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Opinião: Guerra não é remédio contra terrorismo

Barbara Wesel Studio Brüssel
Barbara Wesel
17 de novembro de 2015

Após os ataques de Paris, a retórica do presidente François Hollande conclama à guerra. Para correspondente da DW Barbara Wesel, declarar uma "guerra ao terrorismo" pode se tornar uma armadilha.

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Barbara Wesel Studio Brüssel
Foto: DW/G. Matthes

É claro que o presidente francês tem de se apresentar forte e decidido em sua retórica depois dos atentados em Paris. É isso que os cidadãos de seu país esperam dele. E eles também querem ser protegidos contra o terrorismo – o tanto quanto possível, nesse ponto, os franceses são bem realistas. Portanto, a maioria dos franceses não tem nada contra a lista de medidas concretas a serem tomadas, da proibição de viagem para suspeitos de terrorismo à ampliação do estado de emergência.

Sem dúvida, o governo francês tem de pôr a casa em ordem. Isso inclui, por exemplo, uma sistemática busca e apreensão de armas. O Estado tem que reconquistar o monopólio do uso da força e não pode ter medo de entrar nas "áreas proibidas" dos subúrbios. Isso vale principalmente para redutos criminosos, onde o caminho entre o assalto à mão armada e o atentado terrorista parece ser curto. No ataque ao semanário Charlie Hebdo, um dos agressores passou de delinquente a assassino em massa. Esse padrão se repete na atual série de assassinatos.

E, nesse ponto, faltou algo nos anúncios presidenciais. As nossas sociedades toleraram, por tempo demais, os pregadores do ódio e suas fantasias violentas. Essa tolerância cultural foi um erro. Quem prega o ódio e a violência contra nós – os chamados infiéis – deve ter a sua mesquita fechada com tábuas e pregos. A comunidade deve procurar um imame que propague a fé e não o homicídio.

Isso inclui também agir contra os tutoriais na internet sobre prática de tiro e construção de bombas e exigir das empresas de internet nos EUA que retirem da rede ao menos parte dos excessos.

Hollande também acertou em alguns pontos em seu discurso perante as duas Casas do Parlamento francês, principalmente ao falar sobre a força da cultura liberal na França. Ele mencionou coisas necessárias sobre as medidas de segurança. E ele falou algo errado, ao dizer que quer empreender uma guerra contra o terrorismo. Trata-se de uma armadilha política, em que George W. Bush já caiu. As consequências de seu erro prepararam o terreno para o estado de violência que brota hoje no Oriente Médio.

O presidente francês sabe disso, pois seu antecessor Jacques Chirac foi inteligente o suficiente para se manter longe da guerra do Iraque. Por que Hollande se serve agora da mesma retórica equivocada?

Não se trata necessariamente de um erro destruir posições militares do "Estado Islâmico" (EI). Mas quando se pretende libertar o leste da Síria e partes do Iraque das mãos dos terroristas, a luta não pode ser ganha somente com ataques aéreos. Esse combate faz principalmente muitas vítimas civis. Sem uma coalizão de tropas terrestres, seja composta da forma que for, não é possível pacificar tais regiões.

Um editorialista francês escreveu: matamos os extremistas mal vestidos e bajulamos os elegantes. Isso foi um recado contra a Arábia Saudita. A França e outros países europeus têm, finalmente, de pôr um fim ao seu tratamento hipócrita frente aos xeques. Foram eles que produziram as crias de dragão que hoje nos atacam com Kalashnikovs e cintos de explosivos em nossas cidades. Já está na hora de pressionar, política e economicamente, os governantes sauditas e seus vassalos de forma que eles parem, de uma vez por todas, de financiar os nossos assassinos.

Nesse ponto, faltou uma peça-chave no discurso do presidente francês. Ele tem de dar um exemplo e posicionar a política externa francesa diante dos financiadores do terror: o mal do terrorismo do "Estado Islâmico" tem de ser cortado pela raiz, e ele se encontra principalmente na Arábia Saudita.