeu – e, finalmente, um motivo de alegria.

Joscha Weber é editor-chefe on-line de Esportes da Deutsche Welle. 

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